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. | Foto: Marco Jacobsen

Numa dessas incursões ao passado fui redescobrindo as belezas da vida, e, uma delas, é a lembrança dos meus amigos velhos, meus velhos amigos. Vou recordando cada um naquela criança que cresceu, naquele jovem que amadureceu, que fez dos seus sonhos, tão parecidos com os meus, uma realidade, às vezes doce, outras dura e difícil. Todos nós sonhávamos com a felicidade, porém, ao longo do caminho percorrido tivemos ganhos e perdas, conhecemos a alegria, mas também demos de cara com a tristeza e a dor. Alguns de nós fracassamos, mas ainda pudemos nos orgulhar de muitas vitórias, nos arrependemos, tanto de certas escolhas, quanto de não termos feito outras...Chegando a essa altura da vida, contabilizamos mais ganhos do que perdas e percebemos que somos vencedores e realizados.

É, meus amigos, chegamos ao tempo que chamam de velhice. Vamos colocando devagar essa camisa. Já podemos contemplar a longa estrada percorrida. Assistimos às nossas próprias histórias e percebemos muitas afinidades nas histórias daqueles a quem quisemos e queremos bem. Quantas afinidades! Quantas coincidências! E quantas providências divinas!

Espectadora de tantas lembranças, percebi que não estou só, faço parte daquele mundo, daquele lugar, daquele tempo e daquelas pessoas que são Meus amigos velhos, meus velhos amigos.

Recordando aqueles garotos e garotas que sorriam por qualquer besteira até ter ataques de riso, que sabiam chorar também, contar piadas boas ou simplesmente ficar numa rodinha jogando conversa fora, inventando coisas para fazer, cantando...Lembrando disso tudo me peguei filosofando!

Que mágica é essa que recebe o nome de amizade? Que tipo de amor é esse que não precisa estar presente e quando se encontra parece que o tempo não passou? Meus amigos velhos, meus velhos amigos, incontáveis amores, sem cobrança, sem exigências, sem nenhuma obrigação, apenas o gostar de gostar e, quando possível, estar juntos. Mais nada.

Recentemente, percebi que não sou mais espectadora de tantas lembranças mas que faço parte daquelas pessoas, daquele mundo, daquele lugar e daquele tempo...tudo porque encontrei-me com velhos amigos que, pensando bem, são meus amigos velhos. Corremos, ao mesmo tempo e felizes, para o abraço apertado... depois outro e outro...lágrimas disfarçadas...Nossa, que saudade! E já começamos a falar atropeladamente, com muito a dizer, um mais que o outro, principalmente as mulheres...Com tanto assunto que até parece que a gente se viu ainda há pouco. Vinte, trinta, quarenta anos, quando menos uns dez... Mas já faz tudo isso?

A gente vai se olhando e se reconhecendo, naquele rosto um pouco mais envelhecido. Nas rugas que marcam os anos, nos óculos que não usávamos, nos cabelos que não eram prateados, mesmo que os mantenhamos atualizados com tinturas. O corpo já não é o mesmo, as roupas um tanto bregas se comparadas com aquelas que usávamos. No meio disso tudo, ignoro um detalhe chamado tempo, que a gente não viu passar. Quando lembramos daquele tempo, já não é o tempo de nossos pais e avós. Hoje o passado somos nós, o presente é a vida que brota da nossa vida e o nosso futuro...

Só pode ser de muita alegria! Alegria de poder levar nas mãos o grande troféu da amizade! Porque envelhecer vale a pena, se soubemos cultivar no coração um montão de amigos!

Estela Maria Frederico Ferreira, leitora da FOLHA