A 70 quilômetros de Londrina, a propriedade da família Mori, na cidade de Cambira, guarda na sua história a paixão pelo café. Tradição que começou lá atrás, quando os primeiros integrantes chegaram do Japão para trabalhar nos cafezais do Noroeste de São Paulo, em Bilac. Depois, partiram para Cianorte e, no final da década de 1970, se instalaram em Cambira, um local mais propício para a produção da cultura. Hoje, a propriedade está sob o comando de Evilásio Shigueaki Mori, que este ano ficou em 5º lugar no concurso Café Qualidade, na categoria cereja descascado.

"Meu pai era um sonhador, fazia muito bem o café tradicional da sua maneira, mas não enxergava um mercado tão especializado". diz Evilásio Mori
"Meu pai era um sonhador, fazia muito bem o café tradicional da sua maneira, mas não enxergava um mercado tão especializado". diz Evilásio Mori | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

O interessante é que o pai de Evilásio, Seiti Mori, jamais desistiu da cultura, mesmo após enfrentar a conhecida Geada Negra, em 1975, e depois outras intempéries climáticas em 1982. Os filhos de Seiti então foram para a cidade estudar. Evilásio voltou para a propriedade em 2012, engenheiro agrônomo formado, e dois anos depois, assumiu de vez os negócios. “Voltei e comecei a trabalhar com os cafés especiais, em que a nossa região tem muito potencial, mas acabou esquecendo os protocolos pós-colheita. Meu pai era um sonhador, fazia muito bem o café tradicional da sua maneira, mas não enxergava um mercado tão especializado. Dei continuidade ao café commodity e também me especializei num café gourmet, mais técnico.”

A propriedade, que no passado chegou a ter 120 mil pés de café, hoje está com 55 mil pés. A ideia de Mori é justamente balancear a produção - reduzindo um pouco o café commodity, que remunera pior - e focar na produção de um produto de maior valor agregado. A produção dele hoje gira em torno de 350 sacas, sendo 30 sacas de café especial. “Hoje faço a venda direta para cafeterias e clientes pela internet, participo de concursos, consigo vender em média o café cru a R$ 1.700 a R$ 1.800 a saca, mas podendo chegar a R$ 3 mil. Faço do plantio à torrefação, vou vendendo gradativamente. Em alguns eventos, chego a vender a xícara do meu café.”

Para Mori, da implantação dos tratos culturais e o manejo de forma geral, todos já conhecem os processos. O grande desafio começa na colheita e segue na pós-colheita. “O café precisa ser visto como um alimento, o cuidado começa aí, tem que estar limpo, bem classificado, se não dificilmente terá um produto bom. Café gourmet tem que colher vermelho igual uma fruta, ver o grau brix (doçura), porque essa qualidade vai passar automaticamente para a semente. Se não colher e secar direito, fazer a armazenagem e torra correta, não terá um produto de qualidade.”

Nas últimas safras não tem sido fácil fazer a colheita seletiva devido às floradas irregulares. Mori relata então que se a colheita não é uniforme, é necessário ir separando esse café, algo que exige mudança de hábito do produtor. Outro ponto é secar de maneira natural sem ação externa que pode danificá-lo. “A gente tem que se reinventar: ou mecaniza (o processo) para ter maior quantidade e ganhar no volume, ou diminui (a produção) e se especializa no café especial. Mas eu acredito que é possível achar um meio termo nisso, é questão de estudar.” (V.L.)