O custo de produção do quilo de suíno vivo alcançou em 2022 o maior valor já registrado pela Embrapa, atingindo R$ 8,07 em dezembro. Nos últimos 12 meses, a alta registrada foi de 15,33%.

Jacir José Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, aponta diversas altas que impactaram nos custos por parte dos criadores – alimentação dos suínos, materiais de construção e gastos com mão de obra.

“Insumos para alimentação, como milho e soja, e produtos para composição da ração continuaram a subir em 2022. Além disso, todo material de construção e de manutenção das granjas subiu fora do normal, como o ferro, por exemplo. Outro agravante foi o aumento do custo da mão de obra para suinocultura, e isso impactou especialmente no ano passado”, lista.

No Paraná, o custo de produção em 2022 também ficou em torno da média apontada pela Embrapa. “Em algumas regiões do Estado ficou em mais de R$ 8, em outras um pouco menos. E acho que dificilmente teremos, de agora em diante, um valor mais baixo que esse”, projeta.

Além da alta expressiva dos custos de produção, o presidente da entidade aponta como mais um desafio a questão da sanidade e da biossegurança do rebanho suíno. “Esses aspectos também impactam bastante no custo de produção”, completa.

Sobre a falta de mão de obra, Dariva lembra que a suinocultura é uma das atividades agropecuárias que não para, rodando 30 dias por mês e 365 dias por ano. “Isso demanda uma dedicação diária, aos sábados, domingos e feriados, e as pessoas estão resistentes a trabalhar nesses dias”, detalha.

Dariva destaca que, pelos motivos expostos acima, há urgência na viabilização da suinocultura.

“Precisaríamos ter ajuste na questão de preços ao produtor, já que ele está produzindo e se endividando. O governo possivelmente não vai interferir nessa questão, então uma das alternativas seria o aumento de consumo da carne suína no Brasil. As exportações vão bem, mas aqui temos uma boa demanda em potencial para conseguir viabilizar o nosso negócio”, conclui.

Relatório da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) mostra que o consumo de carne suína do Brasil foi de 16,7 kg por habitante em 2021. O consumo da carne de frango, por sua vez, ficou em 45,5 kg per capita nesse mesmo ano – quase três vezes maior em comparação à carne de porco.

MUDOU DE PATAMAR

O criador de suínos Rainer Mathias Leh atua nos municípios de Guarapuava e Pinhão, no Paraná. Ele reforça que o custo de produção, com a reacomodação dos preços das commodities agrícolas e industriais, mudou de patamar. “Neste sentido, o custo em 2022 foi o mais alto que já registramos na atividade.”

A família dele cria suínos desde a década de 1970, mas foi no início dos anos 1990 que a produção foi intensificada e atingiu maiores escalas. Por ano, o volume produzido gira em torno de 10 mil toneladas de suínos, entre carne e material genético, provenientes de um plantel de matrizes composto por cerca de 3 mil cabeças.

A produção é comercializada para diversos frigoríficos do Sul do Estado, incluindo da região de Londrina.

Rainer reforça que o mercado segue desafiador, visto que o setor vem enfrentando mares ruins e acumulando prejuízos desde o final de 2021.

“Apesar de estarmos todos [suinocultores] exaustos com o péssimo momento que parece não ter fim, a minha leitura é que o mercado continue indigesto para o produtor até o segundo semestre deste ano. A oferta global de carne ainda está muito elevada e a demanda não reagiu ainda aos níveis pré-pandemia”, pontuou.

O criador acrescenta que os últimos dois anos não têm sido nada lucrativos. “Pelo contrário. Chegamos a suportar margens negativas de 35% nesse período. No momento estamos com uma margem negativa de 5% aproximadamente. Hoje o grande desafio é comercial e econômico. A propriedade está em xeque e como está hoje não faz sentido permanecer.”

TÍMIDO

O criador reforça que, apesar de termos conquistado um aumento de consumo de carne suína per capita, esse consumo ainda é muito tímido quando comparado a outros países que são tradicionais produtores e consumidores.

“Com a constante sobreoferta interna somos, obviamente, dependentes do mercado de exportação, que ainda depende muito de políticas de Estado para acelerar as vendas externas. A carne suína brasileira, em dólar, é a mais barata disponível no mundo, mas não consegue ser comprada.”

Segundo a Associação Paranaense de Suinocultores, o Paraná conta hoje com cerca de 5.600 produtores que trabalham para a indústria do setor. Há também os produtores de fundo de quintal, sendo que a criação de suínos é só uma das atividades da propriedade – não há estatísticas relativas a esses criadores.

RIQUEZAS

Levantamento feito pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento), mostra que a criação de suínos para corte foi a 5ª atividade agropecuária que mais produziu riquezas dentro da porteira no Paraná em 2021.

O estudo aponta que o VBP (Valor Bruto da Produção) da suinocultura atingiu R$ 7,9 bilhões em 2021, representando 4,39% do VBP total no Estado.

No topo do ranking figuram soja (R$ 50,9 bilhões e 28,2% de participação); frango de corte (R$ 32,5 bi e 18,03% de participação); leite (R$ 9 bi e 5,03% de participação) e milho 2ª safra (R$ 8,7 bi e 4,84% de participação).