O trigo-mourisco, ou sarraceno, foi a  novidade do Iapar; o grão permite  produzir uma farinha sem glúten
O trigo-mourisco, ou sarraceno, foi a  novidade do Iapar; o grão permite produzir uma farinha sem glúten



E nem só as culturas e variedades mais badaladas do mercado deram as caras no Show Rural. Em meio a tantos híbridos de milho, soja e alguns de trigo, é possível encontrar, digamos, certas "cultivares de nicho" que, se trabalhadas de forma estratégica, podem trazer excelente rentabilidade para os produtores, sem dificuldades extras de manejo.

O Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) levou até a feira duas alternativas que chamaram a atenção de quem passava pelo parque. Em meio a um mar de espigas amarelas por todos os lados, lá estava o IPR 127, um milho branco, desenvolvido para produtores interessados no mercado de canjica, fubá, amido e farinha, com muitas indústrias alocadas no Sul do Estado. Indicada para o cultivo tanto na primeira como na segunda safra, a cultivar de ciclo precoce tem boa tolerância ao acamamento e ao quebrantamento. Os grão são do tipo duro, os preferidos desse segmento, e muito valorizados pelo alto rendimento na indústria.

O pesquisador da área de melhoramento e genética vegetal do Iapar, Deoclécio Garbuglio, salienta que o manejo do IPR 127 não diferencia em nada do milho amarelo, com os mesmos tratos culturais e produtividade. "O cuidado está no isolamento da cultura, pois qualquer pólen de milho amarelo que toque as espiguetas do branco vai desenvolver milho amarelo ali. É necessário portanto pelo menos 300 metros de distância das cultivares tradicionais, de preferência que não tenha nada em volta."

Em relação à rentabilidade, é interessante dizer que atualmente a saca do milho branco está em média R$ 60, contra pouco mais de R$ 20 do amarelo. Garbuglio explica, por outro lado, a semente do amarelo custa em torno de R$ 700, enquanto do branco, R$ 350. Mas é necessário um alerta: o produtor precisa ser estratégico na comercialização, mapeando com antecedência os possíveis compradores. "A grande questão dele é a venda. Muitas vezes o pessoal planta o milho amarelo e só depois se preocupa com a venda. No caso do branco, primeiro o produtor precisa buscar a empresa que vai adquirir esse milho e acertar uma pré-venda", orienta.

Outro cultivo que saltou aos olhos dos visitantes na feira, pela sua peculiaridade, foi o trigo-mourisco, ou sarraceno, com as cultivares IPR 91 e IPR 92 atuando no Sul e Centro-Oeste paranaense. O pesquisador Ronaldo Hissayuki Hojo destaca que ele é uma alternativa para a diversificação de culturas, melhorar o faturamento da safra e uma nova família para a rotação da área para não causar aquela sequência indesejável e comum de pragas e doenças. "Com o crescimento rápido, o sarraceno faz a supressão das plantas daninhas, além de fornecer nutrientes para as culturas sucessoras."

Hojo explica que a máxima capacidade produtiva dele acontece no verão, mas pode ser plantado inclusive após a colheita da soja, já que possui um ciclo rápido - menos de 90 dias - além do baixo custo. "No momento, inclusive, não há ataques de pragas e doenças para a cultura. Além disso, a partir do grão é possível produzir uma farinha sem glúten, trabalhando num nicho de mercado para os celíacos. É preciso portanto, fazer contratos fechados com as indústrias do segmento."

Já o milho branco foi desenvolvido para produtores interessados no mercado de canjica, fubá, amido e farinha
Já o milho branco foi desenvolvido para produtores interessados no mercado de canjica, fubá, amido e farinha



Um escudo contra a ferrugem


Um "escudo" contra a ferrugem asiática, retardando o avanço da doença no campo. Assim funciona a Tecnologia Shield, selo lançado pela Embrapa que identifica as cultivares da instituição que apresentam genes específicos de resistência para combater este mal que traz tanta dor de cabeça aos produtores. No Show Rural, a soja convencional BRS 511 foi lançada sendo a primeira receber a tecnologia, que também estará nas cultivares de soja transgênica (RR e Intacta) da empresa.

A ideia da inovação é segurar ao máximo o avanço da ferrugem em campo, gerando uma estabilidade produtiva quando as condições climáticas forem ruins para a aplicação de fungicidas, por exemplo. Vale dizer que são consideradas cultivares resistentes à doença aquelas que apresentam lesões marrom-avermelhadas nas folhas, o que significa uma redução na multiplicação do fungo, protelando a evolução na lavoura e facilitando o manejo nesse meio tempo.

O analista da Embrapa, Rogério de Sá Borges, relata que o trabalho de melhoramento genético é fundamental para desenvolver genes de resistência à ferrugem. "Isso proporciona ao agricultor uma segurança muito maior para o manejo da doença. É claro que os outros cuidados continuam, mas se você tiver a doença no campo, ela vai se desenvolver mais lentamente e assim dar uma margem de tempo para se trabalhar, já que ela é muito agressiva."

Por fim, Borges acredita que o produtor está consciente do tamanho do problema da ferrugem asiática, pensando inclusive que os defensivos estão cada vez mais ineficientes. "Ele sabe que não se trata de um tratamento barato e está sempre preocupado com seu custo. Por isso, procura todas as ferramentas possíveis para reduzi-los e ter melhores índices de produtividade."

Terceira geração de transgênicos

Se existe uma empresa que transforma todo o cenário técnico e comercial de soja quando lança uma nova tecnologia ao produtor, sem dúvida, é a Monsanto. E a gigante do setor escolheu o Show Rural 2018 para divulgar oficialmente sua terceira geração de transgênicos, a Intacta2 Xtend, após todo o rebuliço que já gerou lá atrás com a RR, em 2003, e a Intacta, em 2016.

A expectativa é que a nova biotecnologia seja aprovada pelos órgãos reguladores do País agora em abril. No cronograma, a experiência em 500 campos demonstrativos monitorados será a partir de outubro de 2019, onde os produtores de diversas regiões – inclusive do Paraná – vão plantar nas condições específicas de cada propriedade.

A comercialização da nova soja começa a partir de 2020, por meio de parceiros obtentores de tecnologia, como Embrapa, DonMario, TMG, Brasmax, entre outros. "O agricultor não se baseia no panfleto, ele quer saber como (a tecnologia) vai se comportar na realidade e área dele. Por isso a importância desse trabalho nos campos demonstrativos", ressalta Vinícius Faião, líder de negócio de soja da marca no Brasil.

Em 1998, ainda quando a soja convencional ainda ditava o mercado, o Brasil produziu 30,7 milhões de toneladas da oleaginosa. Em 2003, ano da RR e toda a novidade dos transgênicos, o salto foi para 86 milhões toneladas. Com a Intacta, em 2016, o patamar atingiu 114 milhões de toneladas na safra nacional. Atualmente, são 170 mil produtores brasileiros utilizando a tecnologia da Monsanto, segundo a empresa.

Se em 2016, a Intacta chegou bem no momento que a Helicoverpa causava muita dor de cabeça ao sojicultores, o desafio é antever quais pragas e doenças estão por vir no momento que a tecnologia chegar. Fábio Passos, gerente de lançamento da empresa, salienta que um grande desafio daqui para frente continua sendo as lagartas, mas agora do gênero Spodoptera. "Para ampliar a proteção contra as lagartas da soja, acrescentamos duas proteínas que atuarão nesse combate."

Outro diferencial da nova tecnologia é um gene que faz com que a soja seja tolerante ao herbicida dicamba - além do glifosato, claro. Com isso, será possível a aplicação do herbicida no pré-plantio e na pós-emergência da cultura, gerando assim um novo mecanismo de ação para o manejo de resistência de plantas daninhas, com destaque para as de folhas largas, principalmente buva, caruru, corda-de-viola e picão-preto. "Aplicar o herbicida dentro da cultura da soja (pós-emergência) é a grande novidade". A expectativa com a nova tecnologia é um salto de produtividade de seis sacas por hectare, um valor médio que aconteceu da RR para a Intacta. Entretanto, isso só poderá ser comprovado quando tiver soja em campo.(V.L.)