Estimativa do Sistema Faep/Senar aponta que suinocultores independentes vêm deixando a atividade em território paranaense. No início de 2022, a atividade era composta por 35% de produtores que não eram integrados nem faziam parte de cooperativas; hoje, essa fatia encolheu para 20%.

Os levantamentos dos custos de produção, realizados semestralmente pela entidade junto aos polos produtivos do Estado, mostram que a produção independente de suínos entrou no vermelho a partir do início de 2021 e permaneceu no prejuízo por quase dois anos. O setor só voltou a ter um respiro no fim de 2022, mas que não foi suficiente para que muitos produtores se mantivessem na atividade.

Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, explica que a valorização do dólar provocou o aumento dos preços das commodities como milho e soja, impulsionando os custos de produção. “Hoje, entre 80% e 85% da ração tem como base esses dois grãos. Isso impactou muito no custo produtivo”, analisa.

Para o pequeno produtor, como a criação é menor, o poder de barganha fica comprometido porque falta escala. “Além disso, geralmente o animal é vendido como carcaça, sem agregar valor, o que dificulta a comercialização.”

A técnica destaca que o custo de produção de suínos está diminuindo hoje por conta da desvalorização do dólar. “Por outro lado, o custo de venda do suíno não suporta a atividade. Houve uma melhora, mas o produtor independente não consegue ter lucro no momento.”

Diante desse quadro, produtores antes independentes que pretenderam seguir na atividade se integraram em cooperativas ou em agroindústrias. “Em geral o independente tem um produto muito barato, sem agregar valor. A saída seria a produção de embutidos e cortes diferenciados. Quando está integrado, o poder de barganha tem escala para compra de insumos e venda do produto, além de agregar valor”, conclui. O Paraná conta hoje com 6 mil propriedades que comercializam suínos.

ABANDONO

Muitos dos suinocultores independentes que deixaram a atividade tinham uma vida de dedicação ao setor. Um desses produtores – que pediu para não ser identificado – atuou por 47 anos na produção de suínos.

Ele não suportou, no entanto, a crise prolongada. No início deste ano, vendeu a propriedade, com recebimento parcelado em seis anos. Ele lamenta a falta de articulação e organização da cadeia produtiva. “Meu prejuízo foi grande. Eu prefiro nem falar muito, porque se eu falar, muita gente não vai gostar de ouvir”, sintetiza.

A FOLHA tentou ainda ouvir outros dois suinocultores independentes que abandonaram a atividade, mas ambos se negaram a dar entrevista. Um deles ainda fez um desabafo: “A atividade vai de mal a pior, então resolvemos sair dela, não tenho muito para falar.”

RELEVÂNCIA

Dados preliminares divulgados recentemente pela Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento) apontam que o VBP (Valor Bruto da Produção) da suinocultura de corte totalizou R$ 8,3 bilhões em 2022 no Paraná, o que representou 4,3% do VBP do Estado.

Entre os produtos agropecuários, a suinocultura de corte ficou atrás apenas da soja 1ª safra (R$ 35,3 bilhões), frango de corte (R$ 32,5 bilhões), milho 2ª safra (R$ 16,1 bilhões) e leite (R$ 11,4 bilhões) no ano passado.

A suinocultura é uma das atividades agropecuárias mais disseminadas entre os municípios paranaenses. Dos 399 municípios, 376 (mais de 94%) apresentaram alguma atividade relativa a suínos em 2022.

“Hoje a suinocultura é uma das principais atividades da agropecuária paranaense, tendo forte importância na região oeste e no estado como um todo. Junto a isso, contribui com a balança comercial paranaense, pois ano a ano as exportações de carne suína apresentam retorno positivo”, destaca Edmar Gervásio, analista do Deral.

DESAFIOS

O analista lembra que a suinocultura é hoje uma atividade essencialmente integrada no Paraná.

“A suinocultura independente vai perdendo espaço, como aconteceu com a atividade de frango de corte. A sinergia e a estabilidade de remuneração são os grandes benefícios do sistema integrado. Hoje, como para outras atividades da agropecuária, os maiores desafios estão da porteira para fora, como problemas logísticos, por exemplo”, conclui. (Com informações da Faep)