A China está com mais de 28 mil casos confirmados de pessoas contaminadas pelo coronavírus, e mais de 600 pessoas morreram por complicações decorrentes dessa doença. Um boletim informativo que cobre a indústria química agrícola chinesa, o AgroPages, pesquisou as 100 principais empresas químicas agrícolas da China, aquelas que produzem uma ampla gama de materiais, como glifosato, glufosinato e outros produtos.

Segundo a publicação, a maioria das empresas agroquímicas chinesas parou de trabalhar por cerca de duas semanas, porque o governo da China estendeu o feriado de uma semana do Festival da Primavera, que está relacionado às comemorações do Ano Novo Chinês (25 de janeiro segundo o calendário gregoriano), em medida contra a disseminação do coronavírus. O governo exigiu que empresas e fábricas em todo o país retardassem a retomada do trabalho.

As empresas em atividade, por sua vez, alertaram que pode haver uma escassez de matérias-primas agora, logo após o feriado, em função da logística enfraquecida e devido ao controle de tráfego em função do coronavírus, mas algumas delas relataram que as fábricas costumam reservar um estoque de 40 dias de matérias-primas, o que possibilita que a produção a curto prazo não seja afetada.

O diretor financeiro do grupo Belagrícola, Alberto Araújo, tem conversado com colaboradores do grupo sediado em Xangai, na China, para analisar a situação. “Para o nosso setor, o retorno ao trabalho ocorreu com 10 a 15 dias de atraso. Esse é o período que pode atrasar a produção, mas não parece que seja um grande impacto. Para ser honesto, nada mudou até o momento. Nosso time tem trabalhado normalmente. Alguns têm feito home office (trabalhando em casa)”, destaca. Segundo ele, os produtos voltados à agricultura são embarcados ao Brasil com bastante antecedência, o que garante que não atrapalhe o calendário dos produtores. “Para o nosso setor, esse cenário não é preocupante. Os fornecedores estão com o cronograma mantido”, relata.

O pesquisador da Embrapa Soja, Amélio Dall'Agnol, ressalta que o coronavírus pode afetar o preço da soja não pela quantidade de pessoas que pode matar, mas pelo fato da economia chinesa poder cair até 5% em função da doença. “Se isso ocorrer a renda per capita do chinês pode cair significativamente. Pode haver impacto pela redução da capacidade de gastar do povo chinês em função da queda da economia do País. A China chegou a registrar um crescimento do PIB em torno de 10% ao ano, no entanto, mais recentemente de 6 a 7% ao ano. Se cair 5% o PIB chinês ficará próximo ao do Brasil, em torno de 1% ao ano”, destaca.

A China é o maior comprador de soja do Brasil (em torno de 70 milhões de toneladas) e a reportagem perguntou a Dall’Agnol se o fato das pessoas não se movimentarem pelas ruas e permanecerem em suas casas em função do coronavírus poderia reduzir ainda mais o consumo de soja. O pesquisador não acredita nisso. “Pode afetar restaurantes, mas se a pessoa não come em restaurante consome em casa. Por esse lado não vejo efeitos sobre o consumo e sobre as compras de carne e soja, que são os dois produtos que os chineses mais adquirem da gente”, destaca.

Sobre o impacto na exportação de insumos agrícolas para o Brasil, o pesquisador aponta que o coronavírus pode afetar um pouco a entrega de insumos no Brasil, como os fertilizantes e agrotóxicos. "Mas não me parece que esse atraso possa ser significativo", aponta.