"Minha vida foi construída aqui e minha intenção é continuar na propriedade, tornando-a cada cada vez mais rentável", resume Ligia Mara Jung
"Minha vida foi construída aqui e minha intenção é continuar na propriedade, tornando-a cada cada vez mais rentável", resume Ligia Mara Jung | Foto: Ricardo Maia/Assessoria Integrada


O agronegócio parananense ao longo das últimas décadas viu espalhar por todas as regiões muitos casos bem-sucedidos. Um know-how conquistado com muito esforço, trabalho, que fez o Estado se tornar referência na produção de commodities e embarcar no mercado externo, quando teve oportunidade para isso. E se uma "andorinha só não faz verão" - num Estado que predomina produtores de pequeno e médio porte – o sistema cooperativista caiu como uma luva para que o agro regional alçasse voos tão altos. Um case sólido para todo o País.

O cooperativismo – seja ele no agro, de crédito ou outros setores – está intimamente ligado à história do Paraná. Impacto em todas as regiões, o que faz do Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado no primeiro sábado deste mês (7), uma data significativa. Nesta edição da FOLHA Rural, vamos além dos números impactantes do sistema, e mostramos como essa forma de trabalhar transformou a vida de pessoas, gente real que faz parte desse meio. Mais do que a força econômica, esta edição apresenta histórias intimamente ligadas ao que as cooperativas do agronegócio representam.

Os últimos dez anos do cooperativismo estadual mostram a pujança do setor. É bem verdade que no biênio 2016/17 foi mais difícil de crescer, mas entre 2008 e 2017 o faturamento teve um salto de R$ 25,8 bilhões para R$ 70,3 bilhões, em todos os setores. As exportações saltaram R$ 1,44 bilhão para R$ 2,6 bilhões. A participação no PIB agropecuário saltou de 54% para 58%. Valores incontestáveis.

Para chegar até aqui, as cooperativas (as primeiras do agro têm em torno de 90 anos no Estado), trilharam um caminho complexo, mas souberam se reinventar e aproveitar as oportunidades. A paridade do real com o dólar na década de 1990 gerou pedras enormes a serem superadas. Mas no início do ano 2000, a reorganização do setor encabeçada por um programa da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), apoiada pelo governo estadual, surfou numa conjuntura econômica importante. "Com o surgimento da China como um grande demandador de commodities, o cooperativismo soube aproveitar essa oportunidade que ocorreu no mercado internacional. Na última década, teve crescimento acima de 10% ao ano", pontua o professor do departamento de Economia Rural e Extensão e coordenador do Centro de Economia Aplicada da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Gilson Martins.

Além disso, Martins destaca o olhar atento do cooperativismo à profissionalização, com o surgimento do Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) e um planejamento extremamente estruturado. "E o mais importante de tudo isso foi a questão do investimento na agroindústria. Hoje, 50% do que se comercializa nas cooperativas já tem algum tipo de beneficiamento ou agregação de valor."

O relacionamento entre cooperado e cooperativa também é feito de uma forma única, fundamental para os resultados. "A cooperativa tem a missão primordial de atender à necessidade do cooperado, em contrapartida ele tem a responsabilidade de ajudar a manter o negócio, seja com investimentos com os capitais da sobra, seja na participação nas decisões da cooperativa."

DESAFIOS

Por fim, em relação aos desafios, o professor cita dois bem importantes: um interno e outro externo. Olhando para dentro da caixa, existe a necessidade cada vez mais constante de se atualizar. "Precisamos olhar para a indústria 4.0 e novas formas de geração de energia, uma atualização pensando na revolução digital, incorporar tecnologias e até na forma de interagir com os cooperados."

Quando o olhar é para fora do sistema, o gargalo é bem conhecido: a logística. "Temos uma dependência do ramal rodoviário, 66% da nossa logística é feito nessa via e a greve dos caminhoneiros mostrou isso. Vivemos um dilema em relação à questão orçamentária, já que os investimentos requerem muitos recursos."