“Na natureza nada se cria, nada se perde. Tudo se transforma”. Uma das citações mais ilustres do cientista francês Antoine Lavoisier tem mais amplitude do que se imagina. Em tempos em que a consciência ambiental ganha cada vez mais destaque, a preocupação em reaproveitar resíduos oriundos da atividade antrópica é crucial.

Segundo dados do Banco Mundial, uma pessoa pode gerar de 0,11 kg até 4,5 kg de resíduo por dia. Em uma alarmante projeção, a estimativa de produção mundial de resíduos é de 3,4 bilhões de toneladas até 2050, mais que o dobro do crescimento populacional para o período.

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública notou que, em 2018, geraram-se 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos, com grande parte enviada a aterros sanitários. Porém, é sabido que até 60% deste material compreende resíduos orgânicos passíveis de reutilização.

A compostagem compreende o processo de reciclagem biológica de resíduos orgânicos, objetivando o uso em práticas de horticultura e afins, o que representa uma alternativa ambientalmente sustentável e economicamente atrativa.

O processo baseia-se na degradação e transformação do material devidamente separado, em condições de temperatura e umidade adequadas, até a obtenção de um produto – composto orgânico – livre de patógenos, com alto teor nutritivo para plantas e enriquecimento de solo. O acondicionamento dos materiais deve ser feito conforme a disponibilidade espacial onde se conduzirá a compostagem, sendo crucial que a composteira seja protegida de intempéries e tenha uma boa circulação de ar.

A proporção entre carbono e nitrogênio, o acompanhamento da temperatura, umidade e periodicidade de revolvimento da pilha de compostagem são considerados fatores importantes para a condução do processo. Se houver excesso de materiais ricos em carbono (folhas, podas de árvores, capim, palhas, serragens), haverá diminuição de umidade e o processo será mais lento. O excesso de nitrogênio (restos de alimentos, borras de café, grama), leva à emissão de maus odores.

A umidade é acompanhada pelo aspecto visual, sendo controlada pela inserção de materiais mais secos, quando necessário, ou irrigação no momento do revolvimento, caso a pilha esteja seca. Quanto à temperatura, o processo tem duas fases: a primeira, de curta duração, cujas temperaturas ultrapassam 45 oC e há intensa atividade microbiológica e a segunda, em que há baixa variação, compreendendo o período de maturação do composto, logo, com maior duração.

A conclusão do processo geralmente leva até quatro meses, de acordo com a quantidade de material e a manutenção da composteira, e é verificada pela redução do volume inicial e a obtenção do composto seco, de aspecto escuro e odor semelhante à terra, e que não apresenta variações de temperatura quando revolvido em sua pilha. Assim, a compostagem representa uma ferramenta simples para reutilização de resíduos orgânicos, além de conter uma mensagem cheia de significado ambiental e cultural.

Bruno Henrique Martins, docente dos cursos de Química e Agronomia da Unopar Piza, doutor em química analítica inorgânica pela USP, especialista em matéria orgânica do solo.