A compostagem é uma ótima alternativa para o descarte da matéria orgânica, ao invés da lixeira, diminuindo a quantidade de resíduos enviados aos aterros. É um processo biológico de decomposição e reciclagem de matérias orgânicas não cozidas, como frutas, verduras e fezes de animais herbívoros. “Compostagem é você explorar diferentes resíduos orgânicos e conseguir degradá-los, decompondo-os até que eles virem um fertilizante para o solo”, explica Efraim Rodrigues, professor de agronomia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e mestre em ecologia pela USP (Universidade de São Paulo). No final do processo, você gera adubo e chorume, nesse caso nada tóxico, pelo contrário, muito rico em nutrientes que pode ser usado para borrifar nas folhas ou para aguar as plantas, mas para isso, deve ser dissolvido em uma medida de 1 para 10 de água.

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| Foto: Gustavo Carneiro

“Reduz bastante a quantidade de lixo”. Esse é o primeiro impacto percebido por Selma Adriana Galbero, que faz compostagem em casa há cerca de dez anos. Ela aprendeu a montar a composteira com uma amiga, e aproveita o adubo produzido para utilizar em sua horta, onde cultiva verduras para consumo próprio. Existem dois tipos de compostagem, com e sem minhocas. A vermicompostagem utiliza minhocas para transformação dos resíduos em humus, é um método mais rápido e, por isso, utilizado por Galbero, uma vez que o adubo e o chorume ficam mais nutritivos. A compostagem seca tem o mesmo princípio, mas como não utiliza as minhocas, o processo é mais lento.

Uma composteira é fácil de se fazer e ocupa pouco espaço, com três caixas de plástico empilhadas e terra você tem sua própria composteira, um metro e vinte de altura é mais do que suficiente, por isso é fácil de ter dentro de casas e apartamentos. “Não leva nem uma hora para montar. E durante a semana, a única coisa que temos que fazer é recolher o material que vai pra composteira, e normalmente fazemos isso no horário do almoço, quando acumula mais lixo orgânico”, conta o agrônomo Urias Piovan Costa, que adotou a técnica da compostagem com a ideia de Selma Galbero. “O tempo de manutenção é pequeno, em 10 minutos coloca na caixa e cobre com matéria seca”, completa Costa sobre a simplicidade de se manter uma composteira em casa.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Outro impacto sentido tanto pela Selma quanto pelo Urias foi no bolso. Economicamente falando, a compostagem também é uma maneira viável de economizar dinheiro. Ao invés de comprar o adubo para o cultivo, ele pode ser produzido em casa, sem custo nenhum. Essa também é uma ótima vantagem para os pequenos produtores de orgânicos, que precisariam de uma quantidade maior de adubo comparado com quem produz para consumo próprio, uma vez que cultivam em maior escala para a venda desses orgânicos.

É possível usar a compostagem em grande escala também. No Brasil, o agronegócio ainda não explora de fato essa tecnologia, contudo, no exterior, ela está sendo usada como forma de energia limpa. É o caso da Dinamarca, o país é considerado um dos que mais investe em energia verde do mundo e está aumentando cada vez mais o consumo de biogás, que é produzido por biodigestores, e esses nada mais são do que composteiras industriais. Os biodigestores utilizam tecnologias simples, que possibilita transformar os estercos de animais e os resíduos orgânicos em biofertilizantes para serem usados nas plantações, e na produção de biogás, utilizado como fonte de energia. Além de diminuir a quantidade de dejetos gerados pelas propriedades.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Um exemplo mais próximo de nós é a UEL, que em dezembro de 2020 inaugurou a unidade geradora de energia elétrica a biogás, produzida em biodigestores. A usina está instalada na Fazenda Escola (FAZESC), no Campus Universitário e utiliza fezes dos porcos e, futuramente, os restos de orgânicos do restaurante universitário. Dentro da universidade, a usina tem a finalidade de produzir energia em escala real, mas com foco em pesquisa de novas tecnologias. O funcionamento ocorre da seguinte maneira: os resíduos chegam em um depósito, onde são triturados, caem em uma caixa e logo em seguida são bombeados para um reator. A mistura é mantida em temperatura de 35º, para então bombear o gás para um gerador, onde é transformado em energia elétrica. O uso desta fonte energética ajuda na diminuição dos índices de gás carbônico (CO2) e contribui para propagação da sustentabilidade.

Compostagem x Reciclagem

Quando se pensa em redução de lixo, logo vem à cabeça a reciclagem. Assim como a compostagem, essa técnica possui o papel de transformar o resido sólido que seria descartado em um novo produto para ser reutilizado, diminuindo, assim, a quantidade de lixo. Porém, muitos se confundem ao pensar que uma técnica pode compensar a outra. “Já ouvi várias pessoas dizerem que não precisa compostar porque já recicla. A reciclagem e compostagem são irmãs, elas se ajudam, não é como se uma suprisse a outra”, explica o professor Rodrigues. Ao dizer que elas se ajudam, é levado em consideração o fato de que se o material reciclável entrar em contato com um resíduo orgânico, ele se contamina, tornando esse processo mais difícil e mais caro. Se o resíduo orgânico for corretamente e ecologicamente descartado, como no caso da compostagem, ele facilita o processo de reciclagem. O professor ainda faz uma analogia para explicar: “se você tem por exemplo um caderno, em que esse material pode ser reciclado, ele tem valor, mas se esse caderno estiver sujo com óleo, com alguma comida, algum material orgânico, o valor cai, e aí já não é mais tão interessante para quem recicla”. Por isso, “a compostagem melhora o valor e estimula a reciclagem”.

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| Foto: Folha Arte

LIXO

Em uma relação de dez anos para cá, o Brasil aumentou a sua produção de lixo em 18,6%. Segundo os dados divulgados no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), o país gerou 66,69 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2010, em comparação com 79,06 milhões de toneladas em 2019. Há de se considerar que a proporção do número de habitantes também aumentou em uma década, mas, ao analisar a proporção de resíduos sólidos por pessoa, esse número foi de 348,3 kg por habitante ao ano em 2010, para 379,2 kg por habitante ao ano em 2019. Por isso, mesmo que se tenha aumentado a população do país, e proporcionalmente, também, o aumento do lixo, ainda assim se produz mais resíduos sólidos por habitante do que comparado com a geração da década passada.

Toda essa quantidade de lixo é coletada e descartada, mas nem sempre nos lugares corretos. Ainda segundo a pesquisa da Abrelpe, 40,5% do lixo produzido no Brasil em 2019 foi descartado incorretamente - traduzindo a porcentagem em números, 29,5 milhões de toneladas de resíduos foram jogados em aterros controlados ou lixões. Essa forma de descarte é prejudicial ao meio ambiente, já que o chorume, um líquido, nesse caso, tóxico derivado da decomposição dos resíduos amontoados nesses locais, acaba se infiltrando e contaminando o solo, impedindo o seu uso no futuro. Além disso, esse lixo também libera gases tóxicos que poluem o ar.

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