O produtor Silvio Nakamura busca financiamento para voltar a produzir frutas,  apostando na pitaya e na goiaba
O produtor Silvio Nakamura busca financiamento para voltar a produzir frutas, apostando na pitaya e na goiaba | Foto: Marcos Zanutto

Não há dúvidas que um dos grandes gargalos na fruticultura paranaense está ligado à comercialização. No mesmo ritmo que o produtor aumenta os volumes de produção, ele precisa estar focado em atrelar a safra ao comprador final. Algo que não é tão simples e depende de boa organização e, em alguns casos, da união entre eles para escoar a colheita de forma eficiente.

Na região Norte do Estado, no caso de duas culturas que a Emater atende de forma mais intensa - maracujá e laranja, por exemplo - os produtores estão vinculados a cooperativas que garantem a compra. Neste caso, a relação funciona bem e é o que deve acontecer na nova indústria que será inaugurada em Santo Antônio do Paraíso.

Eliane Aparecida Marson é gerente regional da Emater de Cornélio Procópio. São 23 municípios - como Sapopema, São Jerônimo da Serra, Jataizinho, Sertaneja, Andirá, Santa Mariana, entre outros - com potencial interessante de frutas, inclusive para atender a Villa Puree, que capta parceiros num raio de até 150 quilômetros da planta industrial. Ela relembra que a região já foi muito forte na banana, mas agora o foco é nos citrus e maracujá. “Estamos três anos trabalhando com grupo de 60 a 70 produtores, com atendimento, visitas e reuniões de grupos”, explica ela.

LARANJA E MARACUJÁ

O trabalho funciona para ambas as culturas porque o produtor tem certeza da comercialização. Muitos são cooperados da Integrada, que tem uma fábrica de sucos em Uraí, e iniciaram o trabalho por conta da indústria. São aproximadamente 100 produtores e na safra atual, que segue até março, a expectativa é receber 2,3 milhões de caixas de laranja.

Outros fornecem para a cooperativa Nova Citrus, em Nova América da Colina, com foco na laranja de mesa e no maracujá. “Se não há essa amarração da produção com o mercado, começa a ficar complicado. Na cooperativa Nova Citrus, por exemplo, não há agroindustrialização, mas uma ponte para a comercialização e a certeza de venda."

A gerente relata que o interesse dos produtores em relação à Villa Puree realmente foi grande - e de todos os perfis. Ela disse que a regional tem participado da articulação, da organização dos produtores dos municípios que estão realmente interessados. Outros, segundo ela, preferem esperar a fábrica entrar realmente em funcionamento. “A procura é grande e vejo que pode mudar um cenário que temos, transformar a área de frutas (para outro patamar).”

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. | Foto: Divulgação

Outro ponto importante, segundo Marson, é a assistência técnica que fica sob responsabilidade da empresa. Hoje, a extensão rural pública não tem capacidade para atender os produtores do Estado com eficiência necessária, ainda mais num trabalho tão tecnificado como o caso das frutas. “A fruticultura exige um nível tecnológico bem mais alto, e é preciso pessoal para qualificar os produtores. Outro ponto é o alto investimento, o produtor precisa estar capitalizado, buscar financiamento.”

RETORNO À ATIVIDADE

Na região de Santo Antônio do Paraíso, existem produtores com expertise em frutas mas que acabaram deixando a atividade no passado. No distrito de São Judas Tadeu, quase dividindo o terreno com a nova fábrica de processamento de frutas, reside Silvio Nakamura.

O produtor, terceira geração da família a tocar a propriedade de 45 alqueires, é engenheiro agrônomo formado e está no comando da área desde 1985. Ele conta que já trabalhou com algodão, alho e também com o pêssego, em torno de dez anos. Ele relembra as dificuldades que teve com a fruta. “Tivemos um problema de granizo e as plantas não se recuperaram. A comercialização na Ceasa de Londrina também era difícil, a gente acabava perdendo muita mercadoria.”

Hoje, Nakamura foca nos grãos e com a certeza da venda: a sua produção vai toda para a cooperativa Cocamar. Agora, com a Villa Puree tão perto da propriedade, deve voltar à produção de frutas: foco de 1,5 hectare na pitaya e oito hectares na goiaba. “O financiamento ainda está um pouco enroscado e o problema é esse recurso inicial para plantar, que acredito que só com mudas deve ficar na casa dos R$ 20 mil. No total, acredito que fique na faixa dos R$ 50 mil. Creio que neste ano consiga pelo menos iniciar com a pitaya. A gente brinca que dá pra entregar de carriola na indústria."

Em relação ao manejo, o produtor não acredita que seja algo muito complexo. Para ele, a certeza da venda é a chave do negócio. “Acho que essa fábrica é uma grande oportunidade para região, um privilégio, principalmente porque a proporção das frutas por hectare em comparativo com a soja é de até 10 vezes mais (rentabilidade).”