Combate mal feito mantém saúvas
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 21 de abril de 2000
Sid Sauer
De Campo Mourão
Os produtores rurais costumam ter dificuldades no combate às formigas cortadeiras saúvas e quém-quéns porque aplicam mal os formicidas. A opinião é do professor Alberto Cavalcanti Vitório, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Botucatu e coordenador do curso de Aagronomia do Centro Integrado de Ensino Superior (Cies), de Campo Mourão. Ele está concluindo um curso de doutorado em formigas.
De modo geral, o produtor aplica os produtos no momento inadequado, explica o professor. Segundo ele, o agricultor deveria aproveitar o momento em que a terra está nua, após a colheita da soja, para fazer um monitoramento da propriedade e detectar a espécie de saúva para fazer a aplicação na dosagem correta. Feita a aplicação, o produtor tem que esperar de 20 a 30 dias para avaliação os resultados.
IscasSe a dosagem for incorreta, uma nova aplicação deve ser feita entre 60 e 90 dias após a primeira, ressalta Vitória. Esse produtor não vai ter problemas com formiga, garante. De acordo com o professor, a aplicação nunca deve ser feita quando a praga já está atacando a lavoura e sim de 60 a 90 dias antes da implantação da cultura. A primeira preocupação que o agricultor deve ter é descobrir o tamanho do formigueiro.
As iscas, que são o meio mais barato para o combate às formigas, devem ser aplicadas da seguinte forma: 10 gramas para cada metro quadrado de formigueiro. Para combater um formigueiro com 60 metros quadrados alguns passam de 100 metros quadrados , por exemplo, é necesssária a utilização de 600 gramas de iscas. Não adianta querer economizar, alerta Vitório. A maioria dos produtores aplica dosagens menores, alegando que o produto é caro.
Outra dica do professor é que jamais seja aplicado formicida em pó em formigueiros com mais de um metro de profundidade. É dinheiro jogado fora. Com mais de um metro, já existe circulação de ar no formigueiro suficiente para que o pó não atinja as formigas, explica. Vitório lembra que um formigueiro adulto chega a ter oito metros de profundidade. Nesse caso, as saídas são as iscas ou a termonebulização (fog).
A termonebulização é eficiente, porque tende a descer o formicida até o fundo do formigueiro. O problema é o preço. O aparelho mais barato para a aplicação custa cerca de R$1,7 mil. A aplicação na chuva também torna-se inútil, uma vez que o pó adere às paredes do formigueiro, quebrando a cadeia química do produto e o tornando ineficiente contra as cortadeiras. A mesma regra vale para as iscas, que são danificadas pelas chuvas.
Para quem fez a colheita e já plantou o milho safrinha, Vitório diz que existem produtos que podem fazer um trabalho apenas paliativo. Mesmo assim, ele lembra que alguns emergentes ainda não foram registrados no Paraná e, portanto, não podem ser usados no Estado. O produtor precisa ter consciência de que, após esse trabalho paliativo, tem que fazer o controle adequado depois de colher a cultura, frisa o mirmecologista (estudioso em formigas).
InteligênciaSegundo Vitório, as formigas são inteligentes o suficiente para perceber quando está sendo feita uma subdosagem de formicidas. A formiga percebe que está havendo algum problema e se recolhe ao formigueiro, explica. É o chamado amoamento, quando a formiga pode ficar de poucos dias até 11 meses escondida, dependendo de seu depósito de alimentos. Após o amoamento, a formiga muda de buraco e o produtor pensa que se trata de um novo formigueiro.
O prejuízo para a falta de um combate ineficiente é grande. Um formigueiro de seis anos, por exemplo, tem uma população que varia de 3 milhões a 7 milhões de formigas. Nas pastagens, elas concorrem com o gado. Um formigueiro devora uma tonelada de folhas de eucaliptos por ano, conta Vitório. A quantidade é equivalente a 81 árvores adultas. Em pinus, são devoradas 162 árvores anuais. No algodão estudo, realizado no Mato Grosso, mostrou quebra de 40% somente pelas formigas numa propriedade com produção de 200 arrobas por hectare.