Com sustentabilidade como máxima, país precisa mostrar suas boas práticas
Durante o 4° Fórum do Agronegócio, realizado em Londrina na última segunda-feira (18), vários representantes do setor destacaram a importânc
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sábado, 23 de setembro de 2023
Durante o 4° Fórum do Agronegócio, realizado em Londrina na última segunda-feira (18), vários representantes do setor destacaram a importânc
Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA
O protagonismo mundial do Brasil na produção de alimentos foi um dos destaques do 4° Fórum do Agronegócio, evento promovido pela SRP (Sociedade Rural do Paraná) na última segunda-feira (18), em Londrina. Entre representantes do setor agro e lideranças políticas, um consenso é que o país precisa se comunicar melhor e evidenciar suas boas práticas no campo.
O presidente da SRP, Marcelo El-Kadre, destaca que o mundo precisa da produção agrícola do Brasil e que o país é um dos líderes nesse segmento. Em meio a esse cenário, a SRP busca promover debates para que o campo produza mais e melhor.
“É muito importante discutir isso, produzir e conservar [fazendo referência ao tema do fórum], porque a terra não é descartável. Você não pode usar e jogar fora, precisa continuar produzindo. Por isso é muito importante acontecer isso em Londrina”, pontuando que “o Brasil é referência em preservação e sustentabilidade”, mas precisa evidenciar para o mundo as boas práticas que são adotadas.
Terras propícias, equipamentos e tecnologia
A primeira mesa-redonda realizada discutiu a integração das cadeias produtivas, a demanda por investimentos e as práticas sustentáveis. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que participou da discussão, ressaltou que o Brasil vem se consolidando como um importante produtor de alimentos a nível global. Um aspecto importante citado pelo ministro é a junção entre gente vocacionada, terras propícias, equipamentos e tecnologia de última geração, o que contribui para esse desempenho. E a preservação ambiental não é uma pauta antagônica a esse cenário.
“A consorciação entre produção e preservação ambiental é fundamental, e nossos produtores sabem e fazem essa produção sustentável. A própria ministra Marina Silva (do Meio Ambiente) disse, no lançamento do Plano Safra, que menos de 2% dos produtores brasileiros cometem crimes ambientais”, frisou Fávaro.
A presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, que participou ao lado de Fávaro da mesa-redonda, ressaltou que a empresa tem o desafio de levantar dados para corroborar a sustentabilidade brasileira, e pensar a produção de alimentos sob uma nova ótica.
“A Embrapa foi muito na visão de expandir a produção do país, até para garantir a nossa segurança alimentar. Naquela época, éramos importadores de alimentos. Hoje, temos um grande desafio de trabalhar com sistemas agroalimentares, essa visão mais sistêmica para produzir alimentos, com bases saudáveis e nutritivas”, destacou.
Presente no evento, o governador Ratinho Junior (PSD) afirmou que é possível produzir alimentos de qualidade e com variedade. Com a agricultura “saindo da enxada”, como exemplificou, as iniciativas de inovação vêm ganhando cada vez mais destaque. Durante o fórum, Ratinho Junior assinou, junto com Fávaro e outras autoridades, a renovação do protocolo que coloca Londrina como Polo de Inovação Agro.
‘FAZEMOS BEM FEITO’
Norberto Ortigara, secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, disse em entrevista que os agricultores paranaenses são “gente que faz bem feito”. Tanto o trabalhador do campo quanto as agroindústrias, opina o titular da pasta, mantêm métodos sustentáveis. “Precisamos explicitar isso, comunicar isso de forma correta para o mundo, até para não perder nosso espaço conquistado com tamanho de produção, qualidade e sanidade, e fazendo a produção primária do jeito correto. Fazendo mais e melhor, com menos recursos do bolso e da natureza”, completa.
‘PRODUZIR MAIS’
Outro participante da mesa-redonda foi o presidente da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), Gabriel Garcia Cid. Ele destacou que um dos papéis dos fóruns é levar informações para toda a população, mostrando que a agropecuária é ambiental e socialmente correta no país.
“Hoje para as áreas de agricultura e pecuária utilizamos apenas 25% do território nacional. Temos um Código Florestal rigoroso. Temos que mostrar isso para o mundo”, citando que o zebu representa mais de 80% do rebanho brasileiro. “Com programas de melhoramento, procuramos produzir mais carne, mais leite em menos tempo, ocupando menos espaço e consumindo menos. Isso também é uma ferramenta de sustentabilidade.”
O fórum ainda contou com as mesas-redondas “Resiliência dos sistemas alimentares: fortalecer do local para o global”, que teve Ortigara como participante, e “Futuro alimentar sustentável: o Brasil e a produção de alimentos frente ao mundo”, além de outras palestras.
Brasil vem fazendo ‘progresso excelente’ na agricultura, diz vencedor do Nobel da Paz
Um dos destaques do 4° Fórum do Agronegócio foi a conferência magna “O Brasil e sua liderança mundial: perspectivas e desafios”, com o cientista indiano Rattan Lal, vencedor do prêmio Nobel da Paz, em 2007, e do prêmio Mundial da Alimentação, em 2020. Devido a questões pessoais, ele não participou presencialmente.
Em entrevista coletiva, o cientista ressaltou que o Brasil vem fazendo um “progresso excelente” na agricultura nas últimas décadas, sobretudo na região do Cerrado.
Questionado sobre o impacto do agro para as mudanças climáticas, Lal afirmou que a prática “é um contribuidor para a emissão de gás carbônico”, sobretudo em locais onde ainda há desflorestamento e uso intenso de fertilizantes e defensivos agrícolas.
AGRICULTURA MAIS ANIGÁVEL AO MEIO AMBIENTE
“Como nós aumentamos a produtividade, existe uma grande chance de melhorar o uso da agricultura de uma forma mais amigável ao meio ambiente. Eu acho que esse deve ser o nosso foco, a produção tem que acontecer, mas temos que fazê-la como uma solução para as mudanças climáticas”, acrescentou.
Citando a produção de soja, Lal afirmou que, na década de 1960, o Brasil colhia cerca de 3 milhões de toneladas do grão; em 2020, chegou a 120 milhões de toneladas.
“A produção de soja no Brasil cresceu tremendamente, e isso é uma história de sucesso. A produção de carne também é muito grande. Mas o que é preciso ser feito é melhorar o impacto ao meio ambiente, produzir mais a partir de menos”, citando a necessidade de reduzir o uso da terra, da área e do uso de fertilizantes. Uma consequência disso é justamente a menor degradação do solo e emissão de gases do efeito estufa.
Em meio a um cenário de protagonismo em termos de quantidade de produção, cabe ao país buscar desenvolver a prática agrícola de forma cada vez mais sustentável. “São as medidas para que a agricultura brasileira seja um exemplo para o mundo”. (D.K.)