A menor demanda por carne ovina no Paraná é um dos principais fatores para a desvalorização do ovino vivo no Estado. Em janeiro de 2020, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) -Esalq/USP, a cotação do ovino vivo no território paranaense foi de R$ 8,75/kg, enquanto em abril de 2022 ficou em R$ 10,40.

Isso representa um aumento de 19%, enquanto a arroba do boi gordo iniciou 2020 cotada a R$ 184,00 e fechou o mês de abril do corrente ano a R$ 308,00, um aumento de 67%. A valorização da carne ovina foi 3,5 vezes menor em comparação aos bovinos.

Médico veterinário do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, Thiago De Marchi da Silva destaca que a população brasileira não tem o costume de consumir a carne ovina com regularidade, sendo destinada principalmente às datas comemorativas, como as festas de final de ano.

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“Além disso, a carne ovina é historicamente considerada uma proteína mais cara, o que afasta grande parte da população de menor renda, mesmo que essa diferença tenha diminuído consideravelmente de 2020 para cá”, pontua.

O técnico explica que os custos de produção, somados à inflação, subiram de forma assustadora desde o início da pandemia. “Com isso, pressionaram ainda mais um mercado que já não era extremamente lucrativo. Isso pode levar muitos a migrarem para outras culturas, desistindo da criação de ovinos”.

Ovinocultura movimentou R$ 120 milhões em riquezas no Paraná em 2020
Ovinocultura movimentou R$ 120 milhões em riquezas no Paraná em 2020 | Foto: Jaelson Lucas / AEN

CONSUMO

Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, o consumo médio de carne ovina no Brasil é de 400 gramas por habitante por ano. Quando comparado ao consumo de carne de frango (44kg/ano), bovina (35kg/ano) e suína (15kg/ano), fica evidente que o brasileiro não tem o hábito de consumir a proteína.

O médico veterinário destaca que o maior desafio para a ovinocultura é mudar o estigma de que a carne ovina é cara e reservada para ocasiões especiais. “Diversos produtores paranaenses vêm desistindo da atividade e migrando para outras áreas da pecuária, devido aos elevados custos de produção e baixa valorização do produto.”

Além disso, culturalmente o brasileiro não tem o costume de consumir a carne ovina em casa, por considerá-la menos versátil e mais cara que outras proteínas, consumindo-a principalmente em datas comemorativas ou em restaurantes.

“O sabor suave característico também destoa bastante da carne bovina, com a qual o paladar brasileiro está mais acostumado. Por muitas pessoas terem consumido carne ovina de baixa qualidade no passado, de animais mais velhos, com maior teor de gordura e sabor característico, também existe a resistência com relação ao sabor.”

DECLÍNIO

O VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária), soma das riquezas produzidas pela atividade, mostra que tanto em 2019 quanto em 2020 a ovinocultura contribuiu com R$ 120 milhões para o VBP no Paraná.

“A atividade vem em declínio já há alguns anos. Em 2017, por exemplo, a contribuição foi de R$ 131 milhões para o VBP estadual, uma diferença que se torna ainda mais expressiva se levarmos em conta a inflação acumulada no período”, destaca.

A ovinocultura de corte se refere aos cortes ovinos no geral, tanto de ovelhas (fêmeas adultas), carneiros (machos adultos) cordeiros (mais ou menos até 7 meses de idade e carne mais clara e suave) e borregos (mais ou menos até 15 meses de idade, de carne ainda suave, porém mais vermelha).

Guarapuava, Castro e Cascavel têm os maiores rebanhos estáticos do Paraná. Em relação ao valor, Cascavel, Francisco Beltrão e São Mateus do Sul foram os três municípios que mais produziram em 2020. Quase a totalidade da produção é comercializada no Brasil, sem exportações relevantes.

“É importante lembrar que se trata apenas de carne ovina, não considerando a venda de matrizes, machos reprodutores e genética no geral”, pondera.

GENÉTICA

O criador Pedro Rocha de Abreu Filho, presidente da Ovinopar (Associação Paranaense de Criadores de Ovinos), trabalha com ovinos há 18 anos. Há uma década, optou por entrar no ramo da genética, o que inclui transferência de embriões e inseminação artificial. O trabalho é realizado em sua propriedade, localizada em Mandirituba, Região Metropolitana de Curitiba.

Pedro Rocha de Abreu Filho, presidente da Associação Paranaense de Criadores de Ovinos: estado tem crescimento acentuado na parte genética
Pedro Rocha de Abreu Filho, presidente da Associação Paranaense de Criadores de Ovinos: estado tem crescimento acentuado na parte genética | Foto: Arquivo pessoal

“Temos no Paraná um crescimento acentuado na parte genética nos últimos anos. Com relação à parte industrial dos ovinos, para corte, não temos crescimento acentuado, porém despontam frigoríficos e abatedouros com interesse. Existe demanda e creio que esse crescimento vai ter que acontecer”, projeta.

O presidente da Ovinopar considera que o maior desafio hoje é, além de o criador tornar a atividade rentável, enfrentar o mercado paralelo, com abates clandestinos.

“Com a pandemia e o mercado clandestino que abastecia muitas churrascarias e mercados houve essa sobra, e os criadores não conseguiram vender. Isso atrapalhou. Mas lutamos para ampliar nossa representatividade, de maneira que uma carne inspecionada vai ter crescimento”, destaca.

Nesse contexto, a associação que representa os criadores é um bom caminho. “Se tivermos organizados, teremos mais força. Representamos os criadores perante o Ministério da Agricultura e às outras entidades, ajudando a atividade. Precisamos dessa união dos criadores para buscarmos fomento, como aconteceu com as outras proteínas”, conclui.

RANKING

Oitavo maior produtor de ovinos do Brasil, o Paraná conta com um rebanho de 588.996 animais, segundo dados do último levantamento realizado pelo IBGE, em 2019.

A região Sul se coloca como a 2ª maior produtora, atrás apenas do Nordeste do país, enquanto o Rio Grande do Sul se destaca como o maior produtor regional, com um rebanho de mais de 3 milhões de animais.

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