Município com aproximadamente 60 mil habitantes localizado no sudeste paranaense, Irati foi o maior produtor de feijão em território paranaense em 2023. Levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento), aponta que a produção de feijão (1ª safra, a mais volumosa) representou 10% na participação do VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) para a atividade no estado. Em segundo lugar no ranking ficou Prudentópolis, no centro-sul do estado, com7% de participação no ano passado.

O VBP (riqueza contabilizada dentro da porteira) advindo da produção de feijão em Irati alcançou a cifra de R$ 104,6 milhões em 2023, proveniente da produção de 20,7 mil toneladas do grão em 10,5 mil hectares de terras.

O engenheiro agrônomo Flavio Cardoso D’Angelo, extensionista do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural)-PR, explica que um conjunto de fatores faz com que Irati seja o líder no ranking da produção de feijão no estado.“As principais características são as condições climáticas, uma porcentagem grande de agricultores familiares, além ser uma cultura de subsistência, podendo o excedente da produção ser comercializado”, lista.

O técnico acrescenta que, como o município conta com cerealistas, há uma facilidade na comercialização do grão por parte dos produtores. “Por outro lado, os produtores recebem assistência técnica, a exemplo do Projeto Centro Sul de Feijão e Milho (PCSFM), e há disponibilidade de materiais genéticos adaptados ao clima e às condições da lavoura”, destaca. Com foco na profissionalização dos agricultores, o projeto capitaneado pelo IDR é desenvolvido há 35 anos em Irati.

Hoje, são 2 mil agricultores que se dedicam à cultura do feijão em Irati, sendo que a maioria deles vem da agricultura familiar. Parte da produção é advinda de médios e de grandes produtores do grão. “A cultura do feijão exige mão de obra, principalmente dos agricultores familiares na época da colheita, sendo na sua maioria realizada por troca de serviços”, explica o engenheiro agrônomo.

COLHEITA MANUAL

Gilberto Luís Filus produz feijão em Irati há cerca de 30 anos. Ele relembra que a atividade era conduzida pelo seu pai e foi passada de geração para geração. O principal desafio apontado por ele é a falta de mão de obra no momento da colheita. “Como não tem mão de obra suficiente para colher, nós costumamos fazer o escalonamento do plantio, sendo que cada variedade de feijão é plantada em um momento. A nossa colheita é feita 100% de forma manual”, destaca.

Em 2024, Filus plantou sete variedades distintas de feijão na safra das águas. “É importante variar porque cada uma tem um comportamento diferente, então ao menos alguma acaba dando muito certo. O feijão é um grão com ciclo curto, sendo que minhas variedades têm entre 80 e 110 dias de ciclo.”

No ano passado, ele produziu 120 sacas por alqueire da safra das águas, contra 50 sacas produzidas em 2023 – volume prejudicado pelo excesso de chuvas em setembro e outubro, época do plantio. Mas o preço obtido pela saca em 2024 estava bem menor que no ano anterior – R$ 160 contra R$ 330, devido ao excesso de oferta. “Apesar disso, a lucratividade hoje com o feijão é maior em comparação aos outros grãos.”

O produtor acabou de colher todo o feijão da safra das águas e, com o excesso do grão no mercado e preço desvalorizado, optou por armazenar parte da produção para possivelmente vender melhor. “Hoje tenho 200 sacas em armazém. Um dos quatro cerealistas para quem vendo diz que vai haver exportação, então é uma chance de valorizar o preço”, pontua.

Para garantir a melhor produção em qualidade e em quantidade, Gilberto parte de uma análise de solo minuciosa antes de iniciar o plantio. “É essencial saber o que o solo vai precisar para que a cultura vá bem”, destaca. O controle de pragas é outra prática que faz parte das ações.

DESAFIOS

A comercialização do feijão produzido em Irati é feita, na sua maioria, nos cerealistas e cooperativas com postos de compra no município. Outra forma de comercialização frequente é a venda direta ao consumidor. Entre os desafios da atividade, o extensionista do IDR aponta o clima, principalmente a distribuição das chuvas, falta ou concentração desse fenômeno climático. “Cito também a oscilação de preços, gerando incerteza na hora de investir, além do preço dos insumos e do surgimento de novas pragas.”

Além do trabalho de assistência técnica desenvolvido pelo IDR, o setor de pesquisa do instituto desenvolve variedades adaptadas às condições de cultivo no Estado do Paraná, além de ofertar tecnologia para manejo de solo e manejo integrado de pragas e doenças. “O IDR também elabora projetos técnicos para acesso a crédito rural”, conclui.

Bruno Luis Krevoruczka, gerente regional do IDR-PR de Irati, lembra a importância das variedades de feijão desenvolvidas pelo IDR-Paraná. “As cultivares desenvolvidas pelo IDR representam 70% do mercado de feijão preto no Brasil”, conclui.