Ciência a serviço da agricultura
PUBLICAÇÃO
sábado, 29 de outubro de 2016
Fábio Galiotto<br>Reportagem Local
Da seleção sementes para ter variedades de plantas que são mais resistentes a problemas climáticos e a pragas, passando pelo desenvolvimento de adubos e insumos que garantem mais produtividade e em menos tempo, pelo uso da genética e até a mecanização do plantio e da colheita, há ciência no campo. Se a produtividade média da soja era aproximadamente de 700 toneladas por hectare nos anos 60, no País, e hoje é de 3 mil toneladas, conforme números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é porque houve desenvolvimento tecnológico. Nada disso é novidade para o agricultor, mas o mesmo não se pode dizer da população em geral.
Apenas 23% das pessoas entende que há ciência por trás da produção dos alimentos que consomem, índice bem abaixo dos 84% que entendem a importância da pesquisa para a cura de doenças ou dos 68% para o desenvolvimento de novas tecnologias. É o que mostra o levantamento "Alimentos Transgênicos", encomendado pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) ao Ibope Conecta. Isso porque quatro em cada cinco entrevistados dizem que possuem interesse em conhecimento científico, o que mostra que a visão sobre o trabalho no campo é que está distorcida.
Na avaliação de especialistas em tecnologia na agricultura, uma das explicações para esse desconhecimento sobre a pesquisa agrícola é a migração do campo para as cidades. "Imagino que o que tenha contribuído para isso seja o distanciamento da agricultura por parte desse público que responde a esse tipo de entrevista, que é uma população de internautas, que é representativo, mas que não tem familiaridade sobre a necessidade de ciência para produzir alimentos", diz a diretora-executiva do CIB, Adriana Brondani.
Porém, como maior exportador agrícola e um dos maiores produtores agropecuários do mundo, o País precisa compreender mais sobre uma das principais atividades desenvolvidas no território nacional e que garante alimentos mais baratos e de qualidade na mesa dos brasileiros. "Além da valorização da agricultura, é preciso valorizar o trabalho de pesquisa feito no Brasil, as pessoas estão envolvidas nesse desenvolvimento", explica Adriana. "É importante para mostrar a geração de empregos, a possibilidade de frentes de trabalho para jovens que não conhecem o tema e para o consumidor em geral, que precisa fazer escolhas com consciência e conhecimento sobre os alimentos", completa.
DESDE OS PRIMÓRDIOS
Para a compreensão do conceito de ciência no campo, é preciso entender a origem da agricultura. Prática que não é nova e vem do período conhecido como Idade da Pedra Polida, entre o período 10.000 e 3000 (a.C.). "Quando o homem deixou de ser nômade para se fixar nos lugares e começou com a agricultura, já começou a fazer o melhoramento genético, mesmo que empírico ou inconsciente, para selecionar as plantas melhores para a produção", diz o chefe de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pequisa Agropecuária - Embrapa Soja, Alexandre Cattelan. Por mais que não pareça científico, ele diz que o método da experiência ou observação garantiu a escolha dos alimentos certos e mais apropriados para o cultivo em cada local.
Adriana diz que o segundo grande salto foi a partir do estudo do austríaco Gregor Mendel, que em 1965 descrevia a hereditariedade e o cruzamento genético por meio de estudos com ervilhas. Novo pulo no tempo e ela cita a descoberta do DNA, nos anos 1950. "Começamos a incorporar mais informações e diria que, na década de 60, o Brasil e o mundo começam a incorporar mais a ciência e agregar as questões de genéticas com insumos agrícolas, para tornar essa realidade de cultura agrícola viável", cita.
Seleção e cruzamento que fizeram com que se encontrassem plantas mais tolerantes a doenças e a ambientes diferentes dos que estavam acostumadas. "Isso implica em estudos de genética, da necessidade de suprimento do solo, do controle de pragas e de ervas daninhas, então tem muita ciência envolvida para esse trabalho", cita a diretora-executiva do CIB.
Trabalho que levou a um período de rápido desenvolvimento da produção rural nos últimos 30 anos, quando houve alta de 260% na produção ante uma expansão agrícola de pouco mais de 50%, aponta Adriana. Foi também dentro desse período que os transgênicos ganharam o campo e o mercado no País. "A biotecnologia é hoje a forma mais visível da ciência na agricultura, seja pela transgenia ou pelo melhoramento convencional com ajuda da biotecnologia. Mas a ciência está por trás de tudo", ressalta Cattelan.