A safra de grãos de verão da temporada 2020/21 está em andamento e pode ser afetada pelo excesso de chuvas que ocorreu em janeiro.

De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, por enquanto a expectativa de produção aponta para um volume de 24,2 milhões de toneladas de grãos, volume 3% abaixo do que foi colhido na safra passada. Culturas como o feijão da primeira safra devem ser as mais prejudicadas, com queda estimada de 7%.

Segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Salatiel Turra, o feijão é uma das culturas mais atingidas pelo excesso de chuvas dos últimos dias porque essa condição dificulta a colheita.

Imagem ilustrativa da imagem Chuva pode comprometer parte da safra de verão no Paraná
| Foto: Marcos Zanutto/03-01-2014

Ele acrescenta que a cultura geralmente é praticada por pequenos produtores que não dispõem de máquinas para fazer a colheita e o grão acaba se perdendo ainda no pé.

Perda

O produtor Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná, estima perder 40% da primeira safra de feijão por conta das adversidades do tempo. De início, a seca adiou o início do plantio em quase um mês, para o final de setembro do ano passado.

Agora, com o excesso de chuvas, não é possível fazer a colheita. “Faz 16 dias que chove todo dia, praticamente ninguém faz nada”, lamenta Laércio, em entrevista concedida na última terça-feira (2).

O agricultor acrescenta que a área perdida de feijão não tem seguro e foi bancada com recursos próprios.

“Não terei prejuízo porque já colhi mais da metade da área antes da chuva e saiu feijão bom, de boa qualidade, com preço bom”, destaca. Da área plantada pela família, com 50 hectares, já foram colhidos 30 hectares e os outros 20 seguem nos pés aguardando a colheita.

Lavoura de feijão prejudicada pelo excesso de chuva em Mangueirinha (PR); perda estimada é de 40%
Lavoura de feijão prejudicada pelo excesso de chuva em Mangueirinha (PR); perda estimada é de 40% | Foto: Arquivo pessoal

“Acredito que boa parte eu nem deva conseguir colher, deu perda total. Vamos esperar secar na lavoura. Quando der sol, vamos ver se vai ter alguma condição, mas a situação é bem preocupante”, conclui.

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O feijão da safra das águas é o primeiro grão a ser colhido na safra de verão no Paraná. Este ano, a expectativa de produção aponta para um volume de 284 mil toneladas, volume 10% abaixo de igual período do ano passado, quando foram colhidas 316,2 mil toneladas. O nome está relacionado ao período do ano em que a colheita é realizada, quando as chuvas são frequentes.

O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador, diz que o feijão das águas foi duplamente prejudicado, situação que já está comprometendo a produtividade e a qualidade dos grãos. Primeiro, na fase de plantio, sofreu com a falta de chuvas e a semeadura teve que ser adiada. Agora, o excesso de chuvas prejudica a colheita.

A lavoura está com 62% da área (152,4 mil hectares) já colhida no Paraná, que corresponde a um volume de 96 mil toneladas. Para se ter uma ideia do comprometimento, a colheita no ano passado estava mais avançada nesta época do ano, com 75% da área colhida, que correspondia a um volume de 168 mil toneladas.

“É difícil encontrar feijão de boa qualidade e o excesso de chuvas prejudica a entrada do agricultor a campo. Algumas áreas no Estado com plantio de feijão estão sendo inutilizadas, como foi o caso de uma área com 250 hectares em Guarapuava que o produtor colocou o trator em cima da lavoura por causa da baixa qualidade dos grãos e baixa produtividade.”

Enquanto a primeira safra de feijão (safra das águas) está em fase de colheita no Paraná, a segunda safra já está sendo plantada, devendo ocupar uma área de 238 mil hectares, 6% maior em relação ao ano passado.

A produção estimada é de 469 mil toneladas, volume 74% maior que em igual período do ano passado. Segundo Salvador, a expectativa do bom andamento da segunda safra de feijão ficará por conta do comportamento do clima.

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Soja e milho

Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, diante do cenário de chuvas no Paraná, a soja também poderá ser afetada diante do quadro atual. A cultura está em desenvolvimento, ocupando uma área de 5,58 milhões de hectares e com uma expectativa de produção de 20,4 milhões de toneladas, volume 2% inferior ao que foi colhido no ano passado.

A safra 2020/2021 começou com o plantio atrasado por causa da seca severa ocorrida no ano passado, que persistiu até dezembro. Em meados de dezembro, as chuvas retornaram, o que ajudou na recuperação da lavoura, situação que deixou produtores e técnicos otimistas. Mas ele destaca que, em janeiro, o excesso de chuvas foi prejudicial.

A persistência das chuvas poderá provocar um atraso na colheita. Ele antecipou que poderá haver redução de produtividade e de qualidade dos grãos em função das doenças causadas pelo aumento da umidade.

Imagem ilustrativa da imagem Chuva pode comprometer parte da safra de verão no Paraná
| Foto: Gina Mardones/24-11-2015

“As regiões do Estado mais preocupantes são Oeste e Sudoeste, onde a chuva está sendo mais volumosa, embora estejam ocorrendo em todas as regiões do Estado, mas com impacto menor. Uma dimensão maior da situação poderá ser feita quando as chuvas amenizarem e o produtor conseguir entrar em campo.”

Se as chuvas são preocupantes de um lado, de outro os produtores comemoram a boa fase de comercialização da soja, que vem desde o ano passado.

Segundo o Deral, o preço médio da soja no Paraná em janeiro foi de R$ 151 a saca com 60 quilos, valor quase que o dobro do preço praticado há um ano, quando a saca era comercializada a R$ 78. Os preços estão sendo sustentados pela cotação elevada do dólar e maior demanda no mercado internacional.

Com isso, os produtores estão acelerando a comercialização. Até agora, 43% da produção já está vendida, o que equivale a um volume de 8,9 milhões de toneladas. No ano passado, nessa mesma época, 26% da safra estava vendida, que correspondia a 5,2 milhões de toneladas.

De acordo com o Deral, já começou o plantio de soja da segunda safra com uma área pequena no Estado. Nesta safra 20/21 serão plantados quase 39 mil hectares e expectativa de produção é de 107 mil toneladas, volume 20% acima do que foi colhido no passado, que totalizou 89,5 milhões de toneladas.

Milho

Segundo o analista do Deral, Edmar Gervásio, as chuvas também estão afetando as lavouras do milho da primeira safra, que estão a campo, com impacto maior sobre as regiões Oeste e Sudoeste. Segundo ele, 72% da produção de milho da primeira safra se concentra na região sul do Estado, nas regiões de Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba.

“O problema maior está nas regiões Oeste e Sudoeste, que concentram cerca de 30% da produção de milho de primeira safra, e as chuvas estão sendo mais volumosas com impacto maior sobre as lavouras”, disse o técnico.

A área ocupada com milho de primeira safra é de 359 mil hectares, com produção esperada de 3,4 milhões de toneladas. Esse volume é 6% inferior ao colhido no ano passado que foi de 3,56 milhões de toneladas. Segundo Gervásio, o potencial de produção do milho de primeira safra era maior e foi frustrado pelas chuvas, com impacto negativo na produtividade. “Mas a produção ainda está dentro do esperado e é cedo para falar em queda de produção”, avaliou.

O milho é outra commodity com demanda acelerada no mercado internacional e isso está se refletindo internamente, situação que também vem desde o ano passado, destacou Gervásio. A comercialização está acelerada, com 17% da safra já vendida, sendo que na safra anterior, nessa mesma época, cerca de 6% estavam vendidos.

A segunda safra de milho ainda não foi plantada, mas o Deral estima uma área ocupada de 2,4 milhões de hectares com a cultura e produção de 13,6 milhões de toneladas. O plantio deve evoluir em fevereiro e março.

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