Quarenta anos não são quatro. Foram décadas de trabalho do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) para que finalmente - há exato um ano – a raça Purunã, genuinamente desenvolvida no Estado, fosse reconhecida oficialmente pela Ministério da Agricultura (Mapa). De lá para cá, as portas estão se abrindo, a procura e expansão são nítidas, e vão além do território paranaense. Oficializada, a reportagem da FOLHA faz análise de como anda o trabalho até aqui.

Gado moderno, resultado do cruzamento de outras quatro raças (Charolês, Aberdeen Angus, Caracu e Canchim), o Purunã tem uma adaptação fantástica a climas quentes, alta rusticidade, precocidade, rendimento de carcaça, temperamento dócil e qualidade de carne com marmoreio excelente. Não perde em nada para o tão famigerado e "marketeiro" Angus, por exemplo. O nome é uma homenagem à Serra do Purunã, que separa o primeiro e o segundo planaltos do Paraná, uma região com forte tradição pecuária no Estado.

Agora, oficializada, o Purunã que ir além, disseminando a genética, principalmente para pequenos produtores do Estado. Durante a 58ª edição da ExpoLondrina, foi firmada uma parceria tecnológica entre o Iapar e a empresa Cescage Genética, de Ponta Grossa. A proposta é de disponibilizar a genética Purunã a pequenos pecuaristas paranaenses, por meio de transferência de embriões parcialmente subvencionadas por programas de fomento, como o Sebraetec. A Cescage é a primeira de muitas empresas que devem apostar nesse trabalho.

José Luis Moletta é zootecnista e pesquisador do Iapar, atuando com os animais na Estação Experimental Fazenda Modelo, mantida pelo instituto, em Ponta Grossa (Campos Gerais), ao longo de todas essas décadas até atingir as características do Purunã encontradas hoje. "Em nível de Estado, temos criadores de genética pura praticamente em todas as regiões, além da utilização em cruzamentos para a produção de bezerros de corte. Hoje o Iapar já colocou quase 600 touros disponibilizados aos pecuaristas. Em nossos registos, já são 183 propriedades atendidas e utilizando tal genética. Números interessantes que mostram que o produto tem potencial e está crescendo ano após ano."

Moletta explica que com a raça oficializada saiu-se da fase de pesquisa e agora o grande desafio é colocar esse material genético com força no setor produtivo, focando no trabalho dos criadores para validar o produto. "Participo do Programa da Pecuária Moderna no Estado e temos a informação que a média de animais em propriedades de corte no Estado é de 110 cabeças, ou seja, pequenos produtores. Um material genético diferenciado dificilmente chega para este perfil. Um programa desses que o produtor irá pagar apenas 30% do valor total pela genética de alta qualidade (devido à subvenção) vai ajudar demais. O programa precisa agora se consolidar."

O pesquisador salienta, aliás, que hoje quem aposta na raça de forma geral são os pequenos pecuaristas - que trabalhando nem que seja com apenas 20 animais puros - serão parceiros fundamentais na multiplicação da genética em nível de Estado e expansão pelo País. "Já temos um criador em Minas Gerais que apostou em genética e ampliou seu mercado para o Espírito Santo, Alagoas, São Paulo... Estamos agora com iniciativa para levar o Purunã para Rondônia e na divisa do Mato Grosso com o Pará."

Por fim, Moletta explica que a raça tem um mercado de carne de elevado potencial, porque ao contrário de outras raças que até possuem mais marketing, o Purunã tem um poder de adaptação melhor do que as espécies europeias. "Estamos falando de valor agregado. Ao invés de produzir um bezerro e comercializar por R$ 2 mil, é possível produzir um tourinho Purunã e vender por R$ 7 mil, por exemplo."