O cultivo da cevada voltou a ganhar espaço no Paraná. Levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural) aponta que a área projetada para esta safra, que começou a ser semeada, é de 94,6 mil hectares, a maior dedicada à cultura na história do Estado, maior produtor brasileiro do cereal.

O aumento é de 18% quando comparado aos 80,5 mil hectares semeados em 2024 e é puxado principalmente pelo retorno da intenção de plantio na região de Guarapuava. “Os melhores preços e a consequente recuperação da área em uma das regiões mais importantes do estado, que é a região de Guarapuava, causaram esse aumento de área. Apesar da redução ocorrida em 2024 na área, a tendência de longo prazo é de ganho, em função da demanda crescente de cevada pelas maltarias”, analisa Carlos Hugo Godinho, agrônomo do Deral.

O técnico acrescenta que somente a região de Guarapuava deverá plantar cevada em uma área de 36,9 mil hectares, volume 25% superior aos 29,6 mil hectares colhidos no ano passado. “Mesmo com um ganho de área mais expressivo, a região de Guarapuava deve plantar uma área menor que a dos Campos Gerais, representada especialmente pela região de Ponta Grossa, com uma área de 38 mil hectares dedicados ao cereal”, compara.

As regiões lideram o cultivo da cevada no estado, por possuírem um clima mais ameno. “A indústria de malte também acabou se concentrando nessas regiões devido a uma maior oferta, ainda que grande parte da cevada industrializada no Paraná seja importada.”

Em 2025, a cevada começou a ser plantada no estado em abril e o plantio deve se estender até julho. A colheita deve começar em agosto, com pico em novembro, sendo que os trabalhos se encerram ainda dentro deste ano.

AMPLIAÇÃO

Sobre a ampliação da área de cevada no estado, o técnico destaca que o próprio fomento das indústrias para a produção regional é um impulsionador,visto que ainda há uma grande quantidade de cevada importada a ser substituída pela produção local.

“A produção estadual pode ser até 40% maior, caso as condições de clima permitam, superando as 296,1 mil toneladas produzidas em 2024 e chegando a 413,8 mil toneladas”, projeta. Ele relembra que a seca e algumas geadas tardias reduziram a produtividade da cevada no território paranaense em 2024, especialmente na região dos Campos Gerais, limitando a oferta.

Ainda assim, Godinho destaca que foi uma safra razoável e a posição de liderança da produção paranaense não foi ameaçada, pois o estado tem larga vantagem sobre o Rio Grande do Sul, que está em segundo lugar no ranking nacional.

“A confirmação de uma produção maior e de boa qualidade é essencial para a diminuição da necessidade de importação de cevada. Neste começo de ano, houve recorde de compra de cevada importada pelas maltarias paranaenses, que adquiriram praticamente 200 mil toneladas no primeiro trimestre para manter o Paraná como o maior produtor de malte do país.”

DESTINO

Dependendo das condições climáticas, parte da produção de cevada no Paraná pode ser direcionada para alimentação animal. “No entanto, devido ao seu menor valor de mercado, nenhum produtor planta cevada visando essa destinação, e sim visando atingir os padrões para produção de malte”, conclui. Hoje há duas maltarias no Paraná, ambas com participação da Cooperativa Agrária Agroindustrial.

CRESCIMENTO

James Dandolini, gerente comercial da Agrária, destaca que a boa produtividade de cevada entre os cooperados em 2024 – 4.723 quilos por hectare – incentivou um cultivo maior do grão neste ano.“Ainda não fechamos todas as áreas, mas a área plantada de cevada deve crescer 20% com relação ao ano anterior, contando tanto as áreas de cooperados como as áreas de fomento”, pontua.

Em 2025, cerca de 30% dos cooperados da Agrária devem trabalhar com a cevada. “Hoje, as propriedades de cooperados estão concentradas em 13 municípios da região Centro-Sul do Paraná, portanto teremos o cultivo de cevada em toda essa região.”

O cultivo de cevada na região começou no distrito de Entre Rios, em Guarapuava, ainda na década de 1970. Em 1981, com a inauguração da primeira maltaria da Agrária, esse cultivo foi ampliado e, consequentemente, aumentou o suporte dado ao cooperado produtor também.

“Por meio da Fapa (Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária), desenvolvemos um programa de genética e manejo da cultura que se configura como um dos principais do Brasil”, destaca.

Como as propriedades dos cooperados estão em municípios que possuem diferenças quanto a altitude, relevo e temperatura, Dandolini ressalta ser necessário que as orientações técnicas para o cultivo da cevada respeitem essas particularidades, com o objetivo de produzir grãos aptos para malteação e que tragam rentabilidade ao cooperado.

Essas recomendações são repassadas ao Departamento de Assistência Técnica, que faz essa ponte com o produtor. “Inclusive, pensando nos parâmetros do grão para uso industrial e nas características das propriedades, temos algumas cultivares de cevada criadas dentro da Fapa. É importante destacar que, para ser apta à malteação, a cevada deve atender a mais de 30 parâmetros, como poder de germinação, quantidade de proteína, entre outros.”

Hoje, toda cevada produzida nas áreas de cooperados e de fomento na região Centro-Sul do Paraná é destinada à Agrária Malte, com capacidade produtiva de 360 mil toneladas de malte por ano. O mesmo acontece nas regiões atendidas pelas cooperativas que fazem parte do projeto de intercooperação da Maltaria Campos Gerais (além da Agrária,fazem parte do empreendimento Bom Jesus, Capal, Castrolanda, Coopagrícola e Frísia).

Nessa maltaria, a capacidade produtiva é de 240 mil toneladas/ano. No entanto, as áreas de cultivo não atendem 100% à demanda de matéria-prima da indústria. “Por isso, além do nosso programa de fomento, também trabalhamos com a importação de cevada proveniente de produtores argentinos e uruguaios”, conclui.

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