Criado no final do ano passado, e ligado à UEL (Universidade Estadual de Londrina), o CIA Agro (Centro de Inteligência Artificial no Agronegócio) pretende voltar as pesquisas, nestes dois primeiros anos de existência, para criar sistemas preditivos com foco no controle da ferrugem asiática e do mofo branco da soja.

Inicialmente, os projetos desenvolvidos têm dois grandes objetivos: a automação da rede de monitoramento de manejo da ferrugem e a criação de modelos preditivos e prescritivos para o controle do mofo branco.

As atividades estão focadas na Inteligência Artificial aplicada à agricultura e envolvem, inicialmente, estudos relacionados à fitossanidade para produção sustentável de alimentos
As atividades estão focadas na Inteligência Artificial aplicada à agricultura e envolvem, inicialmente, estudos relacionados à fitossanidade para produção sustentável de alimentos | Foto: iStock

“Os fenômenos biológicos, ambientais, econômicos e sociais inerentes à produção agrícola deverão ser integrados e analisados pelas ferramentas de IA [Inteligência Artificial), sendo que a interação entre os pesquisadores das duas grandes áreas envolvidas (Ciências Agrárias e Ciência da Computação) será de alta intensidade”, explica o professor associado da UEL Marcelo Giovanetti Canteri, CEO de Projetos do CIA Agro.

Abate de suínos bate recorde no segundo trimestre, diz IBGE

Durante as pesquisas, a UTFPR e o IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná são responsáveis pela automatização da leitura da presença de esporos de ferrugem detectados em coletores de esporos espalhados pelo Estado.

“Esta automatização da leitura de armadilhas caça-esporo já será implementada nesta próxima safra (2022/2023), permitindo economia de tempo na apresentação de resultados de presença de esporos na região geográfica do plantio de soja no Estado”, detalha.

Outra ação é realizada pela UEL em parceria com o IDR, na otimização dos mapas de condições agrometeorológicas para o Estado visando o controle de doenças na soja.

Paraná dá exemplo ao reciclar embalagens de agrotóxicos

“A Embrapa Soja e a Fundação ABC trabalham para o controle de outra doença da soja, o mofo branco, que atinge cerca de 30% do território nacional. Ao final desta primeira ação do CIA Agro, serão fornecidos mapas interativos com a presença dos patógenos causador da ferrugem”, detalha.

Nos EUA, produtores do PR veem tendências em tecnologias

À reportagem da FOLHA, Canteri explicou que o CIA Agro é resultado do esforço de uma rede de pesquisadores e do apoio de órgãos públicos e privados. "Uma iniciativa inovadora com ações transversais entre as instituições agro e de computação do Paraná. No dia 23 de agosto, o CIA Agro foi apresentado no 2022 Cooperation Forum Brasil & China on Science, Technology and Innovation, na busca por parceiros internacionais". Acompanhe a entrevista do CEO de Projetos do CIA Agro.

Quando foi criado o CIA?

O CIA Agro é produto de uma parceria público-privada para desenvolver aplicações de Inteligência Artificial para a agricultura. É uma proposta dentro dos Napis (Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação) do Estado do Paraná. Tem por objetivo ser um agente transformador de desenvolvimento social e técnico para a criação de riqueza e bem estar, principalmente no Paraná.

Por meio de parcerias com empresas, universidades, cooperativas, start-ups e outras instituições, pretende-se fomentar o desenvolvimento de competências visando o desenvolvimento de um ecossistema de inovação regional para o crescimento horizontal do Estado de forma integrada.

O embrião do CIA Agro nasceu em 2020 de uma ação em resposta ao edital do Ministério da Ciência e Tecnologia, em conjunto com a Fapesp, para criação de Centros de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial para a Agricultura, Saúde, Indústria e Cidades Inteligentes. Na época foram organizadas lives, com participação de autoridades do Estado do Paraná, para trazer ao Estado o Centro de Inteligência Artificial voltado à agricultura.

Em 2021, a Fundação Araucária encampou a proposta apresentada à Fapesp e foi criado o CIA Agro pela assinatura do Termo de Convênio para pesquisa, desenvolvimento e inovação, publicado no Diário Oficial Paraná no dia 8 de novembro.

O CIA Agro tem como visão de desenvolvimento a captação e provocação de demandas e a execução de projetos. Os projetos são desenhados a partir de desafios e oportunidades para produção colaborativa de conhecimento, demandados ou patrocinados por parceiros, incluindo empresas, cooperativas, instituições, startups e agências de inovação.

As atividades estão focadas na Inteligência Artificial aplicada à agricultura e envolvem, inicialmente, estudos relacionados à fitossanidade para produção sustentável de alimentos. Esta linha de atuação tem como foco a agricultura preventiva, viabilizando a estratégia de zonas controladas inteligentes.

Quais os parceiros da UEL e como eles participam?

O CIA Agro é formado por instituições de pesquisa, ou seja, a UEL, a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), o IDR-Paraná, a Embrapa Soja e a Fundação ABC. A UEL e a UTFPR atuam com pesquisadores principalmente no lado computacional, e a Embrapa Soja, IDR Paraná e Fundação ABC com pesquisadores, principalmente no lado agronômico. Além dessas instituições parceiras, também há a participação de empresas. A Adama, multinacional sediada em Londrina; a Jacto, de Pompeia (SP); e a Cooperativa Agrária de Guarapuava são os parceiros iniciais do CIA Agro.

Além dessas instituições que formam o núcleo duro do CIA Agro, também há interações com a Agrovalley, com o Sebrae e com o Tecnocentro de Londrina. Também há uma parceria com a Units (Università degli Studi di Trieste), da Itália, onde o Dr Sylvio Barbon, ex-professor da UEL, atua na área de Inteligência Artificial. Ao todo, são aproximadamente 50 participantes contando com os pesquisadores líderes de subprojetos, os demais pesquisadores e os alunos de pós-graduação.

De quanto foi o investimento inicial?

O CIA Agro contou com um investimento inicial de R$ 1 milhão da Fundação Araucária, na proporção de 50/50, ou seja, o mesmo montante será investido pelas empresas da iniciativa privada num período de dois anos, prazo para execução dos primeiros projetos. O centro não atuará apenas nesses dois projetos. Já existem novos projetos em andamento, como uma potencial parceria com algumas cooperativas para usar conceitos de Inteligência Artificial em blockchain para cadeia de produção de carnes.

Qual a estrutura do CIA Agro?

O CIA Agro está inovando na gestão das atividades e utiliza uma estrutura descentralizada. São realizadas reuniões semanais entre pesquisadores da mesma instituição e reuniões bimestrais entre os pesquisadores de todas as instituições em conjunto.

Em 26/08/2022 foi realizado o 1º Workshop CIA Agro, onde foram apresentados os principais resultados gerados pelos pesquisadores nos primeiros seis meses de funcionamento do centro. Avanços com os drones, com a análise dos dados agrometeorológicos, com o processamento de imagens dos microscópios que fazem leitura das lâminas coletadas nas armadilhas caça-esporos e com a segurança das informações.

Quando se fala em Inteligência Artificial no Agro, que tipo de tecnologias já estão à disposição dos agricultores hoje?

Temos que ter noção de que a Inteligência Artificial só pode ser executada se houver dados para serem processados, ou seja, está intimamente ligada a algum sistema de coleta de dados. No caso da agricultura, a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things, em inglês) é o grande fornecedor desses dados. Termos como deep learning, machine learning, agricultura de precisão, data mining, redes neurais e lógica fuzzy também têm aplicações na Inteligência Artificial. Outras aplicações, como nariz eletrônico que detecta a presença de moléculas orgânicas no ar, usadas para detecção de doenças em plantas, estão sendo desenvolvidas em outros países e já estão no radar do CIA Agro.