Entre os 5.502 municípios brasileiros que apresentaram alguma produção de leite em 2021, a liderança continua com Castro (PR), na região dos Campos Gerais, com 381,7 milhões de litros, um acréscimo de 4,9% em relação a 2020.

Sindicato Rural estima 50 mil vacas produzindo leite em Castro atualmente
Sindicato Rural estima 50 mil vacas produzindo leite em Castro atualmente | Foto: istock

Dados são da Pesquisa da Pecuária Municipal, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Carambeí (PR) ficou em segundo lugar, com 227,8 milhões de litros. O terceiro foi Patos de Minas (MG), 206 milhões de litros (leia mais no quadro).

Thiago De Marchi, médico-veterinário do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado), explica que a especialização e a tecnologia são ingredientes que colocam Castro no topo do ranking nacional.

“Outra contribuição é que o município tem um perfil diferente do restante do Estado, concentrando propriedades maiores, mais profissionalizadas e mais produtivas, o que gera uma maior capacidade de investimento”, pontua.

Eduardo Medeiros Gomes, presidente do Sindicato Rural de Castro, acrescenta que o clima ameno favorece a criação do gado holandês e a produção de pastagens de inverno, além do solo favorável, o que incentiva a produção de leite no município.

“A colonização europeia a partir do final do século 19 e principalmente no século 20, com a vinda dos holandeses, foi muito decisiva. A aptidão e a tecnologia pré-existente dos seus países de origem facilitaram muito a introdução e o desenvolvimento da pecuária leiteira no município e na região.”

O sindicato estima que hoje existem cerca de 500 produtores de leite em atividade no município, sendo que em suas propriedades estão cerca de 50 mil vacas.

“A atividade leiteira é importante para a cadeia como um todo, já que tem pessoas nas propriedades atuando em apoio técnico, de transporte, veterinário, além da indústria de ração e de medicamentos. É a cadeia principal na geração de emprego e renda em Castro”, destaca.

O presidente do sindicato cita a preocupação em especializar a mão de obra na atividade leiteira em Castro.

“As capacitações promovidas por meio de convênio com o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] e com o Centro de Treinamento Pecuarista local elevam a qualidade da mão de obra. Isso faz com que um ordenhador ganhe mais de R$ 3 mil ao mês, por exemplo.”

Imagem ilustrativa da imagem Castro mantém liderança na produção de leite no Brasil
| Foto: Gustavo Pereira Padial

O leite produzido em Castro atende consumidores de todo o Sul do Brasil e Estados como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Hoje o grande desafio do produtor é a questão da rentabilidade. Tem que ganhar escala para garantir uma melhor renda que o sustente adequadamente. Temos desafio de fazer com que a pequena propriedade se viabilize de forma melhor, gere melhor renda ao produtor e evite a desistência.”

Thiago De Marchi, médico veterinário do Deral, acrescenta que o principal desafio continua sendo o custo de produção.

“A alta no preço pago pelo leite, além de uma queda expressiva no preço do milho, fizeram com que a relação de troca litro de leite/saca de milho ficasse bem mais favorável para o produtor, quando comparada à do início do ano, por exemplo”, destaca.

FUTURO

O presidente do sindicato reforça que Castro tem condições de atender à demanda crescente.

“Nossa ‘máquina de produzir leite’ está pronta e tem capacidade de crescimento constante. Estamos elevando a produção 7% ao ano. Então demandas que venham serão atendidas pela nossa região.”

Os quase 400 milhões de litros de leite produzidos por Castro no ano passado geraram um VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) de R$ 808,1 milhões, ante R$ 604 milhões no ano anterior. O VBP é a riqueza produzida pela atividade dentro da porteira.

“O aumento no VBP foi maior que o aumento na produção, o que é explicado pelo preço praticado em 2021 ter sido mais alto que o de 2020”, pontua Thiago De Marchi, médico-veterinário do Deral.

COOPERATIVA

Quando se fala de leite em Castro, impossível dissociar da Cooperativa Castrolanda, que conta atualmente com mais de 1.150 cooperados. Somente no ano passado, a cooperativa produziu 435,5 milhões de litros de leite.

A cooperativa atua em toda a cadeia do leite, desde a assistência técnica, logística do produto para a indústria, beneficiamento e a comercialização.

“A cooperativa tem como desafio as propriedades de menor tamanho. Como vamos fazer para que o associado permaneça lá e consiga produzir mais renda nessa mesma área e conseguir sustentabilidade”, destaca Willem Berend Bouwman, diretor-presidente da cooperativa.

Do lado do colaborador, o diretor reforça que a cooperativa pretende deixar um legado. “Queremos nossos colaboradores treinados e desenvolvidos, que eles enxerguem na cooperativa uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal.”

A Castrolanda apresenta uma média de crescimento anual entre 7% e 9% na produção de leite.

“O número é cinco vezes maior do que a média nacional. Os altos níveis de qualidade no leite, cuidados com nutrição e manejo, assistência técnica especializada, índice de eficiência do produtor, entre outros fatores, fazem com o cooperado busque sempre a excelência no dia a dia.”

No ano passado, a cooperativa faturou R$ 5,9 bilhões e ao final de dezembro as sobras alcançaram R$ 146 milhões.

Para o diretor-presidente, os números refletem os caminhos de sustentabilidade e estabilidade dos negócios, construídos com base em um planejamento estratégico.

“Isso preparou nossa cooperativa para se tornar ainda mais competitiva em várias áreas de atuação. As ações apostaram no redesenho de alguns processos e na consolidação da diversificação dos negócios, que trouxeram mais agilidade, assertividade e segurança nas ações”, conclui.

ESTATÍSTICAS

Levantamento feito pelo Deral mostra que todos os 399 municípios paranaenses, em maior ou menor escala, produzem leite.

No ano passado, o VBP da produção de leite ficou em R$ 9 bilhões no Paraná, ficando somente atrás da soja (R$ 50,9 bilhões) e do frango de corte (R$ 32,5 bilhões).

Segundo o IBGE, a produção nacional de leite foi estimada em 35,3 bilhões de litros em 2021, números que demonstram estabilidade na comparação com 2020.

Entre as regiões brasileiras, o Sul voltou a liderar, como tinha acontecido entre 2014 e 2018. Entretanto, apenas o Nordeste, terceiro no ranking, teve crescimento na produção (12,8%) e alcançou a marca de 5,5 bilhões de litros.