Casos de cisticercose bovina acendem alerta no campo
Nos últimos dois anos, foram registrados 951 casos em território paranaense; especialistas pedem atenção para hábitos de higiene
PUBLICAÇÃO
sábado, 01 de abril de 2023
Nos últimos dois anos, foram registrados 951 casos em território paranaense; especialistas pedem atenção para hábitos de higiene
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
Os casos mais recentes de cisticercose bovina no Paraná acenderam um alerta no campo. Nos últimos dois anos, foram registrados 951 casos em território paranaense.
O maior problema da zoonose tem sido os prejuízos financeiros por conta do descarte do plantel contaminado. Um estudo científico mostra que, somente entre 2004 e 2008, a cisticercose bovina provocou prejuízo de R$ 119 milhões em nível nacional, em valores da época.
LEIA MAIS
Eficiência na reprodução bovina é tema de simpósio na ExpoLondrina
Como a zoonose não é de notificação compulsória, técnicos apontam que esse número esteja subestimado, ou seja, há muito mais casos do que os registrados oficialmente.
Dados divulgados pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) apontam 620 casos de cisticercose bovina em 2021 e outros 331 casos no ano passado.
Entre 2018 e 2020, os municípios paranaenses com maior ocorrência de casos de cisticercose bovina foram Paiçandu, Floraí e Ourizona, na região de Maringá. Em 2021, a maior ocorrência de casos em território paranaense se deu nas regiões de Londrina, Francisco Beltrão e Maringá. No ano passado, mais regiões paranaenses foram acometidas, como Jacarezinho, Umuarama e Ponta Grossa.
PREVENÇÃO
Marta Freitas, fiscal de defesa agropecuária da Adapar, lembra que algumas ações podem prevenir casos de cisticercose bovina, como a vermifugação periódica do rebanho e a adoção de boas práticas de higiene por parte dos humanos, como a lavagem constante das mãos e fazer as necessidades fisiológicas em local adequado.
Os abates devem dispor de um serviço de inspeção para realizar as análises e condenar as amostras que estejam contaminadas. Os níveis de descarte seguem o regulamento denominado RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal).
“A Adapar está em contato direto com a Secretaria Estadual de Saúde para que seja feito o bloqueio dos focos nas propriedades”, explica. A secretaria, por sua vez, adota as práticas de prevenção e controle junto aos humanos.
Rodolpho Werneck Botelho, presidente da Comissão de Bovinocultura de Corte da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), destaca que os índices da zoonose vêm aumentando principalmente onde o manejo da cultura é manual.
“Muitas vezes os trabalhadores volantes fazem as necessidades no campo, em beira d’água, e isso leva à contaminação dos bovinos”, detalha.
Botelho acrescenta que a Comissão de Bovinocultura da Faep vem adotando uma série de ações para controlar a zoonose no Estado.
“Serão produzidos folders explicativos para o produtor rural e para os colaboradores sobre a importância da higiene, da prevenção e da aplicação de vermífugos nas propriedades rurais. Também estamos pedindo para que os frigoríficos e abatedouros comuniquem a Adapar sobre os casos de cisticercose encontrados nos abates dos animais, já que a notificação não é obrigatória”, conclui.
A cisticercose bovina é uma zoonose que causa amplo impacto na saúde animal e na saúde pública. É caracterizada pela presença de cistos na musculatura, órgãos e cérebro, contendo a forma larval da Taenia saginata. Assim, tem como hospedeiro intermediário os bovinos e como hospedeiro definitivo o homem.
O homem se contamina através da ingestão de carne bovina crua ou malpassada, contaminada com cisticerco.
Os bovinos, por sua vez, se contaminam a partir do consumo de água ou via pastagens contendo ovos que chegaram ali através das fezes dos humanos contaminados. Geralmente são fezes defecadas ao ar livre, contendo ovos que são levados através do vento para o pasto ou para a água dos rios.