Carlópolis, na região de Jacarezinho, é o maior produtor de lichia do Paraná. No ano passado, o município produziu 450 toneladas, volume que representa mais de 36% das colheitas da fruta no Estado. O resultado gerou um VBP (Valor Bruto de Produção) de R$ 4,5 milhões – a riqueza advinda da atividade.

“Carlópolis se tornou um grande produtor de lichia devido à grande colônia japonesa, que tem tradição no cultivo da fruta”, explica Luiza Rocha Ribeiro Calixtro, engenheira agrônoma do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural). A cidade abriga hoje cerca de 30 produtores de lichia – a maioria é composta por pequenos produtores. Essa produção é comercializada em grande parte para a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) da capital.

“O maior desafio dos produtores de lichia ainda é o adequado manejo do ácaro da erinose. Outra questão é ter uma precocidade na produção para obter preços mais elevados no período que antecede o Natal e uma menor variação na produção ano a ano”, destaca.

O secretário municipal da Agricultura, Victor José Gervasio, destaca que a pasta tem um convênio com o IDR, órgão que presta assistência técnica aos fruticultores.

“Além disso, temos um convênio com o Sebrae, que presta serviços para cooperativas e associações do município auxiliando na comercialização e na certificação”, conclui.

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FAMILIAR

A engenheira agrônoma Julia Abe é filha de agricultores – os pais vieram do Japão e começaram a plantar lichia em Carlópolis há quase 30 anos. A representante da segunda geração cuida da propriedade atualmente, já que o pai se aposentou.

O início do cultivo da lichia foi para diversificar a produção. Hoje, o pomar é modesto: são 280 pés na propriedade. A expectativa é produzir neste ano em torno de 5 toneladas da fruta, volume bem maior que no ano passado. “Em 2021 passamos por uma geada grave e produzimos menos de 800 quilos”, compara.

Com relação ao preço pago pelo quilo da fruta, Abe não soube citar valores, mas espera que seja mais valorizado que em 2021. “Mas não devemos conseguir produzir para a época do Natal”, pontuou. A explicação para isso é o frio, que acabou atrasando a colheita da fruta.

Outro desafio enfrentado pela agricultora é a prevenção do ácaro que destrói as plantas. Para evitar a praga, Abe explica que o pomar é pulverizado com enxofre. Toda a produção é comercializada para uma cooperativa do município, de maneira que a lichia já é vendida embalada.

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. | Foto: iStock

Concentração na região de Jacarezinho

A produção estadual de lichia está concentrada na região de Jacarezinho (54%). As regiões de Cornélio Procópio (24%) e Maringá (11%) também possuem produções significativas. A fruta está presente em 51 municípios paranaenses e as três regiões acima respondem por quase 90% das colheitas.

Em 2021, no Paraná, a lichia registrou uma área colhida de 175 hectares, onde foram produzidas 1,2 mil toneladas a um VBP (Valor Bruto da Produção) de R$ 12,5 milhões.

Nos últimos dez anos, a cultura apresentou uma redução significativa de 46,2% na área e 58,8% nas colheitas no Paraná.

Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral (Departamento de Economia Rural) – órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento –, explica que a retração pode estar ligada ao menor consumo de frutas de maneira geral.

“A maioria das frutas tem reduzido sua produção no Brasil e também no Paraná. São poucas em ascensão. Como a renda do brasileiro tem reduzido e uma das primeiras coisas que se faz é reduzir o consumo de frutas e hortaliças, está ocorrendo esse fenômeno”, destaca.

Outra explicação para o recuo nas colheitas de lichia está na irregularidade da produção da fruta. “A lichia produz bem em um ano e pode ficar dois, três, quatro anos sem produzir. A pesquisa agropecuária ainda não tem respostas para este distúrbio”, acrescenta.

Nas Ceasas do Paraná foram comercializadas 52,6 toneladas de lichias em 2021, tendo 86,8% dessa quantia origem nos pomares do Estado. São Paulo e Minas Gerais participaram com 10,7% e 2,5%, respectivamente.

FESTAS

“A concentração da oferta em dezembro é evidente, cristalizando a lichia como uma fruta das festas de final de ano, pois 44,2 toneladas (84%) foram comercializadas neste mês em 2021”, destaca o engenheiro agrônomo.

Ele diz que a proximidade com o Natal aumenta a disponibilidade da fruta. “Além de ser um alimento saudável, a lichia é utilizada na decoração das mesas festivas”, conclui.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os estados de São Paulo (54,7%), Minas Gerais (26,5%) e Paraná (13,9%) concentram 95,1% das colheitas de lichia no país. O Censo Agropecuário de 2017 aponta 650 produtores de lichia em território nacional, sendo 100 deles no Paraná