Uma campanha educativa lançada por entidades ligadas à agricultura traz as principais recomendações aos produtores para controle da cigarrinha-do-milho, causadora do enfezamento da cultura, e consequente redução dos prejuízos provocados pela praga.

Entre as medidas de controle indicadas figuram controle do milho voluntário na entressafra, que é hospedeiro da cigarrinha; uso de produtos híbridos com tolerância genética aos enfezamentos; uso de sementes certificadas e tratadas com inseticidas, entre outros.

O fato gerador da campanha foi o grande prejuízo que o enfezamento do milho tem causado nas lavouras paranaenses desde 2019.

Monitoramento das pragas em regiões produtoras de milho safra e de safrinha tem sido realizado pelo IDR desde a safra 2019-2020
Monitoramento das pragas em regiões produtoras de milho safra e de safrinha tem sido realizado pelo IDR desde a safra 2019-2020 | Foto: Jaelson Lucas / AEN

“A grande incidência da praga em todas as regiões do Estado, a severidade com que ela afeta as lavouras e a dificuldade de controle são os fatores que tornam o complexo de enfezamento o grande problema fitossanitário da cultura atualmente”, destaca Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR.

Sistema Faep/Senar-PR, Ocepar, Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), IDR-Paraná e Embrapa se uniram para divulgar a campanha, que está circulando em todos os meios de comunicação do Estado e conta com apoio das cooperativas e sindicatos rurais para atingir o maior número de produtores possível.

Uma das peças da campanha é uma cartilha que traz de forma detalhada, ilustrada e em linguagem acessível a descrição de como o produtor pode identificar a cigarrinha, os sintomas do enfezamento, como ocorre a disseminação e, principalmente, como controlar a praga.

“A cartilha destaca que é necessário o produtor rural adotar o máximo de estratégias de controle que puder, pois não há solução única ou 100% eficiente. O que faz a diferença é que o máximo de produtores adotem o manejo integrado de suas lavouras”, pontua. O material está disponível para download no site www.sistemafaep.org.br e também integra o curso MIP - Manejo Integrado de Pragas – Milho, disponível no catálogo de cursos do Senar-PR.

PERDAS

Michele Regina Lopes da Silva, pesquisadora da área de proteção de plantas do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural)-Paraná, destaca que as maiores perdas em decorrência da cigarrinha-do-milho têm sido relatadas nas safrinhas na região oeste do Estado.

“No município de Marechal Cândido Rondon já existe o programa Alerta Cigarrinha, que vem realizando o monitoramento de cigarrinhas em distritos do município e divulgando boletins nesta região”, pontua.

A técnica acrescenta que os percentuais de perdas reportados por produtores variam de 60% a 70%, principalmente na safrinha da região oeste. “Apesar de ocorrer tanto na safrinha quanto na safra, o enfezamento do milho é mais severo durante a safrinha.”

MONITORAMENTO

O monitoramento das pragas em regiões produtoras de milho safra e de safrinha tem sido realizado pelo IDR desde a safra 2019-2020. Esse levantamento constatou a presença da cigarrinha nessas áreas e a ocorrência de parasitas.

“A partir daí foram realizadas coletas de plantas de milho com sintomas em todas as regiões produtoras e enviadas aos laboratórios de Bacteriologia e de Virologia no IDR-Paraná para a detecção dos patógenos presentes”, explica.

O IDR-Paraná avalia, desde o ano passado, a suscetibilidade dos híbridos mais cultivados no Paraná, trabalho conduzido em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo e as cooperativas Coamo, Cocamar, Copacol e Integrada.

“Com ensaios conduzidos em Assaí, Campo Mourão, Cascavel, Floresta, Londrina e Sete Lagoas (MG), já foram possíveis diferenciar híbridos menos suscetíveis ao enfezamento do milho”, conclui.

AGRAVAMENTO DA DOENÇA

Simone Mendes e Dagma Araújo, pesquisadoras da Embrapa Milho e Sorgo, destacam que a ocorrência e a severidade do enfezamento no milho têm se agravado no Brasil.

“Muitas perguntas ainda precisam de respostas por parte da pesquisa, que certamente viabilizará um manejo mais eficiente. Dessa forma, temos trabalhado em várias parcerias”, destacam.

Segundo as pesquisadoras, um aspecto fundamental é entender a bioecologia da cigarrinha que, apesar de ter o milho como sua única planta hospedeira, pode ficar alojada em outras plantas, como trigo, brachiaria, sorgo e outras.

“Assim, mesmo que a cigarrinha possa ficar alojada em outras plantas no campo, sabemos que a única planta que padece dos enfezamentos no campo é o milho.”

Diante das várias questões a serem respondidas, as linhas de trabalho que têm sido contempladas pela equipe envolvida com o tema na Embrapa e parceiros abrangem o entendimento da bioecologia do inseto e das características da transmissão dos patógenos, métodos para detecção dos patógenos nas plantas e nos insetos, entre outros pontos.

“O problema é complexo, de solução difícil, não havendo uma única estratégia que traga a redução necessária da cigarrinha com consequente redução dos enfezamentos. Por isso é fundamental que o produtor esteja munido de informações corretas e adequadas e que as aplique”, pontuam.

REDE

Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, anunciou que entrará em atividade, no primeiro semestre deste ano, a Rede Paranaense de Agropesquisa – Complexo de Enfezamento do Milho.

Ao todo, sete instituições de ensino, pesquisa e extensão receberão recursos para desenvolver estudos voltados ao monitoramento da praga e das doenças, testes de cultivares e de inseticidas sintéticos e biológicos com maior eficiência no controle do enfezamento.

A Rede é uma ação da Secretaria da Agricultura e da Seti (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), além de Faep, Ocepar e Fetaep (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná). Os projetos de pesquisa da Rede contam com o apoio financeiro da Seti, Fundação Araucária e do Sistema Faep/Senar