Boa qualidade do café paranaense
PUBLICAÇÃO
sábado, 29 de janeiro de 2000
Jota Oliveira
De Londrina
Para orientar como deveria ser a nova cafeicultura paranaense após a geada negra de julho de 1975 a pior da história da cafeicultura brasileira , foram gastos alguns anos, desde a projeção à validação do sistema de plantio adensado, por pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Esse sistema possibilitou aumento de produção, de produtividade e a melhoria da qualidade.
A boa qualidade do produto que surgiu da pesquisa foi demonstrada por uma pesquisa da qual participaram várias instituições, em parceria: Secretaria da Agricultura, representada pelo Departamento de Economia Rural (Deral), Emater, Iapar, Centro do Comércio do Café do Norte do Paraná e Departamento de Café (Decaf, do Ministério da Agricultura).
Analisando 600 amostras de café beneficiado, de 210 municípios (eram esperadas 300 amostras), essa pesquisa concluiu que 76% são de qualidade superior, segundo o economista Paulo Sérgio Franzini, do Deral. A base desse trabalho foi o Programa de Revitalização da Cafeicultura Paranaense, que tornou possível aumentar a produção de 167 mil sacas em 1995 para 2,4 milhões de sacas em 1999. Técnicos do Estado, entre eles o próprio Franzini, levaram a experiência ao 1º Encontro Nacional dos Cafés do Brasil, realizado ontem em Belo Horizonte, MG.
PropostaA pesquisa informa o economista do Deral foi feita dentro do projeto Paraná Qualidade, lançado no ano passado. Um dos propósitos era, como instrumento do Programa de Revitalização da Cafeicultura Paranaense, tornar o produto melhor, para ser mais competitivo nos mercados
interno e externo.
Um dos instrumentos para atingir essa meta, definido logo no começo, é a colheita no pano e já está dando resultado. Outro meio é o produtor conhecer a qualidade do seu café antes de comercializar. Tem que conhecer bebida e tipo, não apenas a renda, orienta o técnico. Ele acrescenta que o primeiro dos avaliadores da campanha de revitalização é a qualidade da colheita de 99.
As amostras coletadas na pesquisa foram depois preparadas pelo Iapar e Decaf. O provador foi o Centro do Comércio de Café do Norte do Paraná, também parceiro do trabalho inédito.
FN27>AmostragemPara saber como anda a qualidade do café paranaense, os técnicos fizeram aquela amostragem, somando as bebidas dura para melhor (tipo 6), dura, apenas mole ou mole.
Isso mostra o resultado dos muitos dias-de-campo que fizemos para treinar os produtores quanto às técnicas de colheita. E a colheita no pano foi bem aceita. Antes, apenas 36% da colheita eram feitos no pano. Na safra 99 subiu para 46% e se espera que em 2002 sejam colhidos no pano 75% da safra. O Paraná colhe café de maio a julho, mesmo período de Minas Gerais, Mato Grosso e outros Estados. A colheita no pano garante melhor qualidade, porque possibilita melhor porcentagem (69%) de grãos maduros, impede o contato direto dos frutos com o chão e contém apenas 5% de impurezas (basicamente pedacinhos de ramos e de folhas), entre outros fatores.
Antes do sistema adensado, o produtor conhecia a qualidade de apenas 24% do café comercializado no Estado. O objetivo é aumentar para 60% em 2002 e que 75% deles conheçam a qualidade pela degustação (bebida). Novo levantamento será feito pelo grupo em março. Essa pesquisa mostrará os números finais da safra 99.
BeneficiamentoPara limpar e vender conhecendo a qualidade do seu café, os cafeicultores precisam beneficiar a colheita antes de a colocar no mercado. Então eles precisam ter acesso a máquinas de beneficiamento fixas ou volantes e, para comprar um equipamento desses, podem se organizar em grupos ou associações. Franzini lembra que o programa Paraná 12 Meses tem linhas de financiamento para isso, e observa que a venda de máquinas ambulantes de beneficiar tem aumentado.
Ele destaca ainda que o projeto, que envolve as instituições e produtores, elimina a má-fama do café paranaense, antes tido como de má-qualidade.
O técnico Paulo Franzini lembra também da diferença significativa de preço no mercado quando o cafeicultor vende sua safra já beneficiada e conhece o tipo de bebida. Uma saca de 60 quilos de café em coco (sem beneficiamento) é vendida a R$186,00, enquanto a mesma saca beneficiada pode ser comercializada a R$210.
Este preço é pago por um produto classificado como tipo 6 (bebida dura), um café de qualidade. Para beneficiar o produto, o cafeicutor tem um custo aproximado de R$10,00. Sobram, do sobrepreço, R$14,00-R$15,00 por saca.
A base do melhoramento foi o Programa de Revitalização da Cafeicultura Paranaense, que garantiu a retomada da produção de café nos últimos anos: a produção passou de 167 mil sacas em 1995 para 2,4 milhões de sacas em 1999. A experiência do Paraná foi um dos destaques do 1º Encontro Nacional dos Cafés do Brasil, realizado ontem em Belo Horizonte.
Pacote tecnológicoO Programa de Revitalização da Cafeicultura Paranaense preconiza a adoção de um pacote tecnológico de que o café participa como diversificador da atividade agrícola e fator de sustentabilidade da produção. Franzini afirma que o programa de plantio adensado garantiu uma redução de aproximadamente 30% nos custos da lavoura, o que permite ao produtor ser competitivo mesmo em anos de mercado em baixa, além da melhorar a qualidade.
Segundo o economista Paulo Sérgio Franzini, do Departamento de Economia Rural (Deral) o plantio adensado responde por 25% da área de café no Paraná. O sistema consiste no plantio de um número maior de pés por área. São 40 mil hectares plantados no sistema adensado, de um total cultivado de 156 mil hectares.