Representante da avicultura, o Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná) emitiu um alerta sobre a grave situação enfrentada pelos setores produtivos responsáveis por três das proteínas animais estratégicas para a segurança alimentar da população: o frango, a carne suína e o ovo.

Logo no início da pandemia, o setor foi convocado para garantir o abastecimento desses alimentos básicos. Segundo o presidente do Sindiavipar, Irineo da Costa Rodrigues, foram investidos bilhões pelo setor produtivo para ampliar a oferta de alimentos à população.

O presidente do Sindiavipar, Irineo da Costa Rodrigues: “Medidas rápidas são emergenciais”
O presidente do Sindiavipar, Irineo da Costa Rodrigues: “Medidas rápidas são emergenciais” | Foto: Divulgação/LAR

Com o investimento, a produção de todas as proteínas teve alta desde então no País, seja em aves (6,5% de alta), suínos (5,5%) ou ovos (9,1% de aumento).

Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), entidade à qual o sindicato é filiado, o Paraná é um dos principais colaboradores nesse contexto, ao ofertar, no ano passado, 35,47% do total da carne de frango produzida no País – 4,91 milhões de toneladas, entre um total nacional de 13,85 milhões de toneladas. Além disso, o Estado foi responsável por 21% da produção nacional de carne suína – 936 mil toneladas entre um total de 4,5 milhões de toneladas.

“Entretanto, durante esse período, um quadro de forte especulação atingiu esses setores. O milho e a soja, insumos básicos que compõem 70% dos custos de produção, acumularam altas nunca registradas no País. No caso do milho, houve registros superiores a 100% em diversas praças consumidoras do Brasil”, declarou o presidente do sindicato.

Imagem ilustrativa da imagem Avicultura e suinocultura pedem socorro e já projetam desabastecimento e desemprego
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Segundo dados da Cepea-Esalq/USP, na região Oeste do Paraná houve aumentos superiores a 115%. Na soja, a alta do preço médio, na comparação do primeiro quadrimestre de 2021 com o mesmo período do ano passado, superou 98%.

A essas altas também se adicionam outras que compõem os custos de produção da atividade, como o óleo diesel (+30%), a embalagem de papelão (+60%) e as embalagens rígidas e flexíveis (+80%).

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Em 12 meses, conforme o monitoramento feito pelo ICP (Índice de Custos de Produção) da Embrapa Suínos e Aves mais recente (abril de 2021), produzir frango está 43,4% mais caro no Brasil em relação a abril de 2020 – que já era um momento de forte alta de custos. O mesmo ocorre com o setor de suínos, com alta de 44,5%.

Os efeitos nocivos dessa forte especulação sobre os insumos já alcançam o consumidor, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE.

“O consequente e inevitável repasse ao consumidor já está nas gôndolas, mas em patamares que ainda não alcançam os níveis de custos. E há outro agravante: a carne de aves, de suínos e ovos, que hoje está com preço mais elevado, foi produzida utilizando grãos adquiridos em 2020, quando os valores por tonelada eram menores. Por isso, novas elevações de preços deverão alcançar a população nos próximos meses, em um momento crítico para a renda e para a segurança alimentar de nosso país”, destaca Rodrigues.

Segundo ele, são 4 milhões de empregos diretos e indiretos da avicultura e da suinocultura em todo o País e a segurança alimentar da população que estão em jogo. “Medidas rápidas são emergenciais para evitar que o quadro de perda de renda seja impactado pela redução de acesso a alimentos básicos”, concluiu.

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Entidades solicitam medidas para setor de proteína animal ganhar competitividade

Associação Paranaense de Avicultura critica a falta de um estoque regulador e de uma política protecionista

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Para evitar que o quadro se agrave ainda mais, as entidades setoriais solicitaram ao governo medidas para que o setor de proteína animal do Brasil tenha igualdade de competição pelos insumos em relação ao mercado internacional, evitando a desindustrialização e a perda de postos de trabalho, especialmente em cidades no interior do País.

Ao mesmo tempo, as entidades buscam a redução da desigualdade de condições que existem entre importar e exportar grãos.

Entre as medidas reivindicadas, figuram a suspensão temporária de cobrança de PIS e Cofins para importações de países extra Mercosul e sobre os fretes realizados no mercado interno; financiamento para construção de armazéns e realização de armazenagem para os produtos, além de políticas de incentivo de plantio de milho e de cereais de inverno no Brasil (leia mais no quadro).

O presidente da Apavi (Associação Paranaense de Avicultura), Tohoru Furukawa, critica a falta de um estoque regulador e de uma política por parte do governo para proteger os preços do milho e da soja, principais componentes das rações.

“Como há um excesso momentâneo na produção no País, o Paraná vem recebendo muitas cargas de ovos, principalmente do Estado de São Paulo, com ofertas derrubando os preços, prejudicando os produtores paranaenses.”

Furukawa acrescenta que 2021 deverá ser mais difícil do que o ano passado. “Com o advento da Covid-19, a atividade ainda não estava apresentando prejuízos. Muitos ainda tinham estoques, principalmente de milho, que ainda estava com preço acessível nos mercados interno e internacional. O dólar, por sua vez, estava na casa de R$ 4,20 no início do ano passado.”

Ele acrescenta que, apesar de o Brasil ter tido uma super safra de soja e uma safra recorde de milho, com o início da pandemia houve seguidas altas, tanto nos preços internacionais como no nacional.

Algumas granjas encerraram as atividades e praticamente todos os outros produtores reduziram drasticamente o plantel.

“Esta crise é geral em todos os Estados, e isso deverá afetar a produção de ovos”, pontuou. Hoje, o Paraná abriga mais de 200 granjas de aves poedeiras (destinadas à produção de ovos). Do total do ovo produzido no Estado, menos de 5% é exportado, ou seja, a grande maioria abastece o mercado interno.

“Os preços dos insumos, como soja e milho, também continuam altos no mercado internacional, o que reflete também nos custos de outros países. Mas muitos deles, como os Estados Unidos, conseguem repassar aos seus consumidores, pois têm o poder de industrializar caso não vendam.”

Em meio a esse cenário difícil para os produtores, o Brasil vem batendo recorde de consumo de ovos per capita. “Hoje o consumo per capita está em 260 ovos por habitante ao ano, e as perspectivas são de aumento ano após ano”. Em 2020, o consumo brasileiro ficou em 251 ovos por ano.

“Estamos enfrentando muitas dificuldades, mas somos fortes e temos no sangue a força do agricultor brasileiro. Neste momento, precisamos de toda ajuda possível. Aos paranaenses, peço que continuem a comer ovos e, se possível, na hora da compra valorizem o nosso produto”, conclui.

Governo federal anuncia medidas

O diretor de Comercialização e Abastecimento da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, anunciou que uma Medida Provisória que prevê a compra de até 200 mil toneladas de milho dos pequenos produtores deverá sair até o final de junho, assim que for divulgado o Plano Safra.

“Já passou pelo Ministério da Economia, foi vista à exaustão, já tratamos disso com outras secretarias do ministério, todas sensíveis à causa. O nosso jurídico está dando a última leitura para encaminhar à Casa Civil”, falou em entrevista à FOLHA.

O governo suspendeu, em abril, a alíquota do imposto de importação aplicada ao milho, à soja, ao óleo de soja e ao farejo de soja. O objetivo é combater o cenário dos preços dos alimentos em alta no mercado interno e o real fraco aumentando a demanda externa por produtos brasileiros. A medida valerá até o final do ano. “A ministra da Agricultura [Tereza Cristina] está negociando a questão dos transgênicos”, disse.

Sobre a viabilização técnica das importações de milho e soja reivindicada pelas entidades, Farnese declarou que o governo está acertando com a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que esses registros sejam providenciados para liberar o desembarque das commodities.

Mudanças tributárias

O subsecretário de Política Agrícola e Negócios Ambientais do Ministério da Economia, Rogerio Boueri, adiantou que demandas do setor produtivo que envolvem modificações tributárias, como a suspensão da cobrança de PIS e Cofins, não devem ser atendidas.

“Embora a gente ache que faz sentido, é difícil fazer. Para você tirar imposto de algum lugar, você tem que colocar esse imposto em um outro lugar. Não pode simplesmente abrir mão de arrecadação. Você tem que tributar maior outro grupo de produtos e isso é complicado”, destacou.

O subsecretário acrescenta que está sendo preparado um ofício que deverá ser assinado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ou pelo secretário especial de Fazenda, Bruno Funchal, em resposta às reivindicações do setor produtivo.

EstUdo profundo

Em relação a demanda dos avicultores e suinocultores, a Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná declarou por meio de nota que “o Estado está atento e preocupado com a situação interna da escassez de produtos para ração, decorrente, sobretudo, da forte estiagem que alterou os períodos mais propícios ao plantio, além de acompanhar, com a mesma inquietude, a pressão internacional sobre preços, que eleva o custo de produção. Em razão disso, estuda de maneira profunda o tema. Há um grupo formado por integrantes, tanto do setor público quanto privado, analisando as melhores estratégias para enfrentar a questão.

(Colaborou Patrícia Maria Alves/ Editora)