No comportamento natural, a galinha procura pelo alimento, cisca, gosta de empoleirar e colocar os ovos em local mais reservado
No comportamento natural, a galinha procura pelo alimento, cisca, gosta de empoleirar e colocar os ovos em local mais reservado | Foto: Geraldo Lazzari/Divulgação

São vários os formatos de produção dentro do sistema mais “humanizado” da produção de ovos. O consumidor já pode, inclusive, optar por certificações com normas diferenciadas em relação ao nível de bem-estar animal nas granjas. Por exemplo, existem granjas que vão trabalhar com as galinhas soltas, mas dentro de galpões. Avançando nesse sentido, há galinhas que estarão soltas em ambientes abertos, no campo mesmo (“caipiras” ou “free-range”). Por fim, existem ainda as que estarão no campo aberto e ainda se alimentando de ração com grãos orgânicos, atingindo um patamar diferenciado nos pilares de bem-estar, sustentabilidade e, claro, valor agregado ao produto.

Instituto Certified Humane Brasil é uma entidade sem fins lucrativos criada há três anos. Ela representa na América Latina a ONG norte-americana HFAC (Humane Farm Animal Care) e gerencia o programa de certificação de bem-estar animal para produtores e empresas na região. Foram os norte-americanos que criaram as normas relacionadas ao bem-estar por meio de um comitê científico que conta com 40 especialistas de todo mundo, inclusive quatro brasileiros. Hoje, os principais produtores e empresas que atuam com galinhas livres de gaiolas procuram a certificação da Humane Brasil. Entretanto, esse tipo de trabalho acontece no País desde 2009, com a certificadora Ecocert.

De acordo com as entidades, a produção de ovos no sistema convencional se assemelha a “fazendas industriais”, utilizando tecnologias que lembram uma linha de montagem. Segundo a certificadora, “os animais são comprimidos no menor espaço possível e são empregadas técnicas que maximizam suas taxas de crescimento. Esse sistema industrial causa problemas às pessoas envolvidas com a produção, ao meio ambiente, aos consumidores e evidentemente aos animais.”

icon-aspas “Hoje o consumidor quer saber de onde vem a comida e não se importa em pagar um pouco mais por isso”

Luiz Mazzon é presidente do Instituto Certified Humane Brasil e, de acordo com ele, a ideia é que o mercado faça uma pressão para que os produtores mudem suas práticas de manejo, escolhendo produtos diferenciados. “Nos EUA e Europa essa pressão acontece faz tempo e no Brasil começou forte há dois anos. Muitas empresas estão fazendo anúncios no mercado que a partir de 2020 vão começar a comprar apenas ovos de galinhas livres.”

Mazzon ressalta que no sistema convencional, a galinha passa toda a sua vida – em torno de dois anos – “no espaço de uma folha A4”, dentro de uma grade e sem nenhum comportamento natural. “É pior que um campo de concentração. No seu comportamento natural , ela procura pelo alimento, cisca, faz banho de poeira para limpeza, gosta de empoleirar para se sentir mais protegida e colocar os ovos num local mais reservado.”

Portanto, para o presidente da certificadora, as “aves precisam ser pensadas como indivíduos, e não como um lote de produção”. Para isso, é preciso mudar uma chave na cabeça do produtor e, assim, ele pensar novas formas de manejo para dar às aves uma vida mais digna. “A estrutura em si não é complexa, ele vai precisar, por exemplo, adaptar um galpão que já tem com as matrizes, com substrato sempre limpo e não contaminado, 15 centímetros de poleiro por ave, número de comedouros e bebedouros que evite competição por alimentos, não ter antibiótico preventivo na ração, área de enfermaria dentro do galpão, entre outros fatores. Isso faz com que a ave responda de uma forma diferente e o produtor não está acostumado com isso.”

Pensando diferente, o produtor começa a lidar com as adversidades da granja de outra forma, avaliando o comportamento das aves. Um exemplo prático: se ele tem o amontoamento de aves e em algum ponto do aviário em que os animais estão morrendo sufocados, ao invés de colocar fios elétricos para que não se acumulem no local, ele investiga o que está acontecendo para que elas estejam se concentrando lá. “Um produtor percebeu que uma folha de palmeira batia no galpão devido ao vento e assustava as galinhas, que se concentravam em um lugar. Em outro caso, um raio de luz atraia as avespara um ponto fixo ”, cita Mazzon.

Em relação a valores, ele comenta que as certificações dependem de cada caso, variando de R$ 2,5 mil a R$ 20 mil por ano. “Os níveis de produtividade podem aumentar. Tivemos uma propriedade onde as galinhas colocavam um ovo a cada 28 horas e passou a fazer isso em 26 horas. O manejo, por outro lado, é mais caro, já que a galinha se alimenta mais por estar mais ativa. Por outro lado, é possível cobrar mais caro pelo produto, além de ter acesso a novos mercados. Hoje o consumidor quer saber de onde vem a comida e não se importa em pagar um pouco mais por isso.”