Assim como os alunos da escola convencional voltam às aulas em fevereiro, os agricultores de mais de 40 municípios do Paraná e de Santa Catarina também têm um compromisso com os ‘‘bancos escolares’’ no primeiro trimestre de cada ano. São os cooperados da Coooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo), que participam de verdadeiras aulas de tecnologia agrícola durante o encontro anual dos produtores, realizado na semana passada.
Durante uma semana, a escola dos cooperados é a Fazenda Experimental da Coamo, em Campo Mourão. As salas de aula são estações de demonstração de pesquisas montadas entre 170 hectares da propriedade. Os professores são pesquisadores da Embrapa, do Iapar, da Emater, da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual de Londrina, além de técnicos da própria Coamo.
DestaquesDas 10 estações montadas este ano pela Coamo no 13º Encontro de Cooperados, três chamaram mais a atenção dos agricultores. Uma delas foi a estação da ‘‘Integração Lavoura x Pecuária’’. A cooperativa mostrou, na prática, que é possível um bom rendimento usando uma parte de uma propriedade agrícola para a pecuária. ‘‘O encontro deste ano consolidou essa integração’’, explica o responsável pela Fazenda Experimental, Joaquim Mariano Costa.
O sistema é simples. O gado fica no pasto tradicional no verão e, enquanto o produtor continua com a safra de soja ou milho. No inverno, com o pasto enfraquecido, o gado vai para a área agrícola, que passa a contar com aveia ou azevém. ‘‘O produtor ganha dinheiro com a pecuária sem deixar de ser um produtor de milho ou soja’’, explica Costa. Segundo ele, o ganho em peso dos animais é semelhante ao confinamento.
Os cooperados também tiveram uma aula sobre o manejo da física do solo. Através de experimentos, eles viram a queda do rendimento da produção devido à compactação do solo e aprenderam como evitar que isso aconteça. ‘‘Rotação de culturas e plantio direto’’, aconselhou o agrônomo Roberto Bueno. Onde o solo já está compactado, explicações de como fazer a escarificação e alertas para somente usar o procedimento com recomendação técnica.
Devido à lei federal que obriga, a partir de junho, a devolução das embalagens de agrotóxicos, a Coamo montou uma estação para orientar os cooperados. ‘‘A tríplice lavagem deixa de ser uma recomendação para se tornar uma obrigação’’, explica Costa. ‘‘E se o produtor não fizer essa lavagem bem feita, o revendedor não vai aceitar a embalagem de volta’’.
ParticipaçãoPara participar do encontro, os cooperados têm que madrugar. Souza, por exemplo, saiu de Abelardo Luz às 23 horas. ‘‘Vale a pena. É um dia de trabalho em que a gente aprende muito’’, frisa. Os agricultores chegam em caravanas de ônibus e são recepcionados com um café da manhã. Após um discurso rápido do presidente da cooperativa e de um pesquisador, eles são distribuídos em equipes e passam a percorrer as estações, onde estão os ‘‘professores’’ e os experimentos que comprovam as teorias.
‘‘É um encontro de trabalho’’, ressalta Costa. Descanso, só no rápido intervalo para o almoço, também servido no local. As aulas não param nem com chuva. Cada estação tem uma área coberta, uma verdadeira sala de aula. Para checar os experimentos, em área aberta, existem capas de chuva descartáveis para todos. ‘‘Os cooperados vêm aqui para aprender novas tecnologias e implantá-las em suas propriedades’’, explica Costa.
Privilégio ‘‘Reunir tantos pesquisadores e técnicos à disposição dos cooperados é um privilégio que nem os estudantes de agronomia têm’’, diz o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini, Os ‘‘alunos’’ vêm de todas as regiões da área de ação da cooperativa. Para facilitar o aprendizado, as aulas são regionalizadas. A cada dia da semana participam cooperados de uma região de abrangência da Coamo.
Ao todo, cerca de três mil agropecuaristas participaram do 13º Encontro de Cooperados. Nos dias seguintes, outras 700 pessoas, entre técnicos e estudantes de agronomia e veterinária, também tiveram acesso às apresentações nas estações montadas na Fazenda Experimental.