Após pressão de investidores, BC inclui sustentabilidade em agenda institucional
A questão ambiental entrou na ordem do dia e o Banco Central prevê aumentar em até 20% os limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de setembro de 2020
A questão ambiental entrou na ordem do dia e o Banco Central prevê aumentar em até 20% os limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade
Larissa Garcia /Folhapress
Brasília - O Banco Central incluiu, o tema sustentabilidade em sua agenda institucional, chamada de Agenda BC#. Com a iniciativa, a autoridade monetária segue tendência do mercado financeiro global e cede à pressão de investidores e empresas por uma retomada econômica mais sensível às causas ambientais. "A questão ambiental definitivamente entrou na ordem do dia", frisou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento de apresentação das novas ações. "Há um mito de que sustentabilidade reduz a produtividade, mas isso não existe", completou.
Além de medidas internas, as novas iniciativas são relacionadas às políticas de crédito, de supervisão e regulação voltadas à sustentabilidade. O BC vai incluir, por exemplo, o conceito de risco climático na regulação e nos testes de estresse (quando é simulado o pior cenário econômico e como o sistema financeiro se comportaria).
"Resultados ruins nos testes de estresse vão requerer mais capital para fazer frente aos riscos, então instituições financeiras vão ter atenção especial a esse critério e vão se adaptando imediatamente, mesmo que a regulação fique para 2022", disse o diretor de regulação do BC, Otávio Damaso.
A agenda também prevê aumentar em até 20% nos limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade. A autarquia vai produzir relatório anual de riscos socioambientais do BC, como forma de prestação de contas.
Além disso, a autoridade monetária pretende incluir critérios de sustentabilidade para a seleção de empresas que gerenciam as reservas internacionais e para a seleção dos investimentos. Internamente, a agenda traz ações como redução do impacto ambiental nos de meio circulante (produção e distribuição de papel-moeda). Haverá ainda incentivo ao uso de bicicleta e carona solidária, à reciclagem e redução do uso de plásticos no BC. "As ações incluídas no pilar sustentabilidade englobam medidas de responsabilidade socioambiental direcionadas tanto ao sistema financeiro quanto ao próprio BC", disse a diretora de assuntos internacionais da autarquia, Fernanda Nechio.
A diretora afirmou que eventos climáticos se tornaram mais recentes. "Eles vêm acompanhados de alterações nas principais variáveis econômicas, além de trazerem riscos significativos para o sistema financeiro. Choques climáticos afetam preços relativos na economia e, portanto, podem ter impactos sobre nossas decisões de política monetária", explicou. A agenda divulga medidas a serem tomadas pelo BC no curto, médio e longo prazos. Antes, ela tinha os assuntos inclusão, competitividade, transparência e educação. Agora, foi incluído o tema sustentabilidade.
Nos últimos meses, o Brasil sofreu pressão dos investidores, economistas e empresas do resto do mundo e internos para que o país adote ações mais sustentáveis, principalmente com relação ao desmatamento na Amazônia.