Após uma alta expressiva superior a 77% em um ano, o preço do leite no Paraná começou a cair. Segundo levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o preço do litro do leite longa vida atingiu R$ 6,96 no varejo em julho deste ano.

Médico veterinário do Deral, Thiago De Marchi explica que, com o fim da entressafra, queda nos preços dos combustíveis em decorrência do menor preço do barril de petróleo e novas políticas tributárias adotadas pelo governo federal, o produto já registrou uma queda de aproximadamente 8% em agosto. “Essa tendência deve se repetir em setembro”, destaca.

Para produtores rurais, no entanto, o preço pago pelo leite no campo não acompanhou a disparada verificada no varejo
Para produtores rurais, no entanto, o preço pago pelo leite no campo não acompanhou a disparada verificada no varejo | Foto: iStock

O técnico acrescenta que o aumento na oferta de milho também deve contribuir para sustentar a baixa dos preços nas gôndolas dos mercados.

“Outro fator que impactou no preço dos lácteos foi o aumento das importações, que supriram a baixa disponibilidade de matéria-prima nos laticínios. No mês de agosto, o Brasil importou 13.000 toneladas de lácteos, um aumento de 39% em comparação ao mesmo mês de 2021”, comparou.

A Apras (Associação Paranaense de Supermercados) não possui um estudo que acompanha o preço do leite no Estado.

No entanto, um estudo do Departamento de Economia e Pesquisa da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) aponta que, em apenas um mês (entre junho e julho deste ano), o preço do leite longa vida no varejo aumentou 25,46%. A pesquisa mostra ainda que 71% dos consumidores trocaram de marca do leite longa vida recentemente para tentar driblar a alta excessiva.

DESCOMPASSO

Para os produtores rurais, no entanto, o preço pago pelo leite no campo não acompanhou a disparada verificada no varejo. Entre agosto de 2021 e julho deste ano, quando a alta para o consumidor beirou os 80%, o preço pago aos produtores subiu menos que 30%.

O produtor de leite Claudio Seyfert relembra que recebeu R$ 2,35 pelo litro de leite em agosto de 2021. Em julho deste ano, o preço subiu para R$ 3. Além da alta não acompanhar o varejo, ele destaca o aumento nos custos de produção nesse período. “Com certeza subiu mais de 20%”, contabiliza.

Ao fazer as contas, o produtor destaca que o custo para produzir 1 litro de leite em setembro ficou em R$ 2,85. “O laticínio me sinalizou uma queda de 40 centavos no preço do litro. Com isso, a projeção é que paguem R$ 2,60 agora em setembro. Trabalhamos sem saber quanto vamos receber pelo leite”, explica.

Caso a projeção se confirme, o preço pago ao produtor nem cobrirá os custos de produção. “Tem meses que temos lucro e outros não, a margem é muito pequena pelo trabalho que dá”, pontua. Hoje, 100% da produção é comercializada para uma indústria de alimentos.

No ano passado, Claudio produziu 500 mil litros de leite. Neste ano, a expectativa é aumentar a produção em 10%, chegando a 550 mil litros. Todo o leite é produto da ordenha de 57 vacas que o produtor mantém na sua propriedade em Lapa, na região dos Campos Gerais.

DESAFIOS

O médico veterinário do Deral destaca que os altos custos de produção figuram entre os principais desafios dos produtores de leite, além da falta de mão de obra e o altíssimo custo para especializar e tecnificar a produção.

“Falta mão de obra, principalmente pelo fato de os mais jovens, filhos e netos de produtores, buscarem outras carreiras longe do campo. Como a produção de leite no Paraná, fora algumas exceções, é uma atividade principalmente familiar, os produtores sofrem com a falta de recursos para investir na melhoria tecnológica dos equipamentos e rebanho”, pontua.

Segundo estado que mais produz leite

O Paraná é o segundo Estado que mais produz leite no Brasil, ficando atrás apenas de Minas Gerais. Em menor ou maior escala, a produção de leite está presente em todos os 399 municípios paranaenses.

O leite é a terceira cultura com maior VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) do Estado, atingindo R$ 9 bilhões em 2021 e participação de 5% no agronegócio – fica atrás da soja (1ª safra), com VBP de R$ 50,9 bilhões e 28,2% de participação; e do frango de corte – VBP de R$ 32,5 bilhões e 18,03%.