Com apenas 22 mil habitantes, o município de Altônia, na região de Umuarama, produz metade da produção de jaca de todo o Estado do Paraná. Segundo os dados mais atualizados do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria da Agricultura do Estado, Altônia produziu 600 toneladas da fruta em 2019, em 10 hectares, o que movimentou R$ 222 mil.

Para se ter uma ideia da alta representatividade do município, o VBP (Valor Bruto da Produção) gerado pela cultura da jaca alcançou R$ 443 mil em todo o Estado no mesmo período, proveniente da produção de 1.197 toneladas em 21 cidades paranaenses.

As jaqueiras começaram a surgir em Altônia como forma de dar conforto para os agricultores que passavam o dia na colheita de café, ou seja, eram coadjuvantes.

“Como é uma árvore de porte muito grande, bem resistente e com folhas o ano inteiro, era muito utilizada para dar sombra aos trabalhadores nos pés de café. O fruto era para a alimentação própria da família, dos vizinhos e dos animais da propriedade”, explica Paulo Cezar Lavaqui, técnico em agropecuária da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Turismo.

As árvores eram plantadas à beira dos corredores nos cafezais para fazer sombra para os trabalhadores. Ali, embaixo do frondoso pé da fruta, eles podiam fazer as refeições e se refrescar muito bem protegidos do sol.

As jaqueiras ainda tinham mais uma função: serviam de quebra-vento para os pés de café, melhorando as condições da produção.

Lavaqui relembra que o café foi extinto de Altônia no final da década de 1980 por doenças não controladas que acabaram com os pés. As jacas, por sua vez, resistiram e ganharam maior protagonismo a partir dessa época. Agora dividem espaço com outras culturas, como limão, abacate, banana e manga.

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente Agricultura e Turismo, Altônia conta hoje com cerca de 50 produtores de jaca, que de maneira geral comercializam o fruto por meio de intermediários. Cerca de 10% deles, no entanto, fazem a comercialização direta para o Ceasa de Curitiba.

É o caso do produtor Ricardo Casemiro dos Santos, que na época da safra viaja toda semana até a Ceasa de Curitiba para comercializar a jaca produzida em sua propriedade localizada em Altônia.

QUILOMETRAGEM

Ao todo, são 1.400 quilômetros percorridos no trajeto de ida e volta, sendo que Ricardo entrega entre 300 kg e 400 kg de jaca semanalmente. A fruta é comercializada em Curitiba e na Região Metropolitana, mas também há compradores de outros Estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por ano, Ricardo produz até 5 toneladas da fruta.

“A jaca ganhou um espaço maior na minha propriedade há 24 anos, quando a gente começou a comercializar na Ceasa. Além da jaca, tenho produção de manga, abacate e limão. A jaca ajuda muito no meu orçamento hoje: representa cerca de 20% da minha rentabilidade, é uma produção lucrativa”, pontua.

Ricardo relembra que os pés de jaca surgiram na sua propriedade como meros coadjuvantes, com o papel de fazer sombra para os animais e para as pessoas. O fruto inicialmente era apenas consumido pela família, ganhando escala somente a partir de 1997, quando o produtor começou a vender para a Ceasa.

“O mercado da jaca está melhorando a cada ano, já que o tipo de consumo vem tendo cada vez mais variedade. Tem carne, pastel, coxinha de jaca. Esse desenvolvimento da culinária desenvolve o cultivo e aumenta o poder de venda da fruta”, explica. Tem até jaca atolada, versão vegana da vaca atolada.

Ricardo explica que o manejo da jaca é muito simples. “A jaca é uma fruta orgânica, não utiliza nada no fruto. Às vezes, usamos no solo algum adubo orgânico. E só”, conta. A estrutura para tirar as jacas do pé é 100% manual – um dos filhos de Ricardo sobe no pé com uma faca e ficam 2 homens embaixo com uma lona para segurar o fruto imenso.

O filho mais velho de Ricardo, Matheus Augusto, 24, e o do meio, Murilo, 20 anos, ajudam o pai na produção e na colheita. “Além da família, tenho mais 4 funcionários para me ajudar”, conclui.

REGIÃO

A região de Umuarama, da qual Altônia faz parte, é a maior produtora de jaca do Estado. Também fazem parte da região São Jorge do Patrocínio, o segundo maior município produtor do Paraná, com 180 toneladas de jaca que movimentaram R$ 66,6 mil em 2019, e Esperança Nova, na terceira colocação, com 120 toneladas que movimentaram R$ 44,4 mil no mesmo ano.

COMERCIALIZAÇÃO

Em 2020, os produtores paranaenses comercializaram 94.7 toneladas de jaca nas unidades da Ceasa, com movimentação financeira de R$ 290,3 mil, a um preço médio de R$ 3,07/kg, sendo que 85,8% das vendas ocorreram entre outubro e março.

“Das 35 frutas aferidas, a jaca está ranqueada como a 29ª em volumes e a 39ª em valores. Traço estatístico ante as 575,5 mil toneladas e R$ 1,6 bilhão de negócios em 2020”, afirmou Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral.

Ele acrescenta que a produção de jaca hoje é uma atividade secundária, marginal, em que o agricultor atua com um produto principal e completa a carga com a jaca. “Ou destina a produção para uma Central de Abastecimento-atacado, ou enche o caminhãozinho e vende direto ao consumidor.”

Segundo o técnico, nem nas históricas Pesquisas de Orçamento Familiar do IBGE, que quantifica a aquisição alimentar per capita, o consumo de jaca é aferido.

“A fruta deve permanecer no nicho de mercado das alimentações vegetarianas/veganas. Este público vem aumentando o consumo, e a produção no campo reage para atender a demanda”, conclui.