Produzir alimentos sem agrotóxico tornou-se essencial com o crescimento do consumo de orgânicos no país
Produzir alimentos sem agrotóxico tornou-se essencial com o crescimento do consumo de orgânicos no país | Foto: iStock

A preocupação do consumidor com a alimentação é uma crescente, seja por questões de saúde ou ambientais. Antes de comprar o produto que vai à mesa, os consumidores levam em consideração as condições de produção do alimento e isso ficou ainda mais evidente com a pandemia.

Segundo levantamento da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o setor orgânico apresentou alta de 30% nas vendas em 2020, movimentando R$ 5,8 bilhões. Ainda segundo a entidade, o mercado de orgânicos continua crescendo em 2021, mostrando que os números de 2020 não são apenas um acontecimento fora da curva, mas sim, uma tendência.

Por isso, para acompanhar a atividade desse setor, se faz importante buscar alternativas mais sustentáveis de produção, com a redução ou o uso zero de agrotóxicos. O professor de agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e coordenador do Paraná Mais Orgânicos, Maurício Ursi Ventura, explica que através de técnicas agroecológicas é possível atingir esses modos sustentáveis de produção e evitar o uso de pesticidas, já que “é um processo mais lógico e racional”. Por meio de processos agroecológicos, é possível “reduzir a incidência da praga e, eventualmente, utilizar uma medida que possa ser corretiva”.

Para além das questões ambientais que envolvem alterações no solo e, também, da questão de saúde do produtor caso não seja utilizado de maneira correta, o uso intensivo dos agrotóxicos faz surgir novas pragas e aumenta a resistência delas aos pesticidas. Ao investir em técnicas alternativas, é possível evitar que isso aconteça, além de acabar compensando financeiramente, como conta Ventura:

“Às vezes, você aplica um produto entre um dos mais antigos dos inseticidas e ele não é seletivo, é mais barato. Futuramente, ele vai provocar ressurgência dessa praga, porque vai matar os inimigos dela e os inimigos naturais dela também, fazendo com que ela volte depois de um tempo. Ou surtos secundários, quando aparece uma outra praga. Aí você tem um biológico, que é mais caro de início, só que você vai aplicar apenas uma vez”.

Há vários tipos de técnicas alternativas aos agrotóxicos, como o controle biológico, adubação - pela compostagem ou húmus, que são ricos em micro-organismos que vão promover a resiliência da planta - e empresas que vendem controle microbiano (fungos, bactérias, vespinhas, lagartas).

Na plantação de tomate, por exemplo, em que se tem pragas tradicionais como a mosca branca e Traça-do-tomateiro, em um sistema orgânico de produção a incidência delas é menor. Algumas técnicas como a adubação, biodiversidade e quebra de vento, como explica Ventura, possibilitam isso.

Apesar de serem técnicas mais comuns em pequenos cultivos ou em produções familiares, se engana quem pensa que não pode utilizar, também, em grandes culturas, como a soja ou a cana-de-açúcar. A cana orgânica já ocupa aproximadamente 40 mil hectares divididos entre os estados de São Paulo e Goiás, que dentre as técnicas utilizadas para o controle de pragas tem-se a adubação verde. A soja orgânica também é uma realidade, por meio de um cultivador mecânico que faz o controle de mato em grandes extensões.

Produtores têm buscado 
alternativas mais sustentáveis de produção, com a redução ou o uso zero de agrotóxicos
Produtores têm buscado alternativas mais sustentáveis de produção, com a redução ou o uso zero de agrotóxicos | Foto: iStock

No caso da soja, mudar o modelo de produção também é uma saída, trocar o método tradicional da monocultura pelo controle integrado. Segundo Dionisio Gazziero, pesquisador da Embrapa Soja, é importante fazer a rotação de culturas para utilizar com mais facilidade outros mecanismos de ação contra as plantas daninhas. “Você tem um benefício em um sistema como o todo, inclusive da vida do solo.”

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