Os alimentos orgânicos e de base agroecológica já estão presentes em 62% das escolas estaduais paranaenses e sendo consumidos por 70% dos alunos desses estabelecimentos de ensino. Atualmente, são 1.309 unidades escolares de 315 municípios beneficiadas, que atendem a cerca de 700 mil alunos, 70% do corpo discente da rede estadual no Estado.

O fornecimento desses alimentos é exclusivamente feito pelos agricultores familiares. Para este ano, serão fornecidos 15 grupos de alimentos, entre frutas, hortaliças, temperos, pães, leite, iogurte, suco e polpa de fruta, feijão, arroz, morango, milho para pipoca, ovos, entre outros. Serão contratados diretamente da agricultura familiar R$ 120 milhões em alimentos para atendimento de 2022 até junho de 2023.

O desafio assumido pelo Estado é estender o benefício para todos os estudantes do sistema estadual de ensino fundamental e médio até 2030.

O número de famílias fornecendo orgânicos para as escolas saltou de 1.460 em 2021 para 1.901 neste ano, um crescimento de 30% em um ano. O crescimento foi motivado pela alteração nos novos contratos, com início em abril deste ano e validade de um ano e meio.

Antes, era necessário haver no mínimo 50% de certificados orgânicos por fornecedor. Neste ano, a exigência baixou para 10%. Tal mudança ampliou a oferta de alimentos orgânicos nas escolas, passando de 191 no ano passado para 315 municípios neste ano.

A coordenadora de planejamento da alimentação escolar da Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvimento da Educação), nutricionista Andréa Bruginski, explica que, considerando que há contratação de quantidades por grupos de alimentos, à medida que o produto fornecido naquela semana é orgânico, ele substitui o produto que seria convencional.

“Por exemplo: nesta semana, a escola deve receber 100 kg de frutas. Se a fruta disponível para entrega for orgânica, não haverá entrega de convencional. À medida que haja expansão da contratação de orgânicos processados (arroz, feijão, fubá, leite e carnes), os quantitativos irão substituir os convencionais. Afinal, a meta é que 100% da alimentação escolar seja orgânica. Dessa forma, a substituição de alimentos convencionais por orgânicos será gradativa”, explica.

A coordenadora acrescenta que, como os volumes adquiridos pela alimentação escolar são bastante elevados (anualmente são adquiridos em torno de 20 milhões de quilos de alimentos pelas escolas estaduais paranaenses), os primeiros a integrarem a alimentação escolar foram as frutas, verduras, pães e sucos.

“Contudo, a produção de alimentos de origem animal é um desafio muito maior, visto que envolve outras cadeias de produção de orgânicos, como soja e milho, por exemplo, ainda muito reduzidas em relação à necessidade”, observa ela.

Andréa explica que a produção em larga escala de carnes, leite e ovos deve levar muitos anos para acontecer. “Além disso, são itens que chegam a ter preços 5 vezes superiores aos convencionais. Então, esses serão os últimos itens que deverão integrar a alimentação escolar. Para termos uma ideia de volume, cada entrega de carnes (bovina, suína, ave, peixe) representa 100 mil kg de produto, ou seja, em torno de 12,6 milhões de quilos ao ano. O mercado de carne orgânica ainda não tem produção para tal atendimento”, conclui.

EXEMPLO

O Colégio Estadual Dom Orione, de Curitiba, começou a ofertar orgânicos na merenda há oito anos. Hoje, os produtos livres de agrotóxicos já representam 49% do total de alimentos, entre os quase 7 mil quilos de itens recebidos anualmente.

A lista de orgânicos é vasta e conta com 30 variedades diferentes, incluindo frutas, legumes, pão, suco, doce de frutas e temperos. Ao todo, são beneficiados 785 estudantes do ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano) e do ensino médio.

A lista de orgânicos é vasta e conta com 30 variedades diferentes, incluindo frutas, legumes, pão, suco, doce de frutas e temperos
A lista de orgânicos é vasta e conta com 30 variedades diferentes, incluindo frutas, legumes, pão, suco, doce de frutas e temperos | Foto: Arquivo pessoal - Divulgação

A diretora do colégio, Ana Maria Rosa Veiga, considera que a alimentação orgânica é fundamental para os estudantes. Como ponto principal, ela destaca a saúde do organismo. “Além dos bons nutrientes fornecidos pela alimentação orgânica, a não utilização de agrotóxicos é essencial na prevenção de inúmeras doenças. Outro fator determinante é estimular nossos estudantes a consumirem alimentos mais saudáveis, diminuir o consumo de industrializados e oportunizar para a maioria deles o consumo de alimentos orgânicos que cotidianamente não são encontrados nas refeições familiares.”

Ela relembra que, durante a pandemia, a continuidade da entrega dos alimentos foi muito significativa para os estudantes em situação de vulnerabilidade. “Chegamos a entregar cerca de 90 cestas básicas de 15 em 15 dias, montadas com os alimentos recebidos, dentre eles os orgânicos. Para muitas famílias, essa era a única fonte de alimentação. Além dos estudantes, o programa também valoriza e beneficia as cooperativas e produtores da nossa região”, conclui.

INÍCIO

As escolas estaduais de Londrina começaram a receber alimentos orgânicos a partir de fevereiro deste ano. São frutas e pães adquiridos da Coafas (Cooperativa Solidária de Produção, Comercialização e Turismo Rural da Agricultura Familiar do Norte do Paraná), de Londrina. Ao todo, estão sendo beneficiadas todas as 72 unidades escolares mantidas pelo Estado no município.

O presidente da Coafas, Carlos Roberto Bento, destaca que a cooperativa faz entregas semanais de frutas, pães e biscoitos às escolas. Ao todo, são 2,7 mil quilos de alimentos distribuídos por semana. “Essa parceria é muito importante para a manutenção das famílias dos agricultores familiares que mantêm suas pequenas propriedades rurais”, destacou. Entre os 350 sócios da Coafas, mais da metade deles – 200 – já comercializa parte da produção para as escolas.

DIFERENCIAÇÃO

Em comum, produtos orgânicos e agroecológicos carregam o princípio de não utilizarem defensivos agrícolas na lavoura, apontados pela comunidade científica como um risco à saúde pública. No sistema agroecológico, no entanto, há uma busca por uma maior diversidade produtiva e pelo equilíbrio ecológico. Ou seja, todo produto agroecológico é orgânico, mas nem todo produto orgânico é agroecológico.

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