Alimente o gado no inverno - Robson José Curty
PUBLICAÇÃO
sábado, 22 de janeiro de 2000
OPINIÃO
Alimente o gado no inverno
Robson José CurtyQue ações eficazes estão sendo realizadas, neste momento, por você, a fim de provisionar a alimentação necessária para que o rebanho continue em produção e crescimento numérico e corporal nos próximos meses?
As decisões estão adequadas para não repetir as cenas regionais, com rerses esqueléticas em perambulação ineficaz dentro de cercados empoeirados, sem a presença de um relvado digno de um ruminante?
A sua atitude será, ainda aquela, de contar com a sorte ou se fazer de vítima das circunstâncias?
Em nossa região (Norte do Paraná) as pastagens começaram a retomar tardiamente o seu ciclo produtivo, a partir da segunda quinzena de dezembro, devido às chuvas ainda irregulares e mal distribuídas. O rebanho perdeu massa corporal no inverno passado e ainda não a recuperou. Se enfrentarmos um próximo inverno rigoroso, a rotineira improvisação não será suficiente para atender um problema tão comum que pertence somente a quem possui e explora economicamente aqueles animais.
Frente às frequentes e já conhecidas alterações climáticas, é muito importante não delegar suas responsabilidades a vontade divina quando o prático e correto é assumir a tarefa e pôr a mão na massa dos seus interesses, já que não é novidade.
Os efeitos da carência alimentar são maiores do que qualquer confisco ou dano inflacionário. São reses que somem, não nascem e isto acontece sem roubo ou morte. Quem já procurou dimensionar os efeitos diretos e indiretos deste permanente, imenso e sutil prejuízo gerencial?
Por muito tempo estamos insistindo com nosso público que o estoque alimentar animal deve ser feito para um perído mínimo de 24 meses. É decisão primária antes de adquirir a primeira cabeça para o seu futuro rebanho. Os frigoríficos e laticínios compram matéria-prima por unidade de peso (kg de carne ou de leite). Não existe outro modo. O desafio alimentar é do tamanho do rebanho a ser projetado.
É preciso fazer planejamento forrageiro, mas tem muita gente discursando ou colocando prioridade em sentido inverso, procurando melhor raça de gado e o capim de maior resultado. Tais preocupações resolvem a questão alimentar? Qual é sua valoração do que seja prioritário? Procedem estas atenções? Sabemos que a melhor raça é aquela que possui igual oportunidade alimentar; idem para o capim quanto à fertilidade do solo. Estamos em cima de uma área de forte transição climática, onde se somam os aspectos negativos de verão e inverno (veranico/geada).
A correta gestão é fator de sobrevivência para aqueles que já saíram da tomada de decisão apenas na ciranda da variação de preços de seus produtos. Tempo é dinheiro. Gordura fica como desperdício, maior produção em menor espaço e tempo se contrapõem a menores preços pagos. Qualidade sempre será amante da quantidade e o inverso não pode ser verdadeiro. A fome oculta traz interrupções nefastas no crescimento, maturação reprodutiva, anestro, produção, aumento de doenças e óbitos. O reflexo claro é a perda de renda que desestrutura todo tipo de planejamento.
Enquanto isso, tem lavradores que sabem trabalhar bem os seus excedentes ou com plantios de forrageiras, conservando-os para os momentos de escassez. Assim tiram vantagem da sua previdência e não especulam com o clima ou fazendo roleta-russa frente às incertezas. O momento é de plantar, adquirir, reformar, vedar, reservar, conservar, adubar, ajustar, compartilhar, estocar, etc.
Conforme cada caso, converse com o técnico que lhe dá assistência. Veja com ele suas possibilidades, organize suas intenções e as transforme em atitudes (ações).
Esperamos estar errados nessa predição, mesmo assim todo alimento a mais não será em vão. É impossível existir dois anos consecutivos bons.
Pelo lado humanitário é uma barbarie deixar animais destinados ao consumo nobre perecerem por falta do mínimo necessário ao seu padrão zootécnico. É prato cheio, no setor jurídico, para as ONGs ligadas à área animal e com sobra para os órgãos oficiais no aspecto sanitário. Raramente animais em estado selvagem passam fome.
Alimentação suplementar com visão apenas invernal é procedimento esteriotipado dos países frios. O alimento conservado visa atender na nossa realidade tropical e subtropical as lacunas de baixa produção forrageira das pastagens nativas e artificiais.
O autor é médico-veterinário da Emater em Maringá.