Cristina Côrtes
De Londrina
Algumas propriedades na região de Londrina, Norte do Estado, comprovam mais uma vez os benefícios do Sistema de Plantio Direto com rotação de culturas, no desenvolvimento das lavouras, mesmo com as condições adversas provocadas pela estiagem que atingiu a região no período de plantio da safrão de verão 99-2000.
Na região da Warta (distrito do município de Londrina), na propriedade de Yussaboro Koga, a diferença entre a soja cultivada no plantio convencional e aquela plantada sobre uma boa palhada é bem visível. Como o produtor está iniciando no Sistema de Plantio Direto, ele tem as duas sojas, lado a lado. As duas foram plantadas na mesma época, utilizando-se a mesma variedade, os mesmos insumos e fica fácil constatar a diferença de desenmvolvimento entre as duas, que enfrentaram o mesmo período de estiagem.
RotaçãoNa área com melhor desenvolvimento, o produtor fez a rotação com aveia, depois o milho da safra normal, seguido do milho safrinha e agora a soja.‘‘ Este procedimento garantiu uma abundante palhada. que protegeu o solo contra a perda de umidade, realizando o efeito esponja da matéria orgânica’’, explica o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Ademir Calegari.
Na área ao lado o produtor plantou sobre a palhada do trigo em sucessão de monoculturas e o resultado foram plantas com menor desenvolvimento e estandes falhados. Koga explica que o experimento não foi intencional, e ele também não esperava que acontecesse uma estiagem como essa.
O produtor conhece a prática de plantio direto desde 84/85, mas não foi feliz na sua primeira tentativa porque ‘‘a marmelada tomou conta da área e eu voltei a prática convencional gradeando o solo’’, comenta.
Agora, mais recentemente, há uns três anos resolveu experimentar de novo, utilizando alguns adubos verdes como aveia e guandu. Ainda está em fase de observação, mas a seca deste ano e o desenvolvimento da soja na área de rotação está sendo um forte argumento para que ele amplie a prática para o restante de suas áreas. Nessa propriedade ele plantou este ano 27 alqueires de soja e 9 alqueires de milho.
Para Ademir Calegari a chave do sucesso em plantio direto é a rotação de culturas com adubos verdes. ‘‘O plantio direto sem rotação tem vida curta, e cada propriedade deve identificar qual a melhor sequência de rotação, de acordo com as características da área e condições do solo’’, destaca.
O potencial produtivo da área com rotação é de 90 a 100 sacas por alqueire, e da outra área é de no máximo 60/70 sacas/alqueire, ou seja, suficiente apenas para cobrir os custos de produção.
ParceriasO produtor Yussaboro Koga é associado da Cooperativa Agropecuária de Produção Integrada do Paraná, que vem incentivando nos últimos anos o Sistema de Plantio Direto. Numa parceria entre cooperativa, Iapar e Hokko do Brasil, eles pretendem ampliar as áreas cultivadas nesse sistema, porque os benefícios são muitos.
O técnico da cooperativa, José Roberto Pinto explica que na região de Londrina os produtores sempre foram mais resistentes ao sistema em função das condições do solo. ‘‘Muitos argumentam que o solo da região é muito pesado e não serviria para esta prática, mas aos poucos estão sendo convencidos e esta área do produtor Koga vai receber visitas de outros produtores associados, para que eles conheçam os bons resultados da prática’’, comenta.
A cooperativa também tem trabalhado com os conceitos de manejo integrado de pragas e ervas daninhas, explica o técnico da cooperativa, que está presente em 21 municípios e tem um total de aproximadamente dois mil associados.
Segundo Calegari, as empresas, de maneira geral, estão mais conscientes de que o futuro da agricultura depende de práticas menos agressivas ao meio ambiente. ‘‘As empresas já perceberam que os sistemas de produção mais equilibrados podem consumir menos produtos, mas vão continuar consumindo. E quem está em outros sistemas, está com sua propriedade inviabilizada e acaba saindo da atividade. De acordo com algumas estatísticas, tem havido uma redução grande nas áreas de plantios em função deste problemas’’, comenta.
Outra área que está com desenvolvimento, apesar da estiagem, é a propriedade de Arnold Bartz, em Rolândia, que também utiliza o Sistema de Plantio Direto. São 150 hectares de soja e quase 200 hectares de milho. A soja foi plantada em seguida à safrinha de milho, e segundo Johann Bartz (filho de Arnold) foi plantada no seco entre 10 a 12 de outubro e germinou com as primeiras chuvas depois dessa data. A soja está com uma altura de 80 centímetros aproximadamente.A rotação de culturas, com o fornecimento de boa palhada, mantém a umidade do solo e ajuda a soja a resistir
Ademir Calegari (Iapar), José Roberto Pinto (Integrada) e o produtor Yussaboro Koga conferem o bom desenvolvimento da sojaNas duas fotos é visivel a diferença entre o desenvolvimento da soja na área com rotação e na área com sucessão de monoculturasA quantidade de palhadas deixada pela rotação aveia/milho/milho safrinha manteve a umidade do soloA irrigação com pivô central encarece o custo de produção, mas foi utilizado numa situação de emergência