O banco de sementes de plantas daninhas em uma área pode ser definido como a reserva de propágulos (sementes, bulbos, raízes, rizomas, estolões e tubérculos) viáveis no solo, os quais constituem a garantia de sobrevivência das espécies no local. Esses propágulos dão continuidade às infestações que interferem na produção das safras agrícolas, competindo com as plantas cultivadas e, consequentemente, diminuem a sua produtividade.

A maior ou menor infestação de uma lavoura está diretamente relacionada com o tamanho do banco de sementes do solo, que reflete as práticas agrícolas adotadas pelo agricultor ao longo dos anos, constituindo-se na principal dificuldade para controlar as infestantes, cuja presença está bastante restrita aos primeiros 10 a 20 cm da superfície do solo.

Parece mentira, mas segundo estimativas da pesquisa brasileira, a flora daninha presente em 1m² de solo pode variar entre 2.000 até 70.000 sementes, a depender do ecossistema, sendo aproximadamente 95% destas sementes constituídas por espécies anuais. Uma única planta infestante, como o Sonchus oleraceus, pode produzir até 400.000 sementes por ciclo.

Geralmente, os bancos de sementes são compostos por muitas espécies, mas, via de regra, apenas algumas predominam, constituindo entre 70% a 90% do total da população de infestantes de uma lavoura. Apenas parte das sementes do banco germina e emerge do solo, competindo com as culturas. Grande parte morre antes de emergir, pelo ataque de diversos agentes, principalmente biológicos (fungos e bactérias, entre eles).

O período de sobrevivência das sementes no solo depende da interação entre os fatores genéticos da planta e os ambientais, como profundidade de enterrio do propágulo, tipo de solo e condições climáticas, sendo muito variável entre espécies. Em estudo realizado com 107 espécies de plantas daninhas foi constatado que as sementes de 36 espécies perderam a viabilidade dentro do primeiro ano de enterrio, 35 espécies se tornaram inviáveis entre 1 e 39 anos e as restantes 36 espécies permaneceram viáveis no solo, mesmo após 39 anos de enterrio.

A dinâmica, em termos de tamanho e composição botânica de um banco de sementes no solo depende do balanço entre a entrada de novas sementes e as perdas por deterioração, parasitismo, predação e transporte. A introdução de sementes de infestantes numa área pode ocorrer por diversos meios, como pelo vento, água, maquinário, animais e pelo próprio homem. Este responde pela disseminação de infestantes em seus campos de produção quando opta pelo plantio de sementes de qualidade duvidosa (sem boa procedência).

A mais importante propriedade de uma semente, para perpetuação da espécie, é sua capacidade de permanecer no solo - dormente e viável - distribuindo sua germinação ao longo do tempo e garantindo sua sobrevivência mesmo sob condições adversas. Mas nem todas as sementes têm essa propriedade. Sementes de espécies cultivadas como soja, milho, trigo e arroz, entre outras, perderam essa capacidade durante seu processo de domesticação, resultando nas modernas variedades atualmente cultivadas, e que apresentam pouca ou nenhuma dormência, mas são muito mais produtivas. A dormência é influenciada por fatores genéticos, mas também ambientais, o que explica porque sementes da mesma planta podem apresentar graus distintos de dormência, em ambientes diferentes.

Para prevenir a expansão de espécies de plantas daninhas em áreas cultivadas com plantas transgênicas resistentes ao glyphosate e das áreas de plantio direto, recomendam-se medidas como a rotação de culturas. A rotação de culturas é desejável como estratégia de manejo das infestantes, pois evita a predominância de determinadas espécies e ajuda a manter baixo o nível do banco de sementes. De fato, cada cultura apresenta uma gama de plantas infestantes “associadas”, dada a similaridade de requerimentos quanto a solo, clima, ciclo de vida, competitividade e resistência a herbicidas.

Não é apenas a quantidade de sementes do banco que interfere na população das plantas daninhas. O manejo do solo e da cultura também contribui para uma maior ou menor população de infestantes. O período da entressafra é o melhor momento para eliminar algumas espécies de difícil controle, mas também é um período propício à multiplicação das plantas daninhas e ao aumento do seu banco de sementes no solo.

É muito importante controlar as plantas daninhas no período da entressafra, quando ocorrem boas condições para a sua multiplicação.

Amélio Dall’Agnol e Elemar Voll, pesquisadores da Embrapa Soja

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