Agronegócio: escolhas inovadoras e rentabilidade da terra
PUBLICAÇÃO
domingo, 22 de outubro de 2023
Paulo Sendin
Um princípio básico de economia é a busca do melhor uso possível dos fatores de produção disponíveis. No caso da agricultura, com certeza um dos fatores mais importantes (talvez o mais importante...) é o solo. Além de utilizar técnicas adequadas de uso, manejo e conservação desse fator, a escolha do que plantar define, em grande parte, o que vai ser “colhido” em termos de resultados econômicos.
Segundo o Deral (Departamento de Economia Rural, da Secretaria de Agricultura do Paraná) o município de Londrina utilizou sua área agrícola de forma a obter, em 2022, um VBP (Valor Bruto de Produção) da ordem de R$1,56 bilhões.
Ao se observar em detalhe como foi obtido esse valor, verifica-se que, aproximadamente, 65% dele veio de três explorações vegetais: Soja (40%), Milho (16%) e Trigo (9%).
Considerando que o milho segunda safra e o trigo ocupam, basicamente, as mesmas áreas da soja, pode-se dizer que essas três culturas utilizaram perto de 70.000 hectares.
Por outro lado, dados do IBGE, citados pelo Ipardes em 2017, estimam que as propriedades rurais do município ocupam cerca de 115.000 hectares. Ou seja, essas 3 culturas ocupam em torno de 60% da área das propriedades rurais.
Analisando o valor obtido (VBP) por hectare, com base nesses dados e já considerando a ocupação da mesma área nas safras de verão e de inverno, é possível estimar uma “receita por hectare” em torno de R$14,4 mil.
Comparando-se esse valor com o obtido com outras culturas, ainda com os mesmos dados do Deral, encontram-se possibilidades de receitas muito maiores com produtos olerícolas ou fruticultura. Por exemplo, no caso do tomate (considerando 2 safras) o VBP por hectare chega a R$665 mil, na produção de pepino a R$40 mil e no moranguinho a quase R$90 mil. Em fruticultura, tendo como exemplo uma cultura perene como a Laranja, o VBP pode chegar a R$27 mil (e, neste caso, não há indicações se a área inclui ou não áreas recém-plantadas e sem produção).
Mesmo levando-se em conta as possíveis variações de preços dos produtos olerícolas e seus riscos, pode-se dizer que, se uma pequena parte das áreas utilizadas com as três principais culturas fosse redirecionada para atividades de maior densidade econômica, o VBP do município poderia ser substancialmente ampliado. E, considerando as diferenças de uso de tecnologia e, principalmente, de utilização de mão de obra, com certeza haveria maior circulação dos recursos no âmbito municipal, sem contar as possibilidades de abastecimento local, evitando a aquisição desses produtos vindos de outras regiões.
Esse tipo de conversão produtiva não é fácil, devido a fatores como cultura, tradição e disponibilidade de tecnologias regionalmente adequadas. Mas, poderia ser objeto de políticas públicas locais que envolvessem pesquisa, assistência técnica, logística, compras públicas, crédito, seguro rural, capacitação de mão de obra etc.
Resumindo, um programa voltado à conversão produtiva de áreas agrícolas de Londrina necessitaria de um insumo básico: CONHECIMENTO. Esse insumo envolve inovação tecnológica regionalmente adequada, capacitação em gestão e organização das cadeias produtivas das culturas selecionadas visando o crescimento do VBP de Londrina.
Paulo Sendin, engenheiro agrônomo, membro da Governança AgroValley de Londrina