O casal Douglas Inocêncio Ribeiro e Lucimara Aparecida Ribeiro, de Wenceslau Braz, retornou para a vida no campo após passar alguns anos na cidade. Eles, que nasceram no meio rural, perceberam um espaço para trabalhar na propriedade do pai de Douglas. À época, há cerca de dez anos, o foco era a produção convencional, mas logo os orgânicos entraram na lavoura. Essa é apenas uma das várias experiências que foram apresentadas no “Seminário de agroecologia na sucessão familiar”, realizado pelo IDR-Paraná na 61ª ExpoLondrina, na segunda (10).

André Alves Miguel:  sucessão familiar tem sido um dos maiores problemas enfrentados no campo paranaense
André Alves Miguel: sucessão familiar tem sido um dos maiores problemas enfrentados no campo paranaense | Foto: Gustavo Carneiro

O coordenador estadual do Programa de Agroecologia do IDR-Paraná, André Luis Alves Miguel, explica que a sucessão familiar tem sido um dos maiores problemas enfrentados no campo paranaense. Ainda há uma ocorrência intensa do êxodo rural, ou seja, da migração de pessoas para a cidade. “A gente tem perdido de cinco a seis mil famílias por ano. Eram 300 mil há alguns anos e são 280 mil agora”, explica André. Para ele, a agroecologia, essa perspectiva mais sustentável da produção, tem sido uma alternativa para a permanência das pessoas nas propriedades e para a produção de alimentos.

Frente a esse cenário complexo, o coordenador acredita que o desafio é encontrar sistemas produtivos que, além de não serem tão penosos e exigentes em termos de mão de obra, garantam satisfação para os novos agricultores.

“Para essa volta [para o campo] ter sucesso, a gente precisa gerar renda. Se a gente conseguir aliar essas duas questões, esse perfil que volta, que sai da cidade e vai para o campo, tem uma aversão maior a trabalhar com agrotóxico. Querem sempre fazer uma agricultura mais sustentável”, acrescenta André.

O casal Douglas e Lucimara ilustra bem a união desses dois elementos. Eles produzem seus alimentos orgânicos - entre legumes, folhosas e frutas nas duas propriedades que a família possui - e organizam a comercialização na região.

“Nós vimos que o orgânico teria um encaixe bacana para a gente. Eu casei e eu e minha esposa fomos trabalhar no ramo orgânico. Hoje, graças a Deus, está indo muito bem, conseguimos dar trabalho também para as pessoas. Estamos envolvidos em dez pessoas nessas duas propriedades”, conta Douglas, cujos filhos José Pedro, 7, e Maria Vitória, 5, também acompanham a rotina no campo. “Gostam de estar ao nosso lado, nos ajudando.”

AGROFLORESTA

Formado em design gráfico, Eduardo Carriça dos Santos trabalha desde 2014 com a produção de alimentos orgânicos, junto da sua esposa Gabriela Scolari. Ele é o que pode ser chamado de neorural, já deixou a cidade para ter a experiência no campo.

Formado em design gráfico, Eduardo dos Santos  deixou a cidade para trabalhar na propriedade da família, em Sabáudia
Formado em design gráfico, Eduardo dos Santos deixou a cidade para trabalhar na propriedade da família, em Sabáudia | Foto: Gustavo Carneiro

Carriça conta que a propriedade centenária, em Sabáudia, foi adquirida pelo bisavô de Gabriela e passou por várias gerações da família, tendo sido utilizada para a extração da madeira, cultivo de café, de soja e criação de gado.

“Essa questão da sucessão, do bisavô, avô, pais, tios e agora ela cuidando da terra, como em todos os momentos de sucessão, houve uma mudança de atividade. A pessoa que chegou para cuidar, mudou a atividade do campo”, relata Eduardo, que em 2016 passou a atuar como produtor em tempo integral e, após um curso em Brasília, conheceu o sistema agroflorestal.

“Cem anos depois, a gente está recomeçando o plantio do café, mas em sistema agroflorestal. No Paraná a gente tem um problema seríssimo com geada, então a cada dois, três anos, vem uma geada severa que dizima a produção de café. Tivemos uma perda bem grande de café ano passado no Paraná, cerca de 80% das lavouras, o pessoal precisou recomeçar. Agora estamos começando a fazer o café com foco em larga escala, mas no meio da agrofloresta. As árvores protegem o café da geada, principalmente”, explica.

O agricultor também ministra cursos sobre o sistema agroflorestal para iniciantes. Segundo Eduardo, a maioria dos participantes são jovens entre 25 e 30 anos. “Os jovens têm esse interesse por fazer um novo tipo de agricultura, que agrida menos o meio ambiente, que utilize menos veneno e preserve as matas ciliares”, diz.

Ernestina Muraoka: "O objetivo com nossos produtores é conseguir que eles se viabilizem e exista um retorno dos filhos à atividade rural"
Ernestina Muraoka: "O objetivo com nossos produtores é conseguir que eles se viabilizem e exista um retorno dos filhos à atividade rural" | Foto: Gustavo Carneiro

A engenheira agrônoma Ernestina Izumi Muraoka, que atua em Uraí, explica que ainda há um “paradigma do medo” quando se aborda a agroecologia com produtores. Mas, a capacitação treino-visita, que fomenta esse modelo de cultivo, tem ajudado a mudar esse cenário. “O objetivo com nossos produtores é conseguir que eles se viabilizem e exista um retorno dos filhos à atividade rural, para garantir a produção de alimentos para a população urbana”, conta.

Jovens produzem maracujá orgânico em Ribeirão Claro

Outra experiência de sucesso que une a agroecologia e a sucessão familiar ocorre em Ribeirão Claro. A técnica de extensão rural do IDR-Paraná, Marina Paschoal Pinto Lima, apresentou o projeto para produção de maracujá orgânico realizado com jovens, através do programa Coopera Paraná. Esses produtores estão ligados à APO (Associação de Agricultores de Produtos Orgânicos de Ribeirão Claro) e comercializam as frutas na merenda escolar e em feiras.

Lucimara e Douglas retornaram para a propriedade rural depois de 10 anos, incentivados em produzir orgânicos
Lucimara e Douglas retornaram para a propriedade rural depois de 10 anos, incentivados em produzir orgânicos | Foto: Douglas Kuspiosz

Para Marina, a iniciativa insere o jovem no sistema produtivo e contribui para sua fixação no meio rural. “Eles estão participando de capacitações, cursos, viagens, que indiretamente estão fixando ele no campo”, destacando que isso traz recursos para dentro da propriedade.

A técnica de campo Larissa Brambilla Pinto é um exemplo que deu certo no mesmo município. Após dez anos morando na cidade, ela deixou seu emprego e voltou para o campo, para trabalhar com o pai.

Larissa Brambilla Pinto é bolsista em um projeto com mulheres empreendedoras rurais
Larissa Brambilla Pinto é bolsista em um projeto com mulheres empreendedoras rurais | Foto: Gustavo Carneiro

“Falei: ‘por que eu não posso?’ Tem gente que consegue, eu também consigo. Foi assim que eu pensei”, conta Larissa, que começou justamente pelo programa do Coopera Paraná. “Eu me interessei pelo negócio, mas eu queria algo mais rotativo na produção. Eu fui para a parte da olericultura.” Hoje Larissa está à frente da APO e é bolsista em um projeto com mulheres empreendedoras rurais