De janeiro a setembro, o volume de exportações do complexo da soja também cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano passado
De janeiro a setembro, o volume de exportações do complexo da soja também cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano passado | Foto: Anderson Coelho 15/10/2018

No segundo trimestre de 2020, os casos de coronavírus começavam a sua escalada no Paraná. Foi nesse período que as medidas de distanciamento social empregadas para o controle da pandemia foram empregadas com mais intensidade. No dia 21 de março, o governador Ratinho Junior decretou a suspensão de atividades não essenciais e, no dia 23 de março, decretou estado de calamidade pública em todo o Estado. A partir de então, a economia paranaense entraria em estado de alerta com a paralisação de diversas atividades produtivas.

Considerada essencial, a agropecuária se manteve em atividade e contribuiu sobremaneira para que a economia do Paraná não despencasse. Enquanto a participação do agronegócio na economia brasileira é de 21,4%, o setor é responsável por 33,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do Paraná, segundo dados do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) de 2017. Um estudo realizado pelo Instituto identificou 42 atividades e 99 produtos interligados à cadeia produtiva do agronegócio.

Nos meses de abril, maio e junho, o PIB paranaense teve queda de 7,52% em relação ao mesmo período de 2019. Dentre as atividades que compõem o valor adicionado (PIB menos impostos) do Estado, a agropecuária foi a única que apresentou crescimento, de 9,36%, na mesma base de comparação, alcançando o patamar dos R$ 12 bilhões. O nível de atividade da agropecuária teve queda de 1,52%.

Na avaliação do Ipardes, o crescimento da agropecuária resultou de aumento no volume produzido de soja e de carnes, particularmente a suína.

No acumulado do ano, o valor adicionado da agropecuária chegou a R$ 35 bilhões, com alta de 13,16%. A maior safra de soja registrada no Paraná foi o motivo para a expansão da atividade, diz o Instituto. Já no acumulado de quatro trimestres, a agropecuária atingiu os R$ 45,9 bilhões, com aumento de 11,23%, impulsionada pelo cultivo de soja, pela avicultura e pela suinocultura.

A safra de grãos, o câmbio elevado e a alta dos preços e do consumo de alimentos, na visão do gerente técnico e econômico da Ocepar, Flávio Turra, fizeram da agropecuária uma alavanca para sustentação da economia do Estado. "Tivemos a maior safra de grãos da história do Brasil. Além disso, tivemos um preço bom também, o que é um conjunto de fatores que dificilmente se repete, em especial em período de pandemia. A taxa de câmbio também é um dos parâmetros que dá sustentação aos preços e acaba influenciando uma receita maior. Não só no Brasil, mas também no mundo todo, houve um aumento do consumo de alimentos, que fez com que o setor tivesse melhores remunerações pelos seus produtos."

O auxílio emergencial cedido pelo governo também possibilitou que as famílias mantivessem, e até aumentassem o consumo de alimentos, acrescenta Turra. "E ainda teve o fato de a produção de alimentos ter sido considerada essencial, então não houve interferência na produção."

Agroindústria ajudou a manter e gerar empregos
A safra de grãos, o câmbio elevado e a alta dos preços e do consumo de alimentos fizeram da agropecuária uma alavanca para sustentação da economia do Paraná
A safra de grãos, o câmbio elevado e a alta dos preços e do consumo de alimentos fizeram da agropecuária uma alavanca para sustentação da economia do Paraná | Foto: Ricardo Chicarelli/14/03/17
Para o secretário estadual do Planejamento e Projetos Estruturantes, Valdemar Bernardo Jorge, o campo vai ajudar o Paraná a sair rapidamente da crise gerada pela Covid-19

Valdemar Bernardo Jorge, secretário estadual do Planejamento e Projetos Estruturantes, aponta que a agroindústria foi fundamental para a manutenção dos empregos, e que mesmo durante a pandemia, os investimentos em novas plantas não pararam. "Todas as cooperativas estão mantendo os investimentos em novas plantas para ampliação da capacidade produtiva para o período e 2020 a 2021. O Paraná certamente será o primeiro a sair da crise econômica decorrente da Covid-19." Os investimentos previstos pelas cooperativas do Paraná junto ao Plano Safra 2020/2021 somam R$ 3,5 bilhões, segundo o Sistema Ocepar.

Mesmo com os surtos de coronavírus em frigoríficos do Estado, o secretário afirma que as empresas agiram rapidamente com medidas sanitárias e a produção de frangos não foi afetada. "Em época de pandemia, a alimentação é atividade essencial e o consumo não diminui. Temos responsabilidade de alimentar o Brasil e o mundo."

AVICULTURA

Irineo Rodrigues, presidente do Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná), observa que os casos de Covid-19 não surgiram dentro das indústrias, mas foram trazidos de fora. A testagem realizada nas plantas permitiu que os casos positivos fossem detectados nestes ambientes, dando uma "falsa impressão" de que os surtos aconteciam nos frigoríficos. De qualquer maneira, o afastamento de funcionários pertencentes ao grupo de risco e de colaboradores sintomáticos e de pessoas próximas a eles não prejudicou a produção de frangos. "Contratamos muito mais gente (para substituir os funcionários afastados). A pandemia fez o setor de alimentos empregar mais gente ainda."

De janeiro a setembro, foram abatidas 1,5 bilhão de aves no Paraná, com crescimento de 9% na comparação com o mesmo período de 2019 (1,4 bilhão). A participação da avicultura no valor bruto de produção do Estado subiu de 16% para 20% no último ano. O setor gera 69 mil postos de trabalho, e para cada vaga, são gerados 17 outros empregos indiretos, pontua Rodrigues. "O Estado do Paraná tem uma avicultura muito jovem cuja produção já passa de 36% da produção brasileira. De tudo o que o País exporta de frango, 40% sai do Paraná. A avicultura do Paraná cresceu mais que a média nacional e ajudou na época de pandemia a segurar empregos e a contribuir para a balança de pagamentos do Brasil. E ainda continua investindo."

Volume de exportações em alta

A agroindústria é que vem sustentando a retomada do crescimento da indústria paranaense. Em agosto, a produção industrial do Estado teve alta de 2,9% frente a junho, muito em função da alta do setor de alimentos, que chegou a 15,8% frente ao mesmo período de 2019 e 8,3% nos oito primeiros meses do ano.

"A produção agrícola e a pecuária estão interligadas à atividade industrial - 33%, 34% do PIB da indústria paranaense é composto pela agroindústria, que contribui para a vitalidade da economia do Estado", ressalta Evânio Felippe, economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná).

De janeiro a setembro, o volume de exportações do complexo da soja também cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano passado. Em valores, o crescimento foi de 41%, devido a uma demanda gerada pela China, principal mercado paranaense, diante da retomada de suas atividades econômicas e necessidade de recomposição dos seus estoques de matéria-prima, que ficaram zerados.

"Mais de 50% das exportações paranaenses estão atreladas ao agro. De janeiro a setembro foram exportados US$ 6,6 bilhões, um valor muito expressivo, uma vez que as exportações paranaenses estão acima de US$ 12 bilhões. As exportações têm um peso importante para a geração de dinheiro na atividade econômica. Quanto mais exportamos, maiores as possibilidades de geração de renda e riqueza no Estado do Paraná", comenta Felippe.