Paraná tem 3.300 agricultores de orgânicos cadastrados
Paraná tem 3.300 agricultores de orgânicos cadastrados | Foto: Gustavo Carneiro/09/04/2019

O Paraná é estado com maior número de agricultores orgânicos do País. São mais de 3.300 produtores já certificados, número que cresce a cada mês. Nos últimos 7 anos, dobramos a quantidade de agricultores orgânicos no País, hoje são quase 18 mil. Os dados são do Ministério da Agricultura.

Mesmo assim, ainda não é possível atender a demanda da sociedade por alimentos orgânicos. A maior parte dos supermercados já conta com gôndolas específicas para este tipo de produto, existem diversos serviços de entrega de cestas de alimentos orgânicos a domicílio e o número de feiras com produtores orgânicos certificados se multiplicou pela cidade de Londrina. Se há quem ache que ainda é moda, é o tipo de moda que veio para ficar.

Em 2018, o mercado de produtos orgânicos movimentou mais de R$ 4 bilhões no País, valor que cresce 20% ao ano, mesmo em períodos de crise econômica. Esses valores não permitem mais que o assunto seja tratado como nicho de mercado.

No início de setembro, o governo estadual irá regulamentar lei que estabelece que a merenda servida aos estudantes da rede estadual de ensino deve ser 100% orgânica até o final de 2030. Estão previstos no regulamento incentivos aos produtores que decidirem converter suas propriedades para produção orgânica. Daqui 10 anos, serão mais um milhão e cem mil refeições diárias sendo servidas nas escolas com alimentos exclusivamente orgânicos. O assunto tem sido tratado como prioridade em diversas instituições como a Emater, o Iapar, Fundepar e nas universidades estaduais, por meio do programa Paraná + Orgânico, para planejar junto com os produtores e suas cooperativas como atender a essa demanda.

Contudo, ainda há quem critique a produção orgânica, mas estas críticas são normalmente baseadas em mitos ou em conceitos já ultrapassados. Nas últimas décadas foram gigantescos os avanços em tecnologia de produção voltada para a agricultura orgânica. A despeito dos investimentos ínfimos em pesquisa. A imagem de alimentos orgânicos feios, pequenos, fora do padrão não corresponde mais com a realidade. Hoje, temos propriedades orgânicas com produtividades - e também rentabilidade - superiores ao que conseguem os melhores produtores convencionais, inclusive em culturas consideradas difíceis, como o tomate.

O segredo desse sucesso da produção orgânica passa por ter a natureza como aliada. Em ambientes equilibrados, existem refúgio e alimento para os inimigos naturais, de forma que a incidência de pragas e doenças é menor. A preservação ambiental deixa de ser vista como uma obrigação ou um encargo, como muitas vezes é encarada pela agricultura convencional, e passa a ser uma vantagem, um objetivo. O que é visto na agricultura convencional como problema, para os agricultores orgânicos é um recurso. Em estufas de tomateiro, doenças e pragas são controladas com produtos biológicos que preservam a biodiversidade que se torna aliada, enquanto que o uso de inseticidas sintéticos gera uma espiral: o controle falha, aumenta-se a frequência de aplicação e o controle torna-se cada vez mais difícil.

Outro belo exemplo é o uso de esterco na adubação. Este material, de fato, se mal manejado, possui alto potencial poluidor. Mas a partir do momento em que é incorporado ao solo e utilizado como adubação melhora a fertilidade das áreas de produção, ativa a vida dos microorganismos benéficos do solo e fornece nutrientes às plantas. O nitrogênio presente nos dejetos que iria para a atmosfera na forma de amônia - potente gás do efeito estufa, poluidor -, vira combustível para o crescimento das plantas. Novamente, o que era um passivo ambiental, se torna um recurso valioso. É, portanto, uma forma de amenizar o aquecimento global e não causá-lo, como é feito pela aplicação de N2 sintético (a ureia, por exemplo). Os adubos verde e microorganismos fixadores são técnicas utilizados para prover N2. Formas altamente recomendáveis pelo ponto de vista de sustentabilidade.

A sugestão para quem ainda não acredita que a agricultura orgânica é produtiva e promotora da preservação ambiental, é ir até as feiras, conversar com os produtores e visitar as propriedades orgânicas certificadas, que para obterem a certificação passam por criterioso processo de auditoria onde os mais diversos aspectos produtivos, sociais, trabalhistas, e claro, ambientais são verificados.

Finalmente, é abundante a literatura científica comparando os sistemas convencionais e orgânicos. Qualquer um pode verificar essa literatura, através dos navegadores na internet. No que se refere à qualidade dos solos e biodiversidade, as vantagens dos sistemas orgânicos são patentes. Em grandes culturas, as produções nos sistemas convencionais podem superar os orgânicos em culturas com alta demanda em N2 (milho e trigo, por exemplo) ou com alta incidência de doenças (batata inglesa, por exemplo). Porém, o melhoramento genético e o desenvolvimento da tecnologia da fixação biológica deverá, gradativamente, diminuir ou eliminar essas diferenças, mesmo com investimentos baixíssimos em pesquisa quando comparados aos insumos químicos sintéticos. A sustentabilidade é uma necessidade do nosso tempo. Muitos ainda não entenderam isso. A agricultura orgânica é um caminho sem volta!

Maurício Ursi Ventura, professor doutor do Departamento de Agronomia da (UEL) Universidade Estadual de Londrina.