Agricultura digital já é realidade no Paraná
60% dos produtores já utilizam alguma tecnologia para planejar e gerir a produção; custo ainda é um dos entraves
PUBLICAÇÃO
sábado, 03 de outubro de 2020
60% dos produtores já utilizam alguma tecnologia para planejar e gerir a produção; custo ainda é um dos entraves
Lucas Catanho (Especial para a FOLHA)
A Agricultura 4.0 ou agricultura digital já é realidade nas propriedades do Paraná. Segundo pesquisa recente da Embrapa, em parceria com o Sebrae e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 60% dos produtores rurais paranaenses já utilizam algum tipo de tecnologia para planejar e gerir a produção.
A Agricultura 4.0 refere-se a um conjunto de tecnologias digitais de ponta integradas e conectadas por meio de softwares, sistemas e equipamentos capazes de otimizar a produção agrícola, em todas as suas etapas.
“Existem alguns desafios para implantar ou melhorar o processo produtivo com a agricultura digital, como o valor do investimento para a aquisição de máquinas, equipamentos ou aplicativos, além dos problemas ou falta de conexão em áreas rurais e a obtenção de mão de obra qualificada e especializada no uso dessas tecnologias”, destaca Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária.
O gerente de inovação do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná, Anderson de Toledo, acrescenta que o desenvolvimento da agricultura digital deve ser produto da colaboração entre instituições de pesquisa, empresas/startups e setor produtivo, para que todos ganhem.
“A inserção e a participação desses três atores nos ecossistemas de inovação se tornam primordiais para que todo o potencial destas tecnologias seja explorado adequadamente e tenhamos uma agricultura mais produtiva e sustentável”, destacou.
Acesso
A partir da pesquisa da Embrapa e parceiros sobre agricultura digital realizada neste ano com cerca de 750 participantes em todo o Brasil, observou-se que as tecnologias estão se tornando mais acessíveis para os diferentes níveis tecnológicos dos agricultores. Entre o total de participantes, 8% dos agricultores e 10% das empresas e prestadores de serviços são do Paraná.
“As informações obtidas via participantes do Paraná apontam que as principais tecnologias utilizadas são os aplicativos de celular e programas de computadores; dados de sensores de campo para coletar informações de solo, planta ou clima; sistemas de posicionamento global por satélite (GPS); dados de sensores remotos – satélites e VANTs (veículos aéreos não tripulados) – e máquinas e equipamentos com eletrônica embarcada”, enumerou Bolfe.
O gerente de inovação do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná, Anderson de Toledo, reforça que as novas ferramentas vão gerar muito mais informações do que jamais os produtores imaginariam ter algum dia.
“Não será aceitável no futuro que produtores não façam uso destes dados para melhorar sua produção. Assim, aqueles que não se atentarem para isso ficarão cada vez menos competitivos”, destacou.
Vantagens
Dentre as vantagens percebidas pelos produtores rurais do Brasil e também do Paraná a partir do uso das tecnologias digitais, estão o aumento da produtividade, a maior eficiência da mão de obra e a maior qualidade da produção.
Outro ponto positivo apontado é a otimização no uso de insumos agrícolas e recursos naturais, associada principalmente ao uso de sensores de campo e equipamentos digitais.
“Com relação ao consumidor final, um dos principais benefícios está em receber um produto que agrega os resultados do uso destas tecnologias, obtido a partir de uma produção mais sustentável”, acrescenta o gerente de inovação do IDR.
Com relação ao uso de aplicativos e serviços via web, os agricultores apontaram o melhor planejamento das atividades diárias, a redução de custos e aumento do lucro, a compra de insumos e a comercialização dos produtos, inclusive vendas diretas aos consumidores.
“O uso da internet para várias atividades na propriedade foi apontado como uma das principais funções das tecnologias digitais, com destaque para redes sociais e aplicativos de e-commerce, com foco na venda da produção e alimentos diretamente ao consumidor final, favorecendo os chamados circuitos curtos de comercialização”, declarou o pesquisador da Embrapa.
Tendência
Pensando no futuro, 95% do total dos respondentes indicaram, em nível nacional, ter interesse em receber mais informações e capacitações sobre agricultura digital e suas aplicações.
Édson acrescenta que já existem no mercado diversos aplicativos e softwares, inclusive gratuitos e que podem apoiar o agricultor em diversas atividades, como os aplicativos da Embrapa Zarc - Plantio Certo, Roda da Produção e Dr. Milho, que podem ser encontrados nas lojas de aplicativos. Basta acessar www.embrapa.br/aplicativos.
Expansão
A procura por soluções tecnológicas na agricultura vem se expandindo. O diretor da startup Trace Pack, Renan Salvador, destaca que a tecnologia fornecida pela empresa londrinense já tem projeção de exportação para operações florestais no Chile, Argentina e Canadá. Hoje, a empresa dá respaldo a produtores na colheita de eucalipto e pinus no Brasil.
“Além do setor florestal, clientes produtores de grãos (soja, milho e trigo) entraram em contato para expandirmos a solução para esse grande mercado, pois as soluções disponíveis não estão adequadas à realidade – falta tecnologia ou os valores são inacessíveis a empresas e produtores rurais.”
Segundo ele, a tecnologia deverá ser lançada para produtores de grãos já no primeiro trimestre de 2021.
Tempo real
O sistema criado pela startup faz a transmissão de dados em tempo real de toda a operação, englobando dados de consumo de combustível, horas de máquina trabalhada, hora produtiva, volumes de produção, porcentagem de talhão colhido, entre outras informações. Para ser feita a coleta de dados, é utilizado um dispositivo eletrônico instalado no maquinário agrícola.
“Essa tecnologia proporciona liberdade para que sejam acessados todos os dados de produtividade e eficiência de máquinas em campo, independentemente da fabricante, modelo da máquina ou região de operação.”
Ele explica que o custo de investimento no sistema depende de dois fatores: a quantidade de informações que o cliente precisa receber da máquina no campo e qual a tecnologia de transmissão utilizada, de acordo com a região de atuação do cliente.
“A variação de preço dessa solução fica em torno de 0,5% a 5% do valor da máquina. Um investimento pequeno para um retorno que traz inúmeros ganhos para produtividade e eficiência da operação”, ponderou.
Para utilizar o sistema, o agricultor não precisa ter conectividade na propriedade, já que não é preciso possuir sinal de celular nem torres de rádio. “Temos várias tecnologias de comunicação disponíveis, desde wi-fi a satélite de alta órbita, para não dependermos de infraestrutura pública para transmissão dos dados”, concluiu.