Aconchego
PUBLICAÇÃO
sábado, 24 de agosto de 2024
Estela Maria Ferreira
Os dicionários apontam a palavra aconchego como “chegar umas coisas para junto de outras", mas pode representar também uma expressão de carinho, de acolhimento, um abraço, sensação de segurança, agasalho, abrigo, proteção”.
Poderíamos juntar para aconchegar muitas coisas, mas, de maneira especial juntar as pessoas, umas mais perto das outras para expressar nosso carinho num grande abraço...
Vamos contemplar um pouco desses aconchegos durante a nossa vida, e de quantas vezes precisamos dele e o fomos para alguém.
Ao ver minhas filhas grávidas imaginei que os bebês estivessem confortáveis em suas casinhas dentro da barriga da mamãe e daí para o colo materno e paterno... Que belo início de vida! Ou melhor, que aconchegante!
Quando eu era menina tinha a mania de embrulhar minhas bonequinhas (que eram poucas) quando começava a chover ou fazia frio. E cobrir os bichos da casa - gatos, cachorros, cabritas, galinhas - visando, com algum agasalho, dar-lhes conforto e proteção.
Aí passava a cuidar dos demais brinquedos como se vida tivessem, fazia casa pra eles, brincava que a chaleira e o bule eram os pais da xícara... E, como toda criança tinha meus aconchegos, onde ia para me sentir em segurança. Por esse motivo quando o tempo começava a querer chover ou mesmo quando ia escurecendo, queria estar na minha casa e era para lá que eu corria. Tinha medo de ficar em qualquer outro lugar, queria estar junto dos meus irmãos, da minha avó, para me sentir protegida.
Assim como a galinha aconchega seus pintinhos sob as asas, a gata e a cadela protegem os filhotes, os pássaros chocam em seus aconchegantes ninhos, a mãe Natureza é cheia desses exemplos de proteção extrema. E quando pensamos no desaconchego (não sei se a palavra existe), como é triste ver pessoas desamparadas, crianças sem colinhos, gente passando frio, fome, ao desabrigo, sem abraço, sem acolhimento, desunidas e distantes umas das outras, não tendo uma casa para voltar. Que bom seria bom se pudéssemos chegar mais perto umas das outras, aconchegar...
Assim como os pássaros nos ninhos, os animais bem cuidados, a flor desabrochando e depois a terra aconchegando as sementes, as pessoas em seus lares, ricos ou pobres, palácios ou ranchinhos, desde que estivessem bem aconchegantes no calor do amor verdadeiro! Se é difícil, não sei, mas é possível acontecer. O padre Zezinho, em uma de suas canções com o nome de Utopia, diz com toda sabedoria : “Das muitas coisas do meu tempo de criança, guardo vivo na lembrança o aconchego do meu lar.”
Principalmente nos primeiros e nos últimos anos da vida precisamos desse aconchego, porque vai trazer segurança e felicidade, como se fosse um eterno e caloroso colo de mãe.
O mundo atual anda tão conturbado, sem tempo, muitas pessoas solitárias, “sozinhas na multidão”, sem laços, sem ouvidos para ouví-las, sem ombros para chorar suas tristezas.
Que bom seria se os braços se abrissem em abraços, as bocas em sorriso, o coração em aconchego, para tornar esse mundo mais terno, mais unido, mais fraterno e mais feliz.
Estela Maria Ferreira