A principal ''praga'' da soja
PUBLICAÇÃO
sábado, 08 de janeiro de 2000
Cristina Côrtes
De Londrina
A seca deixa um clima de desânimo entre os produtores de soja que assistem ao fraco desempenho das lavouras e nada podem fazer para mudar a situação. Em várias propriedades visitadas no início desta semana, na região de Londrina, observamos áreas plantadas em épocas diferentes, mas todas com o mesmo aspecto: porte baixo com florescimento antecipado, estande falho e baixa germinação.
A maioria dos produtores comenta que nunca viram um ano tão ruim de chuva como este. E, segundo o agrônomo Fernando Adegas, da Emater de Londrina, eles têm razão em afirmar isto. A falta de chuva este ano foi pior, porque não foi só o mês de novembro, época recomendada para início do plantio, que ficou seco. Desde agosto, setembro e outubro, os índices pluviométricos já eram baixos, e o solo não tinha mais nenhuma umidade acumulada, explica.
PreocupaçãoNas primeiras chuvas de outubro foram plantados 40% das áreas que sofreram bastante com a estiagem do mês de novembro, levando muitos a fazerem o replantio. Depois tivemos chuvas novamente no final de novembro e final de dezembro, com os produtores terminando seus plantios, informa Adegas.
Como as épocas indicadas para o plantio não puderam ser seguidas, o agrônomo comenta que o potencial de produção das variedades utilizadas já deve ser reduzido em mais ou menos 10%. Agora, somando este fato ao fraco desenvolvimento das plantas, Adegas estima que a quebra de produção na região deve ser superior a 30%.
Segundo a agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Vera Zardo, o plantio de soja no Paraná foi, praticamente, encerrado em final de dezembro, totalizando uma área de 2 milhões e 826 mil hectares, 2% a mais em relação à previsão inicial. Segundo ela, a estiagem fez com que muitos produtores, impedidos de plantar o milho, migrassem para a soja. Por enquanto a estimativa de produção média é de 7,5 milhões de toneladas. Os técnicos da Seab ainda não trabvalham com dados de perdas. Sabemos que existem bolsões de seca no Norte do Estado, mas no Sul as chuvas têm sido normais, e as informações que nos chegaram até semana passada não registra previsões de quebra, comenta Vera.
Expectativa ruimO produtor Carmo Céu cultiva soja há mais de 25 anos na Warta, município de Londrina. Tem 10 alqueires plantados há 40 dias e já está começando a fazer aplicação de veneno, preocupado com a lagarta-da-soja. A planta já está com desenvolvimento fraco e se a lagarta atacar, eu não vou colher nada, explica o produtor. No ano passado ele colheu nessa área 125 sacos/alqueire, mas já está esperando uma quebra de até 30% na produtividade.
Wilberto Leo Janz, da mesma região, plantou seus 60 alqueires em duas datas. O primeiro plantio foi em 20 de outubro e o último há 15 dias. Não está esperando colher mais do que 100 sacas/alqueire, índice baixo para quem na última safra foi destaque de produtividade na região. Assim como Carmo do Céu, Wilberto está preocupado com o aparecimento de pragas e já está fazendo aplicações. Joguei 30% a mais de sementes no plantio, mas mesmo assim houve falhas na germinação. E agora estou gastando aproximadamente R$40,00 por alqueire, com aplicação. Não sei se vou conseguir cobrir esses custos todos com a colheita, comenta.
Para o produtor Urbano Fávaro, a realidade não é diferente. Só que plantou toda a sua área, 27 alqueires, nos dias 15 e 17 de dezembro. Jogou 20% a mais de sementes e diminuiu o espaçamento, para tentar melhorar o estande. Segundo o técnico da Emater, Paulo Roberto Mrtvi, que acompanha as lavouras nesta região, mesmo em áreas com plantio direto, o desenvolvimento está deixando a desejar. As pragas ainda não começaram a aparecer, e os produtores estão se precipitando em fazer aplicações, comenta.
RecomendaçõesPara o agrônomo Fernando Adegas não há muito o que recomendar agora, para os produtores. Mesmo que as chuvas se normalizem a partir de agora, a soja que floresceu com porte baixo não tem mais recuperação. Então, o que podemos dizer aos produtores é que racionalizem seus custos e aplicações daqui para frente, para evitar prejuízos maiores, diz Adegas.O desenvolvimento das lavouras de soja no Norte do Paraná enfrenta uma praga de díficil controle: a falta de chuvas
Mesmo com o aumento do número de sementes no plantio os estandes apresentam falhas e baixa germinaçãoProdutores preocupados iniciam as aplicações de veneno, para combater a lagarta-da-sojaWilberto Leo Janz mostra o tamanho em que a soja deveria estar nesta época, se tivesse chovidoNem as áreas de plantio direto conseguiram suportar a estiagem que na região de Londrina começou em agostoUrbano Fávaro plantou no último prazo, entre dias 15 e 17 de dezembro, e sabe que mesmo que chova o potencial de produção será menorSecaO produtor Carmo Céu cultiva soja há quase 30 anos e nunca viu seca tão forte nesta época, na região

