Já faz muito tempo que achamos que a China era um país distante. Era.

Quantas vezes, quando éramos crianças, perguntávamos a nossos pais onde era a China e eles diziam, exemplificando a distância, que fazendo um buraco no chão, chegando do outro lado da terra, era a China.

Quando a gente era criança, no sítio, as questões astronômicas eram o dia para trabalhar e a noite para dormir. Acordava-se com o canto do galo ou antes e, à noitinha, à luz de lamparinas jantava-se ao som dos grilos. Dormir cedo e acordar cedo.

O outro lado do mundo parecia bem distante. Hoje a China parece tão perto.

Primeiro a China chegou a nós com seus produtos tão encantadores e preços baixos. No início da década de noventa, os brinquedos e os eletrônicos e tantas outras coisas começaram a ficar mais acessíveis a todos. As empresas de vários países começaram a se mudar para lá atraídas pela mão-de-obra mais barata. Leis trabalhistas e ecologia? Isso já é mais difícil saber pois é um país muito fechado em certos assuntos.

Parece que esquecemos que o mundo é um ecossistema. Assim como um aquário. O que afeta lá também se reflete aqui. As indústrias que contaminam o meio ambiente lá contaminam aqui também. Assim como aconteceu com a Amazônia há algum tempo e foi alvo de muita crítica internacional.

Consumimos produtos vindos da China e ficamos dependentes de sua industrialização. Quem diria que um país comunista praticasse tanto capitalismo? Hoje a China é o grande gigante da economia mundial. Um dragão voraz. E dentre os dez maiores portos do mundo, oito deles estão da China.

Agora a China , além de seus produtos atraentes e preços baixos possui alta tecnologia. Computadores e tecnologia 5G, está enviando foguetes para o espaço, tem satélites e celulares com reconhecimento facial.

Infelizmente veio de tão longa distância um vírus tão mortal como o coronavírus. E, pior,em forma de pandemia que mudou a rotina do mundo e das pessoas. Vai mudar o futuro. Mudará a nossa maneira de viver, trabalhar e de nos relacionarmos em sociedade e dentro de casa. Os chineses também já sofreram muito com o vírus.

Tínhamos medo de asteroides que viessem e nos extinguisse como os dinossauros. Mas o problema é um minúsculo ser invisível que nos amedronta e cria uma neurose moderna.

Estamos como nas cidades da antiguidade, Herculano e Pompéia, à sombra do vulcão Vesúvio que foi coberta de cinzas e imortalizou seus habitantes em suas rotinas diárias. Comeram, beberam, trabalharam e amaram até o último minuto pois nada mais lhes restava fazer. Não adiantava desespero. Era simplesmente viver a vida, seu dia a dia. Hoje para se proteger é usar as máscaras , evitar aglomeração e não por a mão na boca ou nos olhos, lavar as mãos a toda hora.E conviver com o perigo .

Não houve no mundo antigo conquistador e na idade moderna um ditador que se igualasse em poder como o coronavírus, pois apavora países e trancafia pessoas em suas casas com um isolamento social jamais visto.

Fazer previsão do futuro nesse momento não é nada adequado, mas uma coisa é certa: nada mais será como antes. Mesmo assim, a capacidade de resistência e adaptabilidade do ser humano é imensurável pois é dotado de um diferencial único: inteligência. E é com isso que contamos nesse momento, a ciência, além de algo que supera o medo e nos traz esperança: a fé A conjunção destes dois fatores desencadeiam nossa capacidade de resistência a qualquer coisa que queira nos destruir.

Antigamente, no sítio, não havia muita medicina e tampouco tantos médicos como hoje, muitas pessoas faziam seus chás de ervas, caldos de galinha e alimentos especiais para as doenças de sua época. Quando não havia jeito para algumas coisas, o recurso era ir às benzedeiras, pessoas piedosas que faziam orações pelas pessoas.

Sobrevivemos de muitos modos e vamos sobreviver também hoje pois a incerteza é um mistério e é isso nos move: a busca em saber tantas perguntas, grandes ou pequenas. Grandes como o universo ou invisíveis como um vírus.

Dailton Martins, leitor da FOLHA