A inovação e a tecnologia estão no cerne do agronegócio brasileiro. E as práticas sustentáveis, que cada vez mais pautam o trabalho do agricultor, tendem a nortear o setor produtivo nos próximos anos. A agricultura do futuro foi discutida em uma das palestras do AgroBit 2024, que movimentou Londrina na segunda (11) e terça-feira (12).

Uma das participantes do evento foi a chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Soja (Centro Nacional de Pesquisa da Soja), Carina Rufino, que ressalta que o agro sustentável precisa produzir bem, mas deve manter a responsabilidade com o meio ambiente. Essa é uma preocupação indispensável em meio às mudanças climáticas, que já causaram perdas para o setor nos últimos anos.

“Isso tem se intensificado e é um grande desafio para a agricultura, porque o produtor sofre as consequências imediatas. Ele precisa se adaptar para que continue produzindo alimento, pois manter a estabilidade da produção é uma questão de segurança alimentar”, afirma Rufino, que garante que o agricultor pode - e deve - ser parte da solução na agenda climática.

“O produtor pode contribuir para mitigar as emissões com as tecnologias que ele vem adotando, como o plantio direto, sequestrando o carbono da atmosfera e fixando no solo. Temos um grande desafio pela frente quando olhamos para essa temática da agricultura e enfrentamento climático”, acrescenta.

É nesse contexto que a Embrapa Soja está liderando o desenvolvimento do PSBC (Programa Soja Baixo Carbono), cujas diretrizes técnicas, que já foram apresentadas pela empresa, vão gerar uma certificação. A partir da utilização das chamadas “boas práticas”, como o SPD (Sistema Plantio Direto) e o manejo integrado de doenças e de pragas, observa-se um potencial de redução de 30% das emissões. A previsão é que o selo seja disponibilizado ao mercado em 2026.

Carina Rufino: "Temos um grande desafio pela frente quando olhamos para essa temática da agricultura e enfrentamento climático”
Carina Rufino: "Temos um grande desafio pela frente quando olhamos para essa temática da agricultura e enfrentamento climático” | Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

“É importante ter uma certificação atrelada ao sistema de produção porque vivemos um momento que, mais que parecermos sustentáveis, temos que demonstrar. A cadeia de produção está muito longe do consumidor, temos uma série de elos e precisamos ter garantias. Quando você desenvolve um programa de certificação, você está trazendo um elemento de confiança e mais objetividade para a sustentabilidade”, ressalta Rufino.

A chefe de transferência de tecnologia aponta que o selo traz uma régua para bonificar o produtor que se diferencia do sistema modal tradicional. Entre os benefícios estão o financiamento com taxas reduzidas, programas de crédito de carbono - ainda muito iniciais - e vantagens no seguro agrícola, por ser um perfil de menor risco. Antes de tudo isso está a resiliência do sistema de produção, que tem maior resistência aos extremos climáticos.

"É importante diversificar [as culturas], porque aumenta a palhada no solo, eu crio uma reserva de água e deixo o solo com uma biologia melhor. Tem uma série de benefícios decorrentes do uso da tecnologia. A nossa expectativa é que, com a certificação, a gente reconheça esse produtor que hoje já está acima desse baseline, que já é de referência", completa.

‘AGRO VERDE’

O professor Admilton Gonçalves, do Departamento de Microbiologia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), apresentou as soluções biológicas como mais uma das ferramentas necessárias para uma agricultura sustentável.

O professor Admilton Gonçalves: soluções biológicas como mais uma ferramenta para agricultura sustentável
O professor Admilton Gonçalves: soluções biológicas como mais uma ferramenta para agricultura sustentável | Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

“Nós trabalhamos com uma inovação pesada dentro do conceito do desenvolvimento de tecnologias defensivas embarcado com nanotecnologias ou com moléculas bioativas. Tudo isso no conceito de trazer uma solução defensiva biológica, diferente daquilo que já se tinha até então no mercado”, afirma Gonçalves.

Na sua avaliação, é preciso ter “algo com diferencial” quando se fala em biológicos para o controle de doenças ou pragas, com produtos que funcionem no ato da aplicação.

“Esse é o tipo de trabalho que nós desenvolvemos, trazendo para a sociedade, para a agricultura, uma solução biológica com diferencial de mercado. Além disso, produtos fertilizantes para diminuir a dependência que temos, por exemplo, de fertilizantes químicos. Então, acho que a agricultura do futuro é uma junção de várias ferramentas que vão desde o manejo até a utilização de soluções biológicas com alta tecnologia embarcada”, reforça.

O professor acredita que o agro brasileiro está no momento certo para fazer essa discussão, pois as soluções tecnológicas estão disponíveis no mercado. É o caso das ferramentas de análise do solo e os bioinsumos.

A conscientização do agricultor, acredita Gonçalves, parte também da comunicação, levando informações de forma mais efetiva para o campo.

“Nós precisamos trazer essa informação, também, mais traduzida, de forma que nós consigamos fazer com que uma maior parte desses produtores comece a utilizar cada vez mais essa agricultura sustentável”, pontua o professor, que é enfático ao dizer que “o agro do futuro é verde”.