Imagem ilustrativa da imagem Você sabe dizer o que é real?
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A sociedade contemporânea tem sido palco de uma transformação tecnológica em que o virtual e o real estão cada vez mais integrados. Muito antes da popularização da internet, o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard apontava que o virtual só pode existir a partir do momento em que o real existe. E que os dois são inseparáveis.

Um exemplo disso é a ferramenta de pagamentos online Pix, lançada recentemente pelo Banco Central. O pagamento ou transferência de dinheiro são feitos totalmente por meio eletrônico. Mas o dinheiro existe na vida real, já que toda moeda precisa ter um lastro. Com esse dinheiro eletrônico é possível adquirir mercadorias que existem fisicamente, como roupas, eletrônicos, e que, de fato, chegarão a nossas mãos. Para negociar em sites de vendas, muitas vezes é feita uma transação por comunicação realizada por aplicativos de mensagens ou mesmo nas ferramentas de mensagens instantâneas que os próprios sites possuem. A comunicação é virtual e a pessoa com que se negocia é real. Ou um bot, que foi programado por uma pessoa real para uma empresa conduzida por humanos.

A professora aposentada da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Linda Bulik, é doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de Paris II (Sorbonne), com tese defendida com o título de As Doutrinas Da Informação No Mundo De Hoje. Concluiu Pós-Doutorado em Comunicação, na Universidade de Paris VIII, com a pesquisa A Comunicação Do Homem Em Situação De Representação e conversou com a reportagem sobre o tema. “Quando Jean Baudrillard contrapôs esses termos em sua obra Simulacro e Simulação (1981) certamente não poderia imaginar o giro que o mundo daria com o advento da internet e o surgimento da das redes sociais. Segundo ela, o discernimento entre o que é real e não é depende do referente e de referenciais. “A nossa percepção do real passa pela educação, pela cultura, pela sociedade na qual vivemos.”

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Questionada sobre como analisa os realities shows, as redes sociais, jogos de vídeo game e a distorção de realidade na qual estamos vivendo ou só reagindo, ela diz que não é só uma questão de escapismo. “A internet é uma infovia onde muitas pessoas diferentes se encontram virtualmente realizando trocas inimagináveis em um encontro presencial. O paradoxal é que esse ambiente virtual trouxe um relaxamento dos costumes, uma liberação tão grande, ao ponto de muita gente se desconectar do limite ético imposto pelo social.” Segundo ela, um exemplo pode ser observado nas redes sociais, onde certas pessoas se sentem muito à vontade para sustentar o que é insustentável para outras. “Refiro-me ao que acontece em plataformas do Google, do Facebook, do Instagram e outras – que vão de informações falsas a agressões pesadas. Por outro lado, no que tange aos realities shows e jogos de vídeo games a questão é outra por se tratarem de ficção.”

“O Brasil parece ser o único país que ainda mantém o BBB televisivo. Quanto aos realities shows, que surgiram no streaming, particularmente na Netflix, parecem ser um fenômeno relacionado à temporada da Covid-19. A pergunta que se poderia fazer é por que as pessoas ainda são fisgadas por esse tipo de programação. Questionada sobre esse fetiche pela realidade que tira as pessoas da realidade e as joga para o simulacro de Baudrillard feito um tufão, ela diz que isso é fruto de um imenso vazio com que se defronta muita gente e também uma sociedade fraturada. “Essa fratura social expõe as pessoas ao tufão – como você diz – da pós verdade”, apontou.

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