Já quase escutamos os sinos e os fogos de artifício. Este ano, ao contrário de 2020, a expectativa para grande parte dos brasileiros é passar as festas de final de ano ao lado da família e daqueles que gostam. Mas com tantas coisas que aconteceram nos últimos anos, o que devemos ou não fazer nas festividades?

Imagem ilustrativa da imagem Tretas do fim de ano: afinal, pode falar de política nas festas familiares?
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Aglomerações e espirros

Ano passado muitas pessoas passaram o Natal e a virada do ano novo sozinhas ou somente com as pessoas que dividiam a casa, devido à Covid-19. Contudo, a situação este ano já é diferente, temos quase 62% da população vacinada com as duas doses ou a dose única contra o coronavírus, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde. Por isso a expectativa de reunir a família e amigos próximos é grande.

Mas isso já é seguro? “Natal e Ano Novo com a família, todos completamente vacinados, os idosos já com a dose de reforço, sim já podemos considerar”, afirma a infectologista e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Gabriela Gehring. Para a alegria de muitos, a médica infectologista diz que beijos e abraços estão liberados, desde que as vacinas contra a Covid-19 estejam com 15 dias desde a aplicação. Gehring alerta que “grandes aglomerações, com muitos desconhecidos, como o carnaval, no meu ponto de vista e de muitos médicos, ainda não é seguro, ainda existe o risco de adoecer muitas pessoas.”

“Não é porque você está com as duas doses que não vai ter a doença”, garante Gehring. Por isso, ao menor sinal de gripe, nariz escorrendo, febre, dores no corpo, dores de garganta, tosse e outros sintomas que podem ser da Covida-19 não está permitido ir as festas de final de ano sem um teste PCR negativo. A médica infectologista reforça que somente com as duas doses da vacina a imunização é maior, e para os que já podem tomar a terceira dose de reforço que façam o quanto antes, para proteger a si e o resto da população, uma vez que somente a imunização da maior parte da população diminui as chances de variantes se desenvolverem.

Falar de política

Infelizmente, o espírito natalino não cai sobre todos e muitos já vão preparados para os aborrecimentos por política nas festas de fim de ano. Ou para escutar o tio chato falando e ignorar para não estragar o clima das festas. Mas qual dos dois é o certo? Confrontar e falar o que pensa ou deixar para lá e manter a paz no churrasco?

A doutora em sociologia pela Unicamp Fernanda Di Flora argumenta que o debate político é inerente aos seres humanos e pensando que a família é uma das instituições mais importantes da sociedade a conversa se torna inevitável. Contudo, para a doutora em sociologia não significa que entrar no assunto “política” com a família seja sinônimo de briga. Ao contrário, muitas pessoas se interessaram por política, se posicionaram politicamente ou se envolveram por movimentos sociais por influência familiar. E complementa falando que a divergência política é algo esperado dentro de uma democracia.

E não se engane, aquele velho ditado “política e futebol não se discute” é um equívoco. Di Flora explica que futebol está na esfera privada, ou seja, o que compõe a individualidade de cada um. Já a política está na esfera pública, é algo que envolve toda população, independente da pessoa se interessar ou não. Ao afirmar que não se discute política, está se autorizando que outros pensem e façam no seu lugar. Não se interessar pela política e não estar aberto ao debate leva ao que o sociólogo Bertolt Brecht afirma ser o analfabeto político, algo muito perigoso para uma democracia, assegura Di Flora.

Andrio Robert, doutorando em Educação pela UFPR não acredita que festa de família seja o ambiente correto para discussões por política. Para ele o enfrentamento, o confronto, o embate como forma de diálogo e convencimento exige estratégia, e o calor das emoções do seio familiar nem sempre é favorável. Robert também lembra que nem sempre as pessoas que estão discutindo estão abertas para o diálogo e para mudar de opinião. “Uma boa conversa exige um ambiente e um contexto propício. Sem isso é só direcionamento em vão de energia e argumentação. Ninguém vai se ouvir”, afirma.

O contexto polarizado que estamos vivendo nos últimos anos causa um fenômeno do amigo e inimigo de acordo com Di Flora. Para a socióloga, caso haja grandes divergências em reuniões familiares, a solução não é atacar, mas “ouvir e dialogar a partir de quais são as inquietações das pessoas reunidas... O embate dos argumentos diretos é uma coisa que não funciona em situações extremadas”, garante. A polarização extremada que vem crescendo nos últimos sete anos, como analisa Di Flora, diminui a possibilidade do diálogo, com isso “se o diálogo está obstaculizado a gente não pode pensar em aperfeiçoar a democracia”.

E você, já sabe se Papai Noel te traz um debate tranquilo, uma briga ou uma ignorada nessas festas de final de ano?

*Supervisão Patrícia Maria Alves (editora)