No dia 26 do mês passado um trecho do eixo norte da transposição do rio São Francisco foi inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro. A obra já havia sido inaugurada, mesmo inacabada, pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), em março de 2017. Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT) também fizeram uma inauguração simbólica, para ressaltar que o projeto foi alavancado em seus governos. Mas ainda assim a transposição continua incompleta. O orçamento inicial de toda a obra era de R$ 4,5 bilhões e logo aumentou para R$ 12 bilhões.

Imagem ilustrativa da imagem Transposição do Rio São Francisco continua incompleta
| Foto: Isac Nobrega/PR

O engenheiro Francisco Jácome Sarmento, professor do departamento de engenharia civil e ambiental Universidade Federal da Paraíba, relatou que muitas empresas no Brasil têm atitude pouco elogiável. “Elas pegam uma obra grande e fazem a parte mais lucrativa e deixam o ‘osso’ para trás, justamente aquilo que não dá lucro. É o que aconteceu em 90% dos casos nessa transposição”, apontou.

“Esses ‘ossos’ ficarão mais caros quando forem relicitar. Ficaram serviços difíceis, complexos e permeados por incertezas em termos de subsolo e geologia”, apontou. Ele ressaltou que a obra física dos dois eixos permanece inconclusa, tanto no Norte como no Leste. “O Bolsonaro inaugurou um trecho de 16 km de uma obra de 700 km no total, composto por um túnel, uma galeria de 1500 metros e um trecho de canal de 13 km. O mérito dele foi ter dado sequência à obra, já que nem o eixo Leste e nem o Norte tiveram as obras de drenagem concluídas e deixá-los como estavam poderia destruir trechos imensos de canal que já estão prontos”, apontou.

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| Foto: Isac Nobrega/PR

Segundo ele, difundiu-se que agora a água chega à Paraíba e ao Rio Grande do Norte. “Mas ela não chega nem perto. Nem até 2022 seria concluído, mesmo se o governo federal priorizar com toda a ênfase e sem contingenciar recursos. Levariam no mínimo três anos, mas ainda não fizeram nem a licitação do projeto e só depois disso seria possível licitar a obra”, apontou. Segundo ele, não são obras pequenas. “O projeto prevê uma vazão capaz de abastecer uma cidade do tamanho de São Paulo duas vezes, mas isso está longe de acontecer”, apontou.

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No ano passado Campina Grande (PB) teve um colapso no seu sistema de abastecimento de água e teve de usar a água bombeada da transposição do Rio São Francisco. Sarmento ressaltou que o projeto de transposição não foi concebido apenas para ser usado como solução emergencial em períodos de seca, mas para o desenvolvimento regional. “ Mesmo inconclusa, com registro de arrombamento de barragens e outros acidentes que ocorreram, o eixo Leste foi acionado e salvou mais de meio milhão de habitantes que habitam Campina Grande, que não tem como ser atendida com carro- pipa”, apontou.

Mapa do projeto de Transposição do Rio São Francisco
Mapa do projeto de Transposição do Rio São Francisco | Foto: Folha Arte

”Muitos projetos de desenvolvimento regional não vieram, porque a obra se arrastou. A transposição seria a redenção de toda aquela região e a obra não caminhar representa um cenário preocupante e um desperdício de recursos. Mesmo que a obra caminhasse, qual o plano de desenvolvimento que Pernambuco tem? Não fez projeto algum. Ceará e Rio Grande do Norte muito menos. Claro que a prioridade é o abastecimento hídrico para os seres humanos em primeiro plano, mas não deve ficar limitado a isso. Alguém tem que fazer uma coisa para mudar isso”, destacou.

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| Foto: Ministério da Integração Nacional

Sarmento ressaltou que na elaboração do projeto foi realizado um estudo de viabilidade ambiental e financeira e só foi aproveitado porque o projeto se mostrou viável. “Se a obra tivesse concluída a paisagem não teria mudado? O desenvolvimento não teria caminhado a passos mais largos? Quanto mais tempo demorar, mais dinheiro vai se gastar nela", apontou. Um exemplo dado pelo engenheiro de execução de obra na transposição são as estações elevatórias. "Foram instaladas bombas nas três estações elevatórias. Cada bomba delas eleva as águas a 60 metros de altura. Cada estação dessas só tem uma bomba, mas estavam previstas 10 bombas dessas. E mesmo se quisessem, elas não podem ser instaladas , porque esse canal cruza vários trechos de rio por meio de aquedutos e só foi executado um deles. Precisariam implantar todos os aquedutos previstos no projeto”, destacou.

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