Construída em um loteamento fechado em Londrina, esta residência projetada pelo escritório Zani Arquitetura utiliza a técnica tradicional de construção em madeira, mesclada à alvenaria
Construída em um loteamento fechado em Londrina, esta residência projetada pelo escritório Zani Arquitetura utiliza a técnica tradicional de construção em madeira, mesclada à alvenaria | Foto: Fotos: Zani Arquitetura/Divulgação



Olhares atentos por Londrina descobrirão pequenos tesouros encravados entre prédios e casas de alvenaria. Com muitos anos de história e memórias de décadas atrás, as casas de madeira ainda sobrevivem, embora lentamente estejam cedendo seu espaço na paisagem.

Arquiteto, pesquisador e professor universitário em Londrina, Antonio Carlos Zani conta que por ser um material abundante na região e permitir uma construção rápida, a madeira foi fundamental na colonização de Londrina e todo o Norte do Paraná.

"Na década de 1940 até 1970, a madeira foi importantíssima. As casas eram em madeira, a igreja, hospital, tudo era em madeira. As pessoas chegavam e tinham pressa em se instalar, então a madeira dava uma resposta rápida, tanto na zona urbana quanto na zona rural. Na zona rural você tinha que montar as colônias, a sede, a estrutura de trabalho e isso era muito rápido. A madeira mais usada era a peroba-rosa, que era a mais disponível aqui, havia outras, mas a principal era a peroba-rosa", explica.

Ele conta que para evitar a umidade do solo, as casas eram construídas soltas do chão, apoiadas sobre pilares de madeira no início e alvenaria, posteriormente. As tábuas eram colocadas lado a lado e sobre o vão ia a mata-junta, uma tábua menor, que fechava o vão.

Imagem ilustrativa da imagem Tesouros em madeira



"Era muito interessante porque você tinha na época várias serrarias em Londrina. A pessoa ia na serraria, falava quanto por quanto era a casa, davam a madeira já cortada e ela montava com o carpinteiro a casa rapidamente. Não tinha nada em alvenaria, o banheiro era fora, depois que veio para dentro e isso dava uma rapidez (na obra). Era um abrigo rápido."

Já na década de 1970, segundo Zani, a madeira começa a se tornar escassa, fica mais cara, a mão de obra já não é mais tão facilmente encontrada e as construções passam a ser de alvenaria. O arquiteto lamenta que hoje as pessoas já não valorizem as casas de madeira, existindo inclusive um preconceito social em relação a esses imóveis. "Existem muito poucos exemplares (em madeira), o que é uma pena, porque ainda se você demolisse em um lugar e construísse em outro, mas não. Demoli-se e vende (a madeira) para empresas para fazer móveis, vai até para fora do Estado", diz.

Além de trabalhar com diversos projetos feitos em madeira, o próprio escritório de arquitetura é feito do material. Antes de ser o local de trabalho, o espaço foi a residência da família.

Não são todos, entretanto, que veem com bons olhos esse tipo de imóvel, havendo inclusive restrições para construções em madeira em alguns locais, como condomínios fechados. "Mesmo usando métodos construtivos modernos, populares em outros países como Japão, Alemanha e Estados Unidos, não aceitam a construção", diz ele.

Técnica usa madeiras de reflorestamento

Os arquitetos Maria Ineida, Antonio Carlos e Thiago: família Zani também trabalha com o método wood frame, cujo diferencial é levar para o canteiro de obra as peças já cortadas nos tamanhos necessário
Os arquitetos Maria Ineida, Antonio Carlos e Thiago: família Zani também trabalha com o método wood frame, cujo diferencial é levar para o canteiro de obra as peças já cortadas nos tamanhos necessário | Foto: Marcos Zanutto



Graças ao desenvolvimento de modernas técnicas construtivas, hoje é possível construir até pequenos prédios em madeira. Chamada de wood frame, o grande diferencial da técnica é levar para o canteiro de obra as peças já cortadas nos tamanhos necessários, o que traz rapidez e menor geração de resíduo. Além disso, para fechar as paredes são utilizadas placas, o que resulta na aparência final de alvenaria.

A arquiteta Maria Ineida Zani explica que apesar de já termos construtoras no Brasil utilizando esse sistema, não há nenhum imóvel em Londrina construído por ele.

Antonio Carlos Zani destaca que a madeira é um material muito resistente, sendo necessário apenas evitar o contato com a água. Por esse motivo, as construções são feitas sobre apoios, como no método tradicional. O sistema, segundo ele, foi desenvolvido no Brasil a partir da década de 1980 e não é igual ao americano.

"Se você for ver, cada material tem seu cuidado específico. É um cuidado diferente em relação aos imóveis de alvenaria, não que seja mais ou menos", explica Maria Ineida.

Os projetos são desenhados pelo escritório da família Zani e executados por uma construtora de São Paulo. Cada peça é feita de lâminas de madeira coladas. "É utilizada madeira de reflorestamento, uma técnica mais sustentável, uma tecnologia mais rápida e que inclusive permite grandes peças e também peças curvas. Elas são cortadas no chão de fábrica, levadas para o canteiro da obra, içadas e montadas", detalha o arquiteto Thiago Zani.

Se antigamente as casas eram feitas com madeira oriundas de floresta, como a peroba-rosa, hoje podem ser utilizadas madeiras nobres de manejo, como o cumaru e a itaúba. Já neste sistema industrializado a madeira é a de reflorestamento, como eucalipto e pinus, com crescimento mais rápido. "São mais leves e com um valor inclusive mais em conta do que a madeira de lei, mas resistentes", diz Thiago.

Maria Ineida aponta que uma construção pode ficar pronta em até um terço do tempo do que se fosse feita em alvenaria e embora o custo seja até 30% maior, principalmente pela logística de deslocar as peças até aqui, no final pode compensar, já que o gasto com retirada de resíduos será menor.

"Nessa técnica você tem a estrutura de madeira, depois as chapas que vão fazer as paredes, que podem ser pintadas ou revestidas. Essa estrutura é tratada para umidade e cupins. O painel externo é em placa cimentícia e o interno em gesso acartonado, no meio fica a estrutura e é onde você coloca o isolamento termoacústico, partes elétricas e hidráulicas. Como não é necessário abrir a parede para fechar novamente, há menos resíduo. A lage também é uma estrutura de madeira, no mesmo sistema e pode receber qualquer revestimento depois", conta a arquiteta.