| |

Folha Mais 5m de leitura

Seriam as criptomoedas uma onda valiosa para surfar?

ATUALIZAÇÃO
01 de dezembro de 2020

Bruno Codogno (estagiário)*
AUTOR

Um marco histórico foi alcançado pelo mercado de criptoativos no Brasil, na contramão da recessão econômica causada pela pandemia, a onda de valorização de diversas criptomoedas tem seduzido muita gente a depositar a atenção nesse mercado. Somente em novembro, o Bitcoin, criptoativo mais popular em todo o mundo, alcançou o valor recorde de R$ 101 mil em novembro, enquanto outras moedas digitais, como a XRP e a Ethereum, alcançaram números significativos de valorização.

 

O fundo de investimento Pantera Capital, um dos principais mediadores financeiros americanos em blockchain e criptoativos, emitiu um relatório no último dia 20 sobre o crescimento, com destaque ao Bitcoin, do mercado de criptomoedas. Segundo o documento, o crescimento de 158% do valor do Bitcoin, em cotação por dólar, é produto da divisão política após as eleições dos Estados Unidos da América e a pressão sobre o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, para maior impressão de papel-moeda para suprir a crise. O valor das criptomoedas, por mais que o dólar possa sofrer desvalorização pelo maior número de cédulas em circulação, não perde o valor conforme a decisão econômicas. 

EXPANSÃO INTERNACIONAL 

No Brasil, a cotação do Bitcoin, por consequência, chegou ao crescimento de 254% em relação ao real. Quem confirma a influência do recorde de impressão do dólar sobre o mercado cripto internacional é o CEO da Foxbit, uma das principais corretoras de criptomoedas do Brasil, João Canhada. “Nunca se imprimiu dólar como esse ano e as pessoas começam a buscar ativos de refúgio, como commodities ou ouro, coisas que possam manter seu poder de compra em caso de uma inflação descontrolada”. Segundo ele, a criptomoeda pode ainda ser um ativo mais atrativo que o ouro, por exemplo, pelo maior leque de investimentos possíveis. 

 

A valorização das criptomoedas também é produto de uma dinâmica interna a cada moeda digital. No caso do Bitcoin, o “Halving” é o mecanismo que reduz pela metade a emissão da criptomoeda a cada 4 anos, a “Copa do Mundo” do mercado de criptomoedas: “inicialmente, eram gerados 50 Bitcoins a cada 10 minutos em 2009. Essa escassez progressiva garantida pelo algoritmo influencia fortemente no seu preço”, explica Canhada. Com a oferta de criptomoedas em redução e a demanda em alta pela crescente adesão de consumidores, os valores das criptomoedas crescem também. 

Outro motivo para a valorização das criptomoedas foi a integração da investidora online PayPal ao comércio de Bitcoins. “A base de usuários do PayPal já compõe a maioria dos compradores de Bitcoins no mundo hoje, cerca de R$ 100 milhões em negociação por dia. Com essas notícias positivas ao mercado, somadas à escassez, a demanda cresce e deve continuar elevando o preço do ativo”. 

A adesão às criptomoedas já capitaliza mais de US$ 400 bilhões no mundo, conforme cálculos do banco JP Morgan. No entanto, para Canhada, o Brasil e outros países emergentes ainda não possuem influência direta na precificação dos ativos digitais. “O Brasil representa menos de 1% das negociações diárias de Bitcoin, perdemos 40% do nosso poder de compra em 2020 e o Bitcoin internacional subindo bastante, então a gente só faz os ajustes conforme a cotação do dólar”. 

MAS NEM TUDO É UMA PISCINA DO TIO PATINHAS 

Apesar da presença em todos os países, da crescente maturidade do mercado e das oportunidades de investimento, o professor e economista Sinival Osorio Pitaguari alerta sobre o caráter especulativo das criptomoedas. “Como o preço de todas as mercadorias, ele varia conforme oferta e demanda. Pode chegar em um patamar em que não haverá expansão da demanda por criptomoedas, o valor não terá mais expansões e elas perderão parte do seu valor relativo em comparação a outras moedas”. 

De fato, o período em ascensão do valor de criptoativos na última semana foi cortado por uma queda brusca na última quinta-feira (26). A cotação do Bitcoin estava próxima de US$ 19,5 mil e chegou à baixa de US$ 16,3 mil, o que marcou uma desvalorização de 15% em poucas horas. Outras criptomoedas também tiveram queda ou cerraram “boa onda” da valorização contínua. XRP, Litecoin, Cardano e outras criptomoedas tiveram correção de preço e os valores reduzidos. 

Para Pitaguari, o descolamento entre propriedades concretas e ativos digitais também pode ser problemático. Ele analisa que as criptomoedas não são capazes de cumprir as funções básicas das moedas tradicionais e podem não servir como unidade de medida, intermediário de troca entre mercadorias ou reserva de valores. “O Bitcoin está correndo paralelo às moedas tradicionais e que têm aceitação no sistema monetário internacional. O aumento na circulação de Bitcoins significa que outra moeda vai circular menos”. 

 

Os impactos macroeconômicos também podem não ser firmados apesar da grandeza de valores apresentada pelas “explosões” das criptomoedas. “O efeito maior de multiplicação da moeda é quando o governo emite moeda, isso pode gerar emprego, produção e renda se a economia estiver em desemprego ou gerar inflação se estiver em pleno emprego. Mas a substituição de uma moeda por outra por si só não gera impactos macroeconômicos.” 

Por fim, ele alerta sobre a desregulamentação do mercado de criptomoedas e como a expansão sem supervisão de órgãos públicos mediadores: “A criptomoeda, por ser desregulamentada no mundo inteiro, facilita casos de lavagem de dinheiro, corrupção e o grande problema é que nesse meio fica muito difícil separar o joio do trigo no momento de fazer o investimento bem-intencionado”. 

*supervisão de Patrícia Maria Alves (editora)

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS