Um marco histórico foi alcançado pelo mercado de criptoativos no Brasil, na contramão da recessão econômica causada pela pandemia, a onda de valorização de diversas criptomoedas tem seduzido muita gente a depositar a atenção nesse mercado. Somente em novembro, o Bitcoin, criptoativo mais popular em todo o mundo, alcançou o valor recorde de R$ 101 mil em novembro, enquanto outras moedas digitais, como a XRP e a Ethereum, alcançaram números significativos de valorização.

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O fundo de investimento Pantera Capital, um dos principais mediadores financeiros americanos em blockchain e criptoativos, emitiu um relatório no último dia 20 sobre o crescimento, com destaque ao Bitcoin, do mercado de criptomoedas. Segundo o documento, o crescimento de 158% do valor do Bitcoin, em cotação por dólar, é produto da divisão política após as eleições dos Estados Unidos da América e a pressão sobre o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, para maior impressão de papel-moeda para suprir a crise. O valor das criptomoedas, por mais que o dólar possa sofrer desvalorização pelo maior número de cédulas em circulação, não perde o valor conforme a decisão econômicas.

EXPANSÃO INTERNACIONAL

No Brasil, a cotação do Bitcoin, por consequência, chegou ao crescimento de 254% em relação ao real. Quem confirma a influência do recorde de impressão do dólar sobre o mercado cripto internacional é o CEO da Foxbit, uma das principais corretoras de criptomoedas do Brasil, João Canhada. “Nunca se imprimiu dólar como esse ano e as pessoas começam a buscar ativos de refúgio, como commodities ou ouro, coisas que possam manter seu poder de compra em caso de uma inflação descontrolada”. Segundo ele, a criptomoeda pode ainda ser um ativo mais atrativo que o ouro, por exemplo, pelo maior leque de investimentos possíveis.

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A valorização das criptomoedas também é produto de uma dinâmica interna a cada moeda digital. No caso do Bitcoin, o “Halving” é o mecanismo que reduz pela metade a emissão da criptomoeda a cada 4 anos, a “Copa do Mundo” do mercado de criptomoedas: “inicialmente, eram gerados 50 Bitcoins a cada 10 minutos em 2009. Essa escassez progressiva garantida pelo algoritmo influencia fortemente no seu preço”, explica Canhada. Com a oferta de criptomoedas em redução e a demanda em alta pela crescente adesão de consumidores, os valores das criptomoedas crescem também.

Outro motivo para a valorização das criptomoedas foi a integração da investidora online PayPal ao comércio de Bitcoins. “A base de usuários do PayPal já compõe a maioria dos compradores de Bitcoins no mundo hoje, cerca de R$ 100 milhões em negociação por dia. Com essas notícias positivas ao mercado, somadas à escassez, a demanda cresce e deve continuar elevando o preço do ativo”.

A adesão às criptomoedas já capitaliza mais de US$ 400 bilhões no mundo, conforme cálculos do banco JP Morgan. No entanto, para Canhada, o Brasil e outros países emergentes ainda não possuem influência direta na precificação dos ativos digitais. “O Brasil representa menos de 1% das negociações diárias de Bitcoin, perdemos 40% do nosso poder de compra em 2020 e o Bitcoin internacional subindo bastante, então a gente só faz os ajustes conforme a cotação do dólar”.

MAS NEM TUDO É UMA PISCINA DO TIO PATINHAS

Apesar da presença em todos os países, da crescente maturidade do mercado e das oportunidades de investimento, o professor e economista Sinival Osorio Pitaguari alerta sobre o caráter especulativo das criptomoedas. “Como o preço de todas as mercadorias, ele varia conforme oferta e demanda. Pode chegar em um patamar em que não haverá expansão da demanda por criptomoedas, o valor não terá mais expansões e elas perderão parte do seu valor relativo em comparação a outras moedas”.

De fato, o período em ascensão do valor de criptoativos na última semana foi cortado por uma queda brusca na última quinta-feira (26). A cotação do Bitcoin estava próxima de US$ 19,5 mil e chegou à baixa de US$ 16,3 mil, o que marcou uma desvalorização de 15% em poucas horas. Outras criptomoedas também tiveram queda ou cerraram “boa onda” da valorização contínua. XRP, Litecoin, Cardano e outras criptomoedas tiveram correção de preço e os valores reduzidos.

Para Pitaguari, o descolamento entre propriedades concretas e ativos digitais também pode ser problemático. Ele analisa que as criptomoedas não são capazes de cumprir as funções básicas das moedas tradicionais e podem não servir como unidade de medida, intermediário de troca entre mercadorias ou reserva de valores. “O Bitcoin está correndo paralelo às moedas tradicionais e que têm aceitação no sistema monetário internacional. O aumento na circulação de Bitcoins significa que outra moeda vai circular menos”.

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Os impactos macroeconômicos também podem não ser firmados apesar da grandeza de valores apresentada pelas “explosões” das criptomoedas. “O efeito maior de multiplicação da moeda é quando o governo emite moeda, isso pode gerar emprego, produção e renda se a economia estiver em desemprego ou gerar inflação se estiver em pleno emprego. Mas a substituição de uma moeda por outra por si só não gera impactos macroeconômicos.”

Por fim, ele alerta sobre a desregulamentação do mercado de criptomoedas e como a expansão sem supervisão de órgãos públicos mediadores: “A criptomoeda, por ser desregulamentada no mundo inteiro, facilita casos de lavagem de dinheiro, corrupção e o grande problema é que nesse meio fica muito difícil separar o joio do trigo no momento de fazer o investimento bem-intencionado”.

*supervisão de Patrícia Maria Alves (editora)